RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – O técnico da seleção brasileira, Carlo Ancelotti, participou da abertura do Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol e avisou: “Tenho que ser honesto”. Com essa frase, antecipou a frase de que o treinador brasileiro “é uma figura um pouco fraca”, referindo-se ao olhar no exterior.

“Gosto de estar aqui, viver aqui, conhecer a estrutura do futebol brasileiro e também a força do treinador brasileiro. Tenho que ser honesto: não é tão forte. Porque uma das primeiras coisas que escutei e não entendo: por que o treinador brasileiro não pode treinar na Europa? Significa que a figura é um pouco fraca. Creio que é muito importante trabalhar juntos, todos os treinadores, para que a Federação Brasileira de Treinadores seja forte”, disse Ancelotti.

O treinador ainda disse que a entidade brasileira precisa de união e ressaltou o papel da CBF na construção de um cenário melhor para a classe no Brasil.

“A CBF tem como objetivo primário ganhar a Copa do Mundo, senão não me chamava para ser o treinador. Mas o objetivo é melhorar o futebol brasileiro, no calendário, na arbitragem, na formação dos treinadores, do curso dos treinadores, a estrutura dos estádios. Temos uma CBF que precisa da ajuda e da opinião dos treinadores. A opinião é ainda mais respeitada se a Federação dos Treinadores for forte. Como pode ser forte? Com mais unidade entre os treinadores. Estamos no segundo fórum. Tem que ter 20 ou 30. Acho que temos a vontade de melhorar e ser mais respeitado”, acrescentou.

Ancelotti, apesar dos títulos na carreira e a moral com a qual chegou no Brasil, lembrou que ele mesmo já viveu momentos de instabilidade na carreira e mudou o jeito de encarar as demissões.

“A figura do treinador é fundamental. É como o árbitro. Se não tiver, não dá para jogar. Mas é fundamental até quando? Até a primeira derrota. Depois da primeira derrota, outro treinador é que vira fundamental. Eu falo muito para os jovens treinadores: ser demitido é uma pena, mas com o passo do tempo, tem que considerar uma coisa normal. Eu posso ter tido uma carreira com êxito e quero ainda mais. Mas Parma, demitido. Juventus, demitido, Bayern, demitido. Na primeira vez, fiquei muito triste. Mas na última vez, ‘muito obrigado, vou descansar'”.

DOSE DE CONSTRANGIMENTO

Pouco depois, Ancelotti ouviu do palco o discurso de medalhões do futebol brasileiro, como Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira.

A fala de Leão causou certo constrangimento, porque ele lembrou a fala de que “não suportava” treinadores estrangeiros no país. Só que apontou a responsabilidade da invasão estrangeira também para os técnicos estrangeiros.

“Eu sempre disse que eu não gosto de treinadores estrangeiros no meu país, e isso serve para o Mancini, que é o presidente (da Federação Brasileira de Treinadores). Estou falando aqui na frente da nossa casa. Antes eu falava que eu não suportava, não suportaria treinadores (estrangeiros). Você sabe que eu já falei isso, né Zé (Mário, ex-jogador e ex-treinador presente ao evento)? Você sabe que eu já falei isso e não mudo. Não mudo a minha opinião. Mas tenho que ser inteligente o suficiente pra dizer que isso tudo tem um culpado. Nós. Nós, treinadores, somos culpados da invasão de outros treinadores que não têm nada a ver com isso”, disse Leão, que já se aposentou.

Oswaldo de Oliveira também falou sobre a presença dos estrangeiros:

“Eu não queria treinador estrangeiro, mas não tinha jeito, se tivesse que ser, que fosse esse senhor. Torci pra ser esse senhor (Ancelotti). Depois que ele for embora, campeão do mundo, que venha um brasileiro”.

Em outro momento do evento, Alfredo Sampaio, uma das lideranças da Federação de Treinadores, optou por colocar o dedo na ferida dos brasileiros.

“Rotularam o treinador brasileiro de incompetente, de ultrapassado. E isso que temos que discutir para o futuro. Começou no 7 a 1, independentemente do nível de treinadores e jogadores que fomos. Aquilo foi uma fatalidade. Os senhores do futebol começaram a rotular nossos treinadores. Mas temos que refletir por que temos tantos estrangeiros aqui, se o nosso país tem potencial para treinadores e atletas? A solução passou a ser treinadores estrangeiros, competentes. Temos que abrir os olhos mesmo, porque eles cada vez mais se preparam de forma melhor. Temos 54 portugueses no Brasil. É porque eles se prepararam e se desenvolveram. (…) Se não tivermos a simplicidade de entender que o mundo evoluiu e as coisas melhoraram, nós vamos continuar enxugando gelo”.