SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Narrativas sobre o STF (Supremo Tribunal Federal) e teorias conspiratórias sobre fraude nas urnas eletrônicas são as desinformações que mais circulam em grupos públicos de WhatsApp no Brasil. É o que mostra relatório divulgado nesta segunda-feira (3) pela agência de checagem Lupa.
O estudo analisou um ano de conversas em 100 mil grupos públicos do aplicativo, entre julho de 2024 e julho de 2025. O objetivo foi identificar os temas mais recorrentes entre as mensagens falsas que ganham alcance e aquelas que despertam dúvida entre os usuários.
Os pesquisadores reuniram 10.351 conteúdos. Foram 9.163 pedidos de checagem recebidos pela Lupa, 468 verificações publicadas por agências de fact-checking e 720 mensagens encaminhadas com frequência em grupos públicos monitorados pela empresa de análise de dados Palver.
Essas 720 mensagens correspondem a uma amostra aleatória entre 244 mil conteúdos marcados como “encaminhados com frequência” no aplicativo. A seleção desconsiderou as cerca de 80% de mensagens virais de natureza sensível, com nudez, pornografia ou violência explícita.
Entre as mensagens de desinformação analisadas, o STF foi o principal tema identificado. São comuns os conteúdos que difundem teorias sobre fraude eleitoral, tentativas de minimizar os ataques de 8 de janeiro de 2023 e publicações que acusam a corte de agir por motivações políticas. O período de campanha eleitoral em 2024 concentrou o pico de circulação dessas mensagens.
Dos 468 conteúdos comprovadamente falsos que circulavam no WhatsApp, 133 (57%) eram de política nacional. Das notícias que não eram sobre o Brasil, e maioria era sobre a Venezuela e os Estados Unidos.
As publicações que mais motivaram pedidos de checagem foram as relacionadas a políticas públicas e benefícios sociais. O pico ocorreu durante a chamada “crise do Pix”, quando o governo Lula se viu forçado a revogar uma normativa da Receita Federal sobre monitoramento de transações financeiras.
A medida, que visava combater sonegação fiscal, foi distorcida nas redes sociais e transformada em uma suposta ameaça de taxação do sistema de pagamentos. Um dos principais conteúdos nesse contexto foi um vídeo publicado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).
“O que mais viraliza é o STF, mas o que mais gera dúvida é o que impacta no bolso da pessoa”, afirmou Beatriz Farrugia, analista da Lupa, durante o evento de lançamento do estudo na Faap, em São Paulo.
O vídeo é o formato predominante entre os conteúdos virais, seguido por áudios e textos.
Segundo Luis Fakhouri, fundador da Palver e colunista da Folha de S.Paulo, os 80% de conteúdos virais detectados como sensíveis apareciam mesmo com a empresa saindo proativamente de grupos dedicados a esse tipo de material.
“O que significa que esses conteúdos circulam em grupos que não são de pornografia, como os de política ou de entregadores. É muito chocante”, afirmou.
O relatório também aponta que o uso de inteligência artificial ainda é limitado na criação de desinformação que circula no aplicativo: apenas 7% dos conteúdos falsos analisados usavam IA, principalmente em golpes e fraudes digitais.




