SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um grupo de moradores do Alto da Lapa protesta na manhã desta terça-feira (4) contra a derrubada de árvores no chamado Bosque dos Salesianos, na zona oeste de São Paulo. O espaço foi comprado por uma incorporadora para se tornar um projeto imobiliário.

O terreno fazia parte da Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo), que o vendeu para a incorporadora Tegra no início de maio. O valor do negócio estaria na casa dos R$ 95 milhões.

A reportagem contou cerca de 40 pessoas no local. Todas gritam expressões como “salvem o bosque” e criticam o projeto imobiliário -para eles, o corte das espécimes configura crime ambiental. A obra possui alvará para ser realizada.

Alguns dos manifestantes, em tom mais exaltado, batem contra o portão de acesso à obra. O local está fechado, e maquinários continuam a operar.

O Ministério Público de São Paulo chegou a ajuizar ação pedindo a paralisação das obras. Obteve decisão liminar favorável à suspensão do projeto, medida que posteriormente caiu.

O argumento era de que o local estaria protegido por um decreto de 1989 que proibia a supressão das árvores. A norma, no entanto, foi revogada pelo governo Luiz Antônio Fleury Filho, em 1994, em mudança que atribuiu ao município a decisão sobre o corte de espécies nativas.

Moradores afirmam ter sido surpreendidos. “Mais do que uma relação com a comunidade, o bosque tem uma fauna e flora riquíssimas, com pássaros e até macacos. É um dos poucos lugares de São Paulo em que você tem isso” diz a fotógrafa Sílvia Simões.

“R$ 95 milhões pagam seu lugar no céu, padre?”, disse uma moradora aos gritos, em direção a religiosos que moram no terreno ao lado.

Acionado por moradores, o biólogo Roque de Gaspari disse à reportagem que o início da primavera não é a época ideal para o corte de árvores. “É tempo de início de reprodução das aves, o que leva cerca de 30 dias. Depois nascem os filhotes, e o crescimento deles pode levar até dois meses. Se você derruba uma árvore grande, leva tudo junto”, disse.

A GCM (Guarda Civil Metropolitana) foi acionada e monitora o protesto. Um dos agentes disse aos presentes que a obra é regular e que não há o que fazer -informação que pegou alguns dos manifestantes de surpresa. Eles dizem que não tiveram acesso ao documento.

Em nota, a Tegra afirmou que o empreendimento é regular.

“A Tegra Incorporadora informa que possui todas as autorizações necessárias para as atividades em seu terreno na rua Sales Júnior, no Alto da Lapa, incluindo o alvará de execução e o TCA (Termo de Compromisso Ambiental), emitidos pela SVMA (Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente).”

“O manejo arbóreo ocorre conforme critérios técnicos e ambientais da SVMA: cerca de 73% das árvores que precisarão ser removidas encontram-se mortas, são invasoras ou exóticas- o que compromete a regeneração natural do espaço- e 66 exemplares nativos serão preservados”, acrescenta.

A incorporadora diz também que realizará compensação ambiental com investimento superior a R$ 1 milhão. Em nota, diz que serão plantadas 500 novas mudas nativas e ainda revitalizará quatro praças na região.

“A companhia reforça ainda seu compromisso com o meio ambiente e com o espaço urbano, por meio do programa Gentilezas Urbanas, que já revitalizou mais de 100 áreas públicas desde 2020”, diz.