PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Reunidos em um painel na semana passada em Paris, cinco presidentes de COPs (a conferência da ONU sobre mudanças climáticas) oscilaram entre otimismo e pessimismo em relação à 30ª edição do evento, que começa semana que vem em Belém.
Estavam presentes o atual presidente, o brasileiro André Corrêa do Lago, e os de quatro edições anteriores: de Paris (2015), Marrakech (2016), Katowice (2018) e Baku (2024).
Para o francês Laurent Fabius, que comandou a COP21, do famoso Acordo de Paris, Belém “terá um resultado notável”. “Temos todo um arsenal de soluções novas”, concordou o polonês Michal Kurtyka, que liderou a edição de 2018. Na maioria das conferências, o presidente é do país que sedia o evento.
Por sua vez, Mukhtar Babayev, do Azerbaijão, presidente da COP29, lamentou que “não ouvimos mais engajamentos ambiciosos”. Já o marroquino Salaheddine Mezouar (da COP22) disse ser um “sonhador lúcido” que ainda espera “um despertar coletivo”.
“Embora exista um ambiente sombrio sobre as mudanças climáticas, os números dizem o oposto”, disse Corrêa do Lago durante o evento. “Temos que voltar a discussão para os aspectos positivos. O que me dizem é que as pessoas estão cansadas de ouvir histórias tristes sobre o clima.”
Falando em inglês, o diplomata brasileiro fez uma brincadeira para justificar seu tom esperançoso. “Não dá para ser brasileiro e não ser otimista. Senão, perco meu passaporte.”
O “círculo de ex-presidentes de COP” foi criado por iniciativa brasileira, para intercâmbio de experiências. O encontro mais recente ocorreu durante o Fórum de Paris pela Paz, evento internacional com centenas de políticos e autoridades do mundo inteiro.
Babayev cobrou da comunidade internacional US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão) em financiamento público e privado para o clima, prometidos na COP do ano passado, em Baku. “É importante para a COP29 e a COP30 impedir passos atrás nas decisões já adotadas”, afirmou. Ele lamentou que as grandes potências estejam mais focadas nos conflitos mundiais que no clima. “Infelizmente, se compararmos 2024 e 2025, a ambição é totalmente diferente. Onde estão os líderes mundiais do clima?”
Fabius, 79, um dos políticos mais respeitados da França -foi primeiro-ministro de 1984 a 1986- lembrou uma anedota que dá uma ideia da tarefa que Corrêa do Lago tem diante de si: “Quando a França foi escolhida como sede da COP21, os delegados [de outros países] chegaram até mim e disseram: ‘Boa sorte, sr. Fabius.’ E eu tenho sempre isso em mente.”
Ele fez uma analogia com a mobilização internacional durante a pandemia da Covid-19 para demonstrar que é possível, com vontade política, agir rapidamente. “Como é possível que para a Covid, em poucos meses, tenhamos achado a vacina e liberado centenas de bilhões? É que há uma diferença terrível: na questão do aquecimento global, a morte está distanciada, as pessoas não veem.”
Um ponto de consenso entre os presidentes de COP é a necessidade de mais foco em medidas de adaptação às consequências do aumento da temperatura global que já é inevitável.
“Meçamos o caminho percorrido de maneira otimista, mas também realista. Vamos nos concentrar sobre o que dá para fazer hoje”, disse o polonês Kurtyka.




