PARIS, None (FOLHAPRESS) – Na França, poucas frases abrem mais portas do que “eu fiz SciencesPo”. Fundado em 1872, o Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais conhecido pelo apelido curto, é o viveiro dos dirigentes franceses. Nesta quarta-feira (5), a instituição inaugura um escritório em São Paulo, para atrair mais alunos sul-americanos e apoiar ex-alunos.

“Escolhemos a cidade que nos pareceu a mais dinâmica, a mais bem conectada, onde já temos parcerias muito importantes”, disse à reportagem o diretor da escola, Luis Vassy, em entrevista em sua sede, no coração do bairro de Saint-Germain-des-Prés.

Vassy estará no Brasil nesta semana. Em São Paulo, terá encontros com representantes de instituições como USP, Unicamp, FGV (Fundação Getulio Vargas) e Fapesp e visitará o Liceu Internacional Francês, nome, desde o ano passado, do antigo Liceu Pasteur.

Pelo SciencesPo (pronuncia-se “siâns-pô”) passaram vários presidentes —Emmanuel Macron, François Hollande, Nicolas Sarkozy (que não chegou a se formar), Jacques Chirac, François Mitterrand, Georges Pompidou— e primeiros-ministros franceses, mas também escritores —entre eles Marcel Proust —, jornalistas e empresários.

Apesar do nome, é muito mais que a quarta melhor faculdade de ciência política do mundo, segundo o conceituado ranking QS de universidades, atrás de Harvard, Oxford e Princeton. Também tem cursos de administração, sociologia, direito, economia e jornalismo, entre outros.

O processo seletivo, feito com base em dossiê de candidatura —carta de motivação, histórico escolar, entrevista— é considerado extremamente rigoroso. “Buscamos em nossos alunos a excelência, mas também a curiosidade intelectual”, define o diretor.

Nem todos os cursos exigem conhecimento avançado de francês: há diplomas inteira ou majoritariamente em inglês. Há a possibilidade de bolsas, inclusive integrais, para alunos que Vassy define como “muito fortes academicamente”. É uma ajuda bem-vinda. A anuidade da graduação custa cerca de R$ 90 mil. Segundo o diretor, serão tentados convênios com fundações brasileiras para financiar alunos sem recursos.

O Brasil já tem uma forte relação com SciencesPo. De um total de 12 mil alunos, há atualmente 107 brasileiros, sendo 31 em intercâmbio. Boa parte estuda no campus de Poitiers, cerca de 300 km a sudoeste de Paris, onde o currículo é mais voltado para assuntos latino-americanos.

O mais famoso é o ex-jogador de futebol Raí, que completou no ano passado uma pós-graduação executiva em gestão de políticas públicas.

Regularmente a escola recebe personalidades brasileiras para palestras. Foi o caso de Lula, em 2011 (quando recebeu o título de doutor honoris causa) e 2021; ou do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em março passado.

SciencesPo criou neste ano a Paris Climate School, com formações em inglês, voltadas para questões climáticas. Na semana passada, participou de um seminário na escola o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, a cúpula ambiental que será realizada neste mês em Belém.

A “escola do clima”, como é chamada, oferecerá mestrados em financiamento de projetos de transição energética, descarbonização da indústria e adaptação às mudanças climáticas. “Queremos que seja muito aberta ao exterior, aos países onde se decide a questão do clima”, afirma o diretor, citando o Brasil.

Como escola formadora da elite francesa, tudo o que acontece em SciencesPo repercute na imprensa local: mudanças de diretor, aumentos da anuidade, manifestações de estudantes. No ano passado, o campus principal foi ocupado durante alguns dias por alunos pró-Palestina, ecoando o movimento que agitou as universidades americanas. Eles reivindicavam, sem êxito, que a escola rompesse parcerias com universidades israelenses.

“Evidentemente, é uma escola que fala de assuntos políticos e geopolíticos”, afirma Vassy. “O que queremos é permitir a expressão de todos os pontos de vista dentro do respeito mútuo. E acho que conseguimos isso na volta às aulas de 2025.”

Por ora, não há nenhum plano de abertura de um campus no Brasil, o que não impede outros tipos de parceria. “Tenho uma aspiração, que é ter um diploma duplo com uma excelente universidade latino-americana, como temos com Columbia, Berkeley e Singapura.” A instituição já tem um programa de dupla titulação com a FGV, em mestrados, não em graduação.

Vassy, 45, nasceu na França de pai uruguaio, exilado nos anos 1970, e mãe argentina, e tem um meio-irmão que mora no Rio de Janeiro. Tudo isso confere à abertura do escritório sul-americano um simbolismo especial para ele.

“Faz parte da minha história. O elo entre a França e a América Latina é natural. Há um potencial enorme nessa relação, que ainda pode ser desenvolvido.”