SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Vladimir Putin disse nesta terça-feira (4) que o teste de seu novo míssil de cruzeiro com propulsão nuclear foi observado de perto por um navio da Otan. “Não interferimos nas suas operações. Eles que vejam”, provocou o russo.

A fala ocorreu durante cerimônia em que foram condecorados os cientistas que desenvolveram o míssil em questão, o Burevestnik (nome russo da ave petrel), e o “torpedo do Juízo Final” Poseidon, no Kremlin.

Como seria previsível, seus nomes e imagem não foram divulgados. As armas fazem parte do pacote “invencível” anunciado por Putin em 2018, que agora está completo em termos de testes bem-sucedidos anunciado -duas delas, os mísseis hipersônicos Kinjal e Tsirkon, já são usadas em combate na Guerra da Ucrânia.

Putin empregou hipérboles nacionalistas, dizendo que as superarmas vão “garantir a segurança da Rússia no século 21”. Isso dito, apesar da falta de detalhes públicos natural em um programa secreto, há consenso entre especialistas que, se realmente funcionam, os motores dos modelos não têm pares hoje no mundo.

Usar reatores miniaturizados é algo que vem sendo estudado desde os anos 1960 pela indústria de defesa, sempre esbarrando na falta de praticidade em caso de acidente. Por outro lado, um modelo mais seguro tem a vantagem única de um alcance na prática ilimitado.

No caso do Burevestnik, Putin não disse, mas ele provavelmente foi testado em torno do arquipélago de Novaia Zemlia, no Ártico russo. O ensaio ocorreu em 21 de outubro e foi revelado pelo presidente cinco dias depois. Após outros três dias, foi a vez do anúncio do primeiro disparo completo do Poseidon.

Ambas são amas extremas, de uso em guerra nuclear. O Burevestnik teoricamente pode voar de forma indefinida próximo ao solo, de 25 metros a 100 metros de altura, iludindo radares. Por outro lado, sendo subsônico, podendo ser derrubado mais facilmente uma vez avistado.

Já o Poseidon é visto com mais temor por especialistas ocidentais, pois no papel pode levar ogivas de até 100 megatons, o dobro da energia liberada na maior explosão nuclear da história, feita pelos soviéticos em 1961 no mesmo Novaia Zemlia.

A 1 km de profundidade e com velocidade segundo analistas duas vezes maior do que a de submarinos, poderia singrar oceanos impune por longo tempo até chegar a um alvo. O que ocorre daí é outra história: enquanto alguns especialistas temem um tsunami radioativo contra cidades costeiras, outros não acreditam na hipótese e teorizam um impacto direto.

Seja como for, foi mais um capítulo da esgrima de Putin com a Otan e, em particular, com Donald Trump no momento em que o presidente dos EUA está pressionando o russo para aceitar negociar uma trégua na Ucrânia com o emprego de sanções inéditas.

O republicano passou recibo dos testes russos, criticando o colega e anunciando que irá fazer seus próprios ensaios nucleares. E o fez sem deixar claro se isso poderia incluir explodir uma ogiva de forma subterrânea, algo congelado pelos EUA há 33 anos.

Nesta quarta (5) e quinta (6), há a possibilidade de o americano fazer um sinal, já que alertas de navegação no Pacífico indicam que os EUA poderão usar o campo de provas das suas ilhas Marshall, onde caem os mísseis Minuteman-3 de uso terrestre lançados em testes.

Se ficar nisso, terá sido mais uma falácia de Trump, neste caso uma que será bem recebida pelos especialistas em desarmamento. Testes com o Minuteman são corriqueiros, e o mais recente foi em maio.

Além de testar o Poseidon e Burevestnik, no sábado (1) Putin lançou ao mar o primeiro submarino de série criado para levar seis desses supertorpedos. A embarcação deve ser comissionada em serviço em um a três anos.

Putin falou também sobre outras superarmas. Mudou novamente a data de entrada em serviço definitiva do Sarmat, o mais pesado míssil balístico intercontinental do mundo, para 2026. E disse que o modelo de alcance intermediário Orechnik, com o qual causou surpresa ao atacar a Ucrânia no ano passado, entrará em produção serial.