BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O músico e compositor Lô Borges tinha uma agenda cheia de shows pela frente e planejava lançar discos nos próximos meses, afirmou o irmão Yé Borges durante o velório do artista nesta terça-feira (4), em Belo Horizonte.

Yé, que se considera como o irmão mais próximo de Lô, disse que os dias de internação foram muito difíceis.

“Conversamos pouco [durante a internação], mas ele estava surpreso e não esperava que fosse estar na situação em que se encontrava, foi uma decepção muito grande. Ele tinha projetos, show marcado com o Zeca Baleiro no Recife”, disse o irmão.

Um dos nomes mais inventivos da MPB das últimas décadas e um dos formadores do Clube da Esquina, o artista morreu no último domingo (2), aos 73 anos, na capital mineira.

Ele estava internado desde o dia 17 de outubro em decorrência de uma intoxicação medicamentosa e morreu após a falência de múltiplos órgãos, segundo a unidade Contorno do hospital Unimed, onde ele estava internado.

“O Lô era um cara muito alérgico, não podia nem passar perto de dipirona”, afirmou Yé à rádio mineira Itatiaia nesta terça (4). Disse ainda que o irmão tomava remédios com prescrição, mas passou mal numa noite e vomitou.

O velório ocorreu nesta terça no Palácio das Artes, aberto ao público -não autorizado a fazer fotos nem vídeos. O sepultamento foi restrito a amigos e familiares.

Yé Borges afirmou que o irmão “compunha compulsivamente” e ainda tem quatro discos prontos que estavam para serem lançados. “[Eles] vão ser lançados, têm que ser lançados, porque essa obra não pode ficar engavetada, tem coisas geniais que ele fez. Então nós vamos ter que ver com a produção para a gente lançar”.

O irmão ainda lamentou a morte, a seu ver, repentina de Lô, e disse que a repercussão da morte do irmão traz um alento para a família.

Durante a cerimônica, Augusto Nascimento, filho de Milton Nascimento, um dos maiores parceiros de Lô, afirmou que o pai ainda não sabe da morte. Por recomendação médica, a família de Bituca irá avisá-lo sobre isso no sábado (8), para quando está marcada uma consulta de rotina.

“É uma coisa que vai abalar ele profundamente. O Lô era como o irmão caçula dele. Então eu e o médico escolhemos, pelo momento que estamos passando, contarmos juntos para ele [Milton], porque se tiver alguma intercorrência ele estará assistido e seguro”, disse Augusto.

Na manhã de segunda, a equipe que cuida das redes sociais de Milton publicou uma nota em nome dele, lamentando a perda.

O baixista Thiago Corrêa, que fazia parte da banda de Lô Borges, caracterizou o colega como uma “mente inquieta”, em busca de novas sonoridades.

“Ele foi produzindo mais discos do que conseguia lançar na realidade do mercado, então ele lançou um por ano, mas gravou dez discos para a gente”, disse Corrêa. O músico disse ainda não saber como será a divulgação desses álbuns ainda não lançados.

Zeca Baleiro afirmou na cerimônia que ter sido o último parceiro de Lô em disco lançado em vida representa para ele uma “mistura de honra e pena”.

“Me sinto presenteado pelos céus por ter sido o último parceiro do Lô, ainda que isso tenha uma dose de tristeza [pela sua morte]”, disse. “Ele inventou um jeito de fazer música, assim como outros artistas. A partida dele representa o fim de uma linhagem, de uma estirpe de compositores, essa herança beatle, mistura com o barroco mineiro”.

Salomão Borges Filho nasceu em 10 de janeiro de 1952, em Belo Horizonte, e tinha dez irmãos numa família com vínculos musicais fortes. Ainda adolescente, nos anos 1960, passava a maior parte do tempo no bairro de Santa Tereza com os amigos, tocando violão em rodas que privilegiavam o repertório dos Beatles, o grupo predileto de todos.

Essa relação evoluiu para a formação do que se chamou Clube da Esquina, um movimento musical que integrava influências de música mineira, rock, samba e até uma pitada de psicodelia.

No time, além de Lô estavam seu irmão Márcio Borges, que ao lado de Fernando Brant e Ronaldo Bastos era um dos letristas da turma, os cantores e compositores Beto Guedes e Flávio Venturini, o guitarrista Toninho Horta, o pianista e arranjador Wagner Tiso e o baixista Novelli. À frente do grupo, Milton Nascimento, que já gravava discos individuais e tinha um sucesso nacional, a canção “Travessia”.