SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Luiz Eduardo Baptista e Leila Pereira estiveram juntos na sede da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) no mês passado, em encontro dos representantes dos clubes semifinalistas da Copa Libertadores. Quem acompanhou a interação entre o presidente do Flamengo e a presidente do Palmeiras, em Luque, no Paraguai, apontou que ela foi repleta de “momentos quinta série”.

Bap, como é conhecido Baptista, chegou a dirigir-se à mesa em que estava Leila, em um almoço. Cumprimentou os demais comensais e, de costas para ela, sem reconhecer sua presença, trocou gentilezas com um membro da confederação. Leila, por sua vez, enquanto Bap falava em uma reunião, mexia no celular, em deliberada demonstração de desinteresse.

Assim tem sido a relação entre os mandatários dos times que vêm dominando o futebol brasileiro. Há entreveros em todos os níveis, em um clima belicoso do qual fazem parte jogadores, treinadores e torcedores, mas nada é tão ilustrativo sobre a questão quanto a troca de ataques entre os presidentes.

O que já era tenso ficou abertamente hostil com o desenho da reta final da temporada. Flamengo e Palmeiras disputam palmo a palmo o título do Campeonato Brasileiro -a oito rodadas do final, a formação alviverde está um ponto à frente. E as agremiações disputarão no próximo dia 29, em Lima, no Peru, a decisão da Libertadores.

Há também outra frente de batalha, a briga pelo dinheiro dos direitos de transmissão do Brasileiro. Os dois clubes integram o bloco intitulado Libra (Liga do Futebol Brasileiro) e têm divergências a respeito da divisão do bolo.

Pelo regulamento do bloco para o ciclo 2025-2029, 40% são repartidos igualitariamente, 30% são distribuídos de acordo com a classificação do certame, e 30% são entregues com base na audiência da TV. É nestes 30% que está a discórdia, já que o Flamengo aponta lacunas nos critérios adotados.

A agremiação rubro-negra chegou a conseguir liminar bloqueando R$ 77 milhões que seriam destinados pela Libra a seus membros. Foi a senha para as discussões atingirem tons publicamente agressivos.

Leila usou o termo “terraflanismo” e sugeriu a criação de uma liga sem o rubro-negro carioca: “Acho que o Flamengo deveria jogar sozinho”. Bap respondeu: “Se o Flamengo fosse jogar sozinho, o dinheiro que sobraria para os outros seria muito pouco”.

Ele apontou que a relação com a presidente do Palmeiras “é ótima quando você concorda com tudo o que ela quer”. Em uma reunião do Conselho Deliberativo do Flamengo cujo conteúdo vazou, disse que a empresária tem a “agenda clara” de comprar o Vasco -a empresa dela, a Crefisa, fez um empréstimo de R$ 80 milhões ao cruzmaltino, com ações do clube como garantia.

“O presidente Bap tem razão quando diz que eu tenho uma agenda muito clara. Afinal, todos sabem que defendo os interesses do Palmeiras sem tentar asfixiar os meus adversários, que eu trabalho arduamente pelo crescimento do futebol brasileiro e que honro todos os contratos assinados pelo clube”, disse.

Em seguida, veio nova ironia. Em referência ao fato de que Bap, em seus tempos de executivo da empresa de telecomunicações Sky, minimizou o crescimento da hoje gigante Netflix e disse que a compraria se necessário fosse, ela brincou: “Eu não estou comprando o Vasco, ele pode ficar tranquilo. Eu não estou comprando o Vasco nem a Netflix”.

Bap, por sua vez, tratou o comportamento da adversária, sobretudo no que se referia à ideia de o Flamengo “jogar sozinho”, como uma “conversa rasa até para crianças da quinta série”. Dias depois, no encontro no Paraguai, Bap e Leila renovaram seu compromisso com a quinta série.

Enquanto isso, há futebol.

O clima hostil foi evidente entre os jogadores na vitória por 3 a 2 do Flamengo sobre o Palmeiras, no Maracanã, no Rio de Janeiro, no último dia 19, pelo Brasileiro. Foi um jogo nervoso, com entradas duras e reclamações sobre a arbitragem.

O Palmeiras se sentiu prejudicado, e seu técnico, Abel Ferreira, esbravejou. Em resposta, o treinador rubro-negro, Filipe Luís, observou que a formação alviverde havia vencido, pouco antes, um clássico contra o São Paulo com erros tão claros que resultaram no afastamento do árbitro e do árbitro de vídeo. “Convenhamos, se há alguém que não pode reclamar de arbitragem, é o Palmeiras.”

Entra nesse caldo a animosidade entre as torcidas, fruto das batalhas recentes e das redes estabelecidas há muito tempo entre as organizadas. A Mancha Verde, principal uniformizada do Palmeiras, é aliada da Força Jovem, do Vasco, arquirrival do Flamengo. A Torcida Jovem do Flamengo tem a Independente, do São Paulo, inimigo do Palmeiras, como parceira.

Essa teia não é novidade. O que é novidade, no mundo das redes sociais, é o embate bélico entre jornalistas identificados com cada um dos lados. A lógica Bap x Leila se aplica a membros da imprensa, com trocas de mensagens agressivas e públicas.

Flamengo e Palmeiras tiveram nos últimos anos momentos de rivalidade acirrada, com disputas de títulos brasileiros e sul-americano -em 2021, na Libertadores, deu Palmeiras. Mas nunca as cerdas estiveram tão eriçadas como estão agora as de jogadores, treinadores, treinadores e presidentes.