SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), afirmou que a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C não deverá ser discutida na COP30, a conferência das Nações Unidas que começa na próxima semana em Belém.

“Se a cada COP nós colocarmos para decidir de novo, vira um círculo vicioso. O círculo virtuoso é a COP da implementação. Como isso vai ser traduzido na prática? Quais são os indicadores de esforços para que a gente alcance o resultado?”, disse à imprensa após participar do PRI in Person, evento voltado a investidores, em São Paulo.

A declaração é uma resposta a um relatório do Pnuma, o programa da ONU para o meio ambiente, divulgado nesta terça-feira (4). O documento apontou que o planeta vai superar 1,5°C de aquecimento global na próxima década, “na direção de uma séria escalada de riscos climáticos e prejuízos”.

A ministra afirmou que os países concordaram na COP28, em 2023, que a temperatura não pode ultrapassar esse limite. A cúpula em Belém, segundo ela, seria o momento de mostrar como alcançar esse objetivo.

“É preciso uma transição justa e planejada para o fim do uso de combustível fóssil, uma transição que seja justa com todos: produtores, consumidores, países em desenvolvimento e desenvolvidos”, disse.

De acordo com a ministra, o combate à mudança climática exige a redução da queima de petróleo, gás e carvão, que geram a maior parte das emissões de gases do efeito estufa. “Temos que fazer esse enfrentamento nas causas, não só mitigar. É mitigar, adaptar e transformar os modelos insustentáveis que estão comprometendo a vida na Terra.”

A proposta de um “mapa do caminho” para o fim dos fósseis enfrentou forte oposição dos negociadores da Arábia Saudita em uma reunião preparatória para a COP30, que aconteceu em Brasília em outubro.

No palco do evento em São Paulo, antes de falar à imprensa, Marina afirmou: “Estamos muito acima de nossa missão global, guiada pela ciência, de limitar o aumento da temperatura da Terra a 1,5°C, afetando gravemente o crescimento econômico, comprometendo os sistemas alimentares e o bem-estar das comunidades”.

Ela convidou os investidores a colocarem recursos no TFFF, o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, e disse que a proposta é a principal inovação do Brasil para a COP30.

“O setor financeiro não pode ser um observador passivo, o caminho para Belém em 2025 está pavimentado com ações concretas e oportunidades de investimentos”, declarou. “Que a gente possa, aqueles que irão para a COP30, sair de lá com compromisso de um mapa do caminho para esse novo modelo justo e sustentável.”

A ministra disse ter a expectativa de que, para cada US$ 1 de capital público aportado no TFFF, outros US$ 4 venham de recursos privados.

“O Brasil já aportou US$ 1 bilhão, a Indonésia disse que está comprometida com o mesmo, e esperamos que outros países, como o Reino Unido, a Noruega, vários que deram sinalizações, também possam fazer o mesmo gesto”, afirmou.

Segundo ela, mais recursos privados serão oferecidos conforme os anúncios das nações.

“Esse sempre foi um argumento dos países desenvolvidos, de dizer que não seria suficiente apostar só em recursos públicos, que era preciso ter um mecanismo inovador que viabilizasse o capital privado, e o Brasil apresentou uma proposta”, disse.