O hábito de passar horas deslizando o dedo na tela do TikTok pode parecer inofensivo, mas especialistas alertam: o excesso de vídeos curtos está provocando uma espécie de “névoa mental” e impactando a capacidade cognitiva de milhões de jovens. O problema, segundo neurologistas e psicólogos, é que o cérebro passa a buscar recompensas rápidas, perdendo o foco e a habilidade de se concentrar em tarefas mais complexas.
O neurologista Delson José da Silva, presidente da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), explica que o vício no aplicativo está relacionado à liberação intensa de dopamina — o neurotransmissor ligado ao prazer e à recompensa. “O cérebro entende que está sendo recompensado por aquela enxurrada de vídeos, mas não há esforço mental envolvido. É um prazer imediato, sem aprendizado real”, aponta.
Essa sobrecarga sensorial é ainda mais perigosa para o público jovem. De acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o TikTok é a rede social mais usada por crianças e adolescentes de 9 a 17 anos. Entre 11 e 12 anos, quase metade (48%) já elegeu a plataforma como favorita — ultrapassando Instagram e Facebook juntos, mesmo com a restrição de uso para menores de 13 anos.
Dr. Delson alerta que o uso prolongado pode alterar o funcionamento cerebral. “O consumo rápido e constante faz o cérebro operar em multitarefa o tempo todo. Isso prejudica o planejamento, a concentração e o raciocínio lógico”, explica. O médico também observa um aumento de casos de tiques nervosos entre jovens usuários da rede. “O cérebro infantil ainda está em formação. Estímulos tão intensos e frequentes podem comprometer o desenvolvimento das habilidades cognitivas a longo prazo”, ressalta.
A psicóloga Lidiane Passarinho concorda que o TikTok foi projetado para prender o usuário. “A rolagem infinita estimula a liberação de dopamina, tornando o aplicativo viciante. O ideal seria evitar o uso, mas como isso é difícil, o melhor caminho é reduzir o tempo de exposição e substituir parte dele por atividades prazerosas e saudáveis, que também geram dopamina”, aconselha.
Um levantamento da Qustodio, empresa especializada em controle parental, mostrou que jovens de 4 a 18 anos passam, em média, 107 minutos por dia no aplicativo — quase duas horas diárias. Além do impacto neurológico, há o risco do contato com conteúdos perigosos, como desafios extremos, material sexualizado e incentivo ao uso de substâncias ilícitas.
Entre curtidas, filtros e rolagens, o TikTok vem moldando uma geração hiperestimulada, mas cada vez menos concentrada. E os efeitos dessa nova forma de entretenimento podem estar apenas começando a aparecer.







