IO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro e um dos mentores da operação policial que deixou pelo menos 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, o delegado Felipe Curi é aliado e pupilo do também delegado Allan Turnowski, preso duas vezes sob acusação de colaborar com o jogo do bicho e receber propina da contravenção.
Nos bastidores da Polícia Civil e do governo, o nome de Curi tem sido apontado como possível pré-candidato à sucessão do governador Cláudio Castro (PL), que já foi reeleito e não poderá se candidatar almeja disputar uma vaga ao Senado.
Procurado por meio de sua assessoria nesta segunda (3), Curi não se manifestou até a publicação deste texto.
Desde que foi deflagrada a operação contra o Comando Vermelho nos complexos de favelas na zona norte carioca, na última terça (28), Curi tem sido um dos principais rostos do governo na mídia, participando de entrevistas e mesas-redondas para falar sobre a operação, no que seria um teste para uma futura empreitada eleitoral.
Pesquisas de opinião expressando apoio da maioria da população à operação deram fôlego ao grupo político de Castro, e Curi poderia ser um dos beneficiados pela onda.
A gestão Castro possui um organograma pouco usual em relação ao setor, com três diferentes secretarias: uma de Segurança Pública (liderada por Victor Santos, delegado da Polícia Federal), outra de Polícia Militar (chefiada pelo coronel Marcelo de Menezes) e a de Polícia Civil (a cargo de Curi).
Um dos mais poderosos integrantes da Polícia Civil fluminense nos últimos anos, Allan Turnowski chefiou a instituição em duas ocasiões: entre 2010 e 2011, na gestão Sérgio Cabral; e entre 2020 e 2022, nomeado por Castro, quando este assumiu o governo após o impeachment de Wilson Witzel.
Foi preso pela primeira vez em 2022, quando era candidato a deputado federal pelo PL de Castro e Jair Bolsonaro, depois que investigação do Ministério Público apontou que ele colaborou com chefes do jogo do bicho e recebeu propina de contraventores.
Apresentado como possível puxador de votos do PL, o delegado não se elegeu. Uma de suas bandeiras de campanha foi a operação sob seu comando que viria a ser conhecida como o massacre do Jacarezinho, em maio de 2021, em que 27 pessoas foram mortas pela polícia. Turnovski usou a quantidade de vítimas da favela em seu número de candidato (2227).
Ele voltou a ser preso em maio deste ano, quando a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal restabeleceu a ordem de prisão preventiva, que havia sido revogada em 2022 por decisão do ministro Kassio Nunes Marques.
Turnowski sempre negou envolvimento com o crime organizado, afirmou que sua atuação à frente da Polícia Civil foi marcada pelo enfrentamento às milícias e ao tráfico e se diz vítima de perseguição política.
Além de conhecida nos bastidores da Polícia Civil do RJ, as ligações entre Curi e Turnowski já apareceram em manifestações públicas e em investigações.
Quando Turnowski foi solto da prisão em 2022, aliados organizaram uma carreata em solidariedade, que se tornou também um ato de campanha. Curi estava lá como comprovaram fotos do evento na época.
Numa investigação sobre o ex-delegado Maurício Demétrio, preso desde 2021 por vários crimes, um diálogo dele com Turnowski recuperado do celular de Demétrio e revelado pelo jornal O Globo demonstra a relação entre Turnowski e Curi.
Na conversa, em 6 de setembro de 2020, sobre possíveis sucessores de Turnowski no comando da Polícia Civil, Demétrio diz: “Curi é ótima alternativa”. Turnowski responde: “Não sei. Acho muito imaturo. Mas é nosso”.
Em 2024, quando Curi foi nomeado secretário, O Globo informou que o nome dele para o cargo teria sido uma indicação de Turnowski. Na ocasião, Curi declarou: “Sou ligado somente a Deus, e o único grupo do qual faço parte é o da Polícia Civil”.
Na incursão policial que resultou no massacre do Jacarezinho em 2021, encabeçada pelo então secretário Turnowski, Curi era titular do DPGE (Departamento Geral de Polícia Especializada), que teve papel central na operação.
Entre muitas outras funções na Polícia Civil, Felipe Curi também chefiou a Delegacia de Combate às Drogas. Foi nesse posto que, em 2016, durante as Olimpíadas do Rio, foi baleado durante uma operação no complexo do Alemão. Um dos tiros atingiu o ombro do delegado, sem gravidade.
Por causa do episódio, em setembro passado, já como secretário, Curi se autocondecorou com a medalha Coragem, honraria concedida a policiais civis baleados em confrontos durante operações ou diligências.
Assim como Turnowski, Curi é adepto de operações policiais grandes e espetaculosas, como as do Jacarezinho e essa mais recente nos complexos da Penha e do Alemão. Tido como workaholic, é fã de heavy metal e toca bateria.




