SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em forte alta nesta terça-feira (4), com os investidores buscando a proteção da divisa norte-americana diante da preocupação com o momento econômico.
No Brasil, os analistas acompanham o primeiro dia de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central para definir a taxa de juros. A expectativa é que seja mantida o índice de 15%.
Às 9h04, a moeda norte-americana subia 0,63%, cotada a R$ 5,3915. Na segunda-feira (3), o dólar fechou em queda de 0,42%, a R$ 5,357, e a Bolsa avançou 0,61%, a 150.454 pontos, primeira vez em que o Ibovespa atinge o patamar de 150 mil pontos na história.
Em dia de agenda esvaziada, o mercado pesou os destaques da semana. No exterior, os holofotes se voltaram a dados de emprego ADP dos Estados Unidos, que medem a abertura de vagas no setor privado.
Esperado para quarta-feira, o relatório é um dos poucos à manga para monitorar o estado da atividade norte-americana. Por causa da paralisação do governo federal, que entrou na sexta semana nesta segunda, a publicação de dados econômicos foi suspensa.
O momento é particularmente sensível para o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), que se vale dos números da economia para decidir sobre a taxa de juros. Sem a referência das publicações oficiais do governo, a autoridade se abastece de relatórios laterais para decisões de política monetária, embora reconheça que a ausência de dados “padrão-ouro” limita a visibilidade sobre a atividade.
Na reunião da semana passada, o Fed decidiu por estender o ciclo de cortes de juros em mais uma redução de 0,25 ponto percentual, repetindo a dose do encontro anterior, e levou a taxa à banda de 3,75% e 4%.
Novos cortes, porém, não estão garantidos. “Longe disso”, afirmou o presidente da autarquia, Jerome Powell, em entrevista coletiva após a decisão. “Houve opiniões muito diferentes sobre como proceder em dezembro”, disse ele.
As autoridades do Fed reconheceram as limitações impostas pela paralisação do governo, e Powell afirmou que a solução para isso é adotar cautela. “O que você faz quando está dirigindo sob neblina? Você diminui a velocidade”, disse.
Nesse sentido, o relatório ADP pode fornecer pistas sobre o estado do mercado de trabalho, recebendo “uma atenção incomum na ausência de dados oficiais”, pontua Matthew Ryan, head de estratégia de mercado da Ebury.
Reduções nos juros dos EUA costumam ser uma boa notícia para os mercados globais. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.
Em relação ao Brasil, há ainda mais um fator que favorece os ativos domésticos: o diferencial de juros. Quando a taxa nos Estados Unidos cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”. Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Decisões sobre a taxa Selic, nesse sentido, ganham relevância ainda maior para os operadores.
O Copom se reúne entre terça e quarta-feira desta semana para decidir sobre a taxa básica de juros do país, hoje em 15% ao ano. O consenso do mercado é de manutenção do atual patamar até o fim de 2025, segundo o Boletim Focus desta segunda.
O foco, portanto, está voltado às sinalizações do colegiado para as próximas reuniões. No encontro passado, o Copom afirmou que manterá a Selic alta por tempo “bastante prolongado” para que a inflação convirja ao centro da meta de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.
A autoridade “tem reforçado a mensagem de que se sente confortável em manter a Selic em nível elevado por conta da robustez do mercado de trabalho”, afirma Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Na sexta, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que a taxa de desemprego do Brasil foi de 5,6% no trimestre até setembro, menor nível da série histórica iniciada em 2012.
Com o mercado de trabalho aquecido e a massa salarial em nível recorde, é esperado que a demanda dos consumidores não desacelere a inflação tão cedo. O mercado agora precifica o primeiro corte da Selic ocorrendo apenas no segundo trimestre de 2026.
“A perspectiva de que os juros brasileiros vão ficar mais elevados por mais tempo tende a favorecer o nosso diferencial de juros e favorecer a atração de investimentos estrangeiros”, diz Mattos.
No Focus, o mercado ainda previu a taxa de juros em 12,25% no próximo ano, em 10,5% para 2027 e em 10% para 2028.
“O mercado antecipa um ciclo de corte de juros, reforçado por um Boletim Focus que sinaliza efeitos da política monetária. Com o Copom se reunindo na quarta-feira, o clima é de otimismo, especialmente em torno da ata, que poderá trazer maior clareza sobre o ritmo e a quando teremos os próximos cortes na Selic”, diz Gabriel Redivo, sócio e diretor de gestão da Aware Investments.




