BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – O Ministério da Fazenda quer criar um fundo de ao menos US$ 1,4 bilhão (R$ 7,6 bilhões) para apoiar projetos de transição energética no país, como a produção de hidrogênio verde e terras raras.
A iniciativa busca dar tração a empreendimentos listados no ano passado em uma plataforma do governo, mas que por envolverem setores de risco ainda não conseguiram atrair capital privado suficiente.
O governo brasileiro quer disponibilizar inicialmente US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões) por meio de uma parceria entre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o GCF, fundo da ONU com foco em negócios que tentam conter a mudança climática.
O banco estatal ficaria responsável por investir até 20% do total captado, enquanto o fundo da ONU investiria o restante de forma catalítica, quando os financiadores não buscam lucrar com a operação.
A ideia da Fazenda é que esse recurso inicial ajude a mobilizar US$ 1 bilhão de investidores comerciais e de instituições financeiras de desenvolvimento. Os recursos serão aportados por meio de participações no capital das empresas.
“A gente identifica alguns gargalos que precisam ser atacados para a gente facilitar e fazer o papel da plataforma, que é ajudar a mitigar os riscos dos projetos, trazer os atores internacionais e alavancar capital privado”, diz Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais da Fazenda.
A BIP, como é chamada a plataforma criada em 2024, funciona como uma espécie de selo do governo federal e do BNDES para projetos ligados à transição energética que buscam financiadores privados. O objetivo é que a plataforma sirva de vitrine para investidores estrangeiros interessados em aportar capital nesse setor.
A plataforma engloba 15 projetos que juntos preveem investimentos de US$ 22,6 bilhões (cerca de R$ 122 bilhões). A reportagem, no entanto, apurou que, desse total, apenas US$ 1 bilhão já foi captado. As razões passam pelos riscos econômicos dos empreendimentos listados e pelo fato de que dez projetos ainda não tiveram a decisão final de investimento.
Constam na plataforma, por exemplo, dois empreendimentos de terras raras: um da mineradora Serra Verde, que quer expandir suas operações em Goiás, e outro da Meteoric Resources, que tem planos de extrair os elementos em Minas Gerais. Os investimentos necessários para ambos são de US$ 1,1 bilhão e US$ 425 milhões, respectivamente.
Estão ainda listados cinco projetos de hidrogênio verde, três de reflorestamento, um de agricultura regenerativa, um de níquel, um de cimento com baixa pegada de carbono e dois de combustível sustentável de aviação.
Todos esses projetos têm dificuldades de financiamento, seja devido a mercados concentrados, como é o caso dos de terras raras, ou a gargalos tecnológicos, como aqueles de hidrogênio verde. A dificuldade acomete inclusive a gigante Vale, que tem seu projeto de hidrogênio verde e briquete verde na plataforma.
Justamente por isso, a presença do capital catalítico é tida como importante nessa iniciativa. A concepção de quem participa da plataforma é que os recursos destinados pelo GCF, ao não exigirem retorno financeiro, dá mais segurança aos projetos, uma vez que, com maior caixa, eles podem ter maior facilidade em buscar financiamento privado, inclusive na busca por garantias -algo difícil sobretudo para empresas pré-operacionais.
“O fundo proposto está sendo estruturado para diminuir a discrepância entre o capital comercial disponível e as necessidades dos projetos alinhados à transição climática. Ele terá como base no histórico do GCF em investimentos globais em economias de mercado emergentes e em desenvolvimento, tanto para fins de mitigação quanto de adaptação”, afirmou a diretora executiva do GCF, Mafalda Duarte. Ela participou de um evento nesta terça-feira no Rio de Janeiro que antecede a COP30, em Belém.




