WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Enquanto ainda vivem as consequências dos atentados terroristas de 7 de outubro de 2023, israelenses e palestinos se lembram nesta semana de um outro evento: o assassinato de Yitzhak Rabin, em 4 de novembro de 1995. As duas datas, que mudaram a história do Oriente Médio, estão conectadas.
Nos anos 1990, o então primeiro-ministro israelense Rabin negociava a paz com os palestinos. Assinou, em 1993, os Acordos de Oslo, que levaram à criação da Autoridade Nacional Palestina. A possibilidade de um Estado palestino parecia real. Isso até o israelense Yigal Amir baleá-lo nas costas, em Tel Aviv -aquele disparo reverbera até hoje, 30 anos depois.
O assassinato de Rabin foi um entre tantos atos de terrorismo cometidos por extremistas israelenses e palestinos naquela época, diz Gershom Gorenberg. Como resultado, a solução para o conflito tornou-se cada vez mais inviável. As correntes radicais de ambos os lados se fortaleceram.
“O objetivo desses ataques era levar as pessoas aos extremos e impedir que encontrassem uma solução moderada”, diz Gorenberg. Historiador e jornalista, ele é autor de diversos livros, entre eles “The Accidental Empire” (o império acidental), que trata dos assentamentos israelenses.
No ano seguinte, quando os israelenses voltaram às urnas, o sucessor de Rabin, Shimon Peres, perdeu as eleições para Binyamin Netanyahu. Desde então, com alguns intervalos, Netanyahu seguiu no comando do país -e distanciou seu governo cada vez mais das negociações de paz.
A carreira de Rabin abrangeu a história moderna de Israel. Lutou na guerra de 1948, que levou ao estabelecimento do Estado e à expulsão de 700 mil palestinos. Participou também da Guerra dos Seis Dias, em 1967, que culminou na ocupação israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Em 1974, foi eleito premiê pela primeira vez, governando até 1977. Mas foi o segundo mandato, iniciado em 1992, que marcou sua trajetória. Pela sua liderança nos Acordos de Oslo, tanto Rabin quanto o líder palestino Yasser Arafat (1929-2004) receberam o Prêmio Nobel da Paz de 1994.
A possibilidade de paz com os palestinos gerou atritos na sociedade israelense, com a oposição de forças da direita e de ultraortodoxos. Em 1994, um colono americano-israelense matou 29 pessoas em uma mesquita de Hebron. O grupo terrorista Hamas, surgido na década anterior, também se opunha às negociações de paz e tentava impedi-las com seus atentados.
Desde o assassinato de Rabin, a centro-esquerda israelense foi incapaz de produzir um novo líder carismático, diz o jornalista Ehud Yaari, que cobre a região desde os anos 1960. A exceção foi Ehud Barak, que foi primeiro-ministro de 1999 a 2001, o último da esquerda até hoje no país.
Barak, que havia integrado o gabinete de Rabin, tentou implementar seu próprio plano de paz em 2000. Os tempos eram outros, porém, com muito mais ceticismo de ambos os lados. A proposta de Barak, além disso, não satisfez Arafat, que a recusou. Entre diversas razões, porque Israel não permitiria o retorno dos refugiados palestinos.
Nesse sentido, a hegemonia de Netanyahu é mais um sintoma do enfraquecimento da centro-esquerda do que do fortalecimento da direita, afirma Yaari. Hoje, para governar, Netanyahu precisa do apoio de uma série de facções da ultradireita messiânica, o que torna sua coalizão frágil.
Israel caminha agora para eleições em algum momento do próximo ano. A data ainda não foi acordada, mas, por lei, deve ocorrer ainda em 2026. Resta ver se, desta vez, os oponentes de Netanyahu vão conseguir reconquistar o eleitorado. Não há, por ora, um nome claro na esquerda.
Para Yaari, aquela ideia proposta por Rabin nos anos 1990 -dois Estados convivendo em paz- permanece válida. “A visão de que temos que dividir esta terra ainda é poderosa”, afirma. Será bastante mais difícil implementá-la, porém. Em parte, devido à força dos radicais.
“Há hoje muito mais desconfiança e um histórico mais longo de conflito do que em 1995”, diz Gorenberg. “Mas a proposta de Rabin ainda é a maneira mais prática e mais esperançosa para imaginarmos um mundo que permita que israelenses e palestinos deem um futuro a seus filhos.”




