SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em forte alta, de 0,77%, cotado a R$ 5,399, nesta terça-feira (4), com os investidores buscando proteção na divisa norte-americana diante das preocupações com o cenário econômico global.
No exterior, a redução das apostas em futuros cortes de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) e declarações de executivos de Wall Street alertando para preços elevados no mercado de ações americano embalaram o pregão.
No Brasil, analistas acompanharam o primeiro dia da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que definirá a taxa básica de juros.
A maior aversão ao risco do pregão não freou o desempenho da Bolsa brasileira, que fechou com alta de 0,16%, a 150.704 pontos. O Ibovespa também registrou uma nova máxima intradiária de 150.888 pontos.
Na véspera (3), o Ibovespa, índice de referência da B3, fechou em 150 mil pontos pela primeira vez, em alta de 25% no ano. A Bolsa repetiu o feito nesta terça, mas sem o mesmo vigor.
O cenário doméstico espelhou, em grande medida, os pregões do exterior, com uma aversão global ao risco. O índice DXY, que compara a força da moeda norte-americana a outras seis divisas pares, subiu 0,35%, a 100.226 pontos.
Nesta manhã, executivos de Wall Street disseram prever uma queda de 10% no mercado de ações dos EUA em até dois anos. Os executivos do Capital Group, Morgan Stanley e Goldman Sachs afirmaram ver a possibilidade, apesar de contemporizarem que retrações são normais.
Em paralelo, falas de autoridades do Fed sinalizam que o banco central dos EUA não deve realizar um novo corte na taxa de juros americana em dezembro.
Na segunda-feira (3), Stephen Miran, indicado por Trump, afirmou que a política monetária está “excessivamente restritiva”. Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, por outro lado, disse não saber como votará na reunião do próximo mês.
O momento é particularmente sensível para o BC americano que se vale dos números da economia para decidir sobre a taxa de juros.
Sem a referência das publicações oficiais do governo, a autoridade se abastece de relatórios laterais para decisões de política monetária, embora reconheça que a ausência de dados “padrão-ouro” limita a visibilidade sobre a atividade.
Na reunião da semana passada, o Fed estendeu o ciclo de cortes de juros em mais uma redução de 0,25 ponto percentual, repetindo a dose do encontro anterior, e levou a taxa à banda de 3,75% e 4%.
Novos cortes não estão garantidos. “Longe disso”, afirmou o presidente da autarquia, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a decisão. “Houve opiniões muito diferentes sobre como proceder em dezembro”, disse ele.
As autoridades do Fed reconheceram as limitações impostas pela paralisação do governo, e Powell afirmou que a solução para isso é adotar cautela. “O que você faz quando está dirigindo sob neblina? Você diminui a velocidade”, disse.
Segundo Leonel Mattos, os posicionamentos das autoridades do Fed têm feito os investidores apostarem menos em um corte de juros em dezembro. “Esse movimento tem elevado os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, o que favorece a atração de investidores estrangeiros para o dólar e valoriza a moeda a nível global”, afirma.
João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, concorda. “O mercado deixou de considerar cortes mais agressivos, e isso faz com que a taxa de juros americana fique mais competitiva”.
De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, investidores veem uma chance de 71% de um corte de 0,25 ponto na reunião de 10 de dezembro.
Por aqui, investidores acompanham a reunião do Copom do Banco Central para definir os juros brasileiros.
O Copom se reúne nesta terça e quarta-feira (5) para decidir sobre a taxa básica do país, hoje em 15% ao ano. O consenso do mercado é de manutenção do atual patamar até o fim de 2025, segundo o Boletim Focus desta segunda.
Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, os operadores do mercado financeiro estão particularmente atentos ao comunicado da decisão. “Eles querem saber se o BC revelará quais serão os critérios e exigências necessárias para começar um ciclo de corte novamente”.
Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender a queda dos juros.
“Eu não sou diretor do Banco Central. Se eu fosse, eu votava pela queda, porque não se sustenta 10% de juros reais”, afirmou o ministro em evento realizado em São Paulo nesta manhã de terça-feira (4).
No encontro passado, o Copom afirmou que manterá a Selic alta por tempo “bastante prolongado” para que a inflação convirja ao centro da meta de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.
No Focus, o mercado ainda previu a taxa de juros em 12,25% no próximo ano, em 10,5% para 2027 e em 10% para 2028.
Caso a taxa de juros se mantenha a 15% e a taxa dos EUA a um patamar mais baixo, os ativos domésticos devem ser favorecidos pelo diferencial de juros. Quando a taxa nos Estados Unidos cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”.
Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, também chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.




