SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As forças de Volodimir Zelenski fazem um último esforço para tentar salvar a estratégica cidade de Pokrovsk, que serve de centro logístico para os militares de Kiev na região de Donetsk, a mais desejada por Vladimir Putin no leste do vizinho invadido em 2022.

Um vídeo divulgado pela inteligência militar ucraniana (GRU, na sigla local) mostrou o desembarque de forças especiais supostamente na noite da quarta (29) para quinta (30) no centro da cidade, mas tudo indica que a cinematográfica cena resultou numa tragédia para os soldados.

Diversos vídeos analisados ao longo do fim de semana por sites de monitoramento de informações abertas indicam que os talvez 16 soldados desembarcados foram mortos por drones russos. Kiev não confirma nem nega isso, dizendo apenas que os reforços continuaram ao longo do fim de semana.

São, claro, ações pontuais: uma pequena companhia não fará diferença, mas indicam o grau de desespero. A tática foi aplicada pela mesma GRU do renomado comandante Kirilo Budanov para tentar salvar Mariupol do cerco ao porto do mar de Azov em 2022, sem sucesso.

Monitores como o ucraniano Deep State mostram que toda Pokrovsk está sendo contestada, e que os russos fazem avanços quase cortando a cidade, que dos 60 mil habitantes de antes da guerra retém talvez 1.200 entre ruínas.

Sua importância está nas linhas ferroviárias e rodovias, que abastecem as forças em torno do centro administrativo da Donetsk ainda ucraniana, Kramatorsk. A capital regional homônima está em mãos de separatistas pró-Rússia desde o início da guerra civil na área, em 2014.

Se cair, o perigo mais óbvio é o do colapso das defesas ucranianas. A Rússia quase conseguiu isso em agosto, mas Zelenski reforçou a região com suas melhores forças, desguarnecendo pontos importantes da frente de batalha. Há, segundo a Rússia, 5.000 soldados de Kiev sob cerco, o que é negado pela GRU.

Um dos pontos enfraquecidos é ao norte, em Kharkiv, região que nem faz parte da lista oficial de desejos de Putin na guerra, como Donetsk, que está 75% ocupada, apesar de sinais evidentes de que Moscou a quer. Lá, os russos também dizem ter cercado 5.500 militares ucranianos, o que Kiev diz ser um exagero.

Enquanto os combates se desenrolam no solo, pelo ar a guerra segue em um de seus momentos mais agressivos. Nesta madrugada de segunda-feira (3), a Rússia fez um ataque concentrado contra alvos do complexo industrial de defesa da Ucrânia e redes de energia em 11 regiões do país.

Foi menos intenso em quantidade de armamentos, 150 mísseis e drones, mas o estrago parece ter sido grande, com blecautes registrados de Odessa (sul) a Lviv (oeste). Kiev disse ter derrubado 115 dos 138 drones lançados e 1 de 3 mísseis hipersônicos Kinjal. Já 4 balísticos Iskander-M e 5 modelos de interceptação adaptados de sistemas S-300 passaram ilesos.

Na mão inversa, os ucranianos lançaram um ataque grande com drones contra cinco regiões no sul russo. Foram abatidos, segundo o Ministério da Defesa em Moscou, 64 aparelhos —os russos nunca divulgam números totais. Em Saratov, uma refinaria foi atingida.

LITUÂNIA AMEAÇA EMBARGO A KALININGRADO

Com o fracasso da pressão de Donald Trump por um acordo de paz até aqui, a guerra tem seguido com mais intensidade, segundo o monitor da principal base de dados de conflitos do mundo, organizada pela ONG americana Acled (Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos).

O americano decidiu impor sanções às duas principais petroleiras russas que, a depender da capacidade de Moscou de driblar as restrições, têm potencial de impactar os lucros de Putin no setor. Há também atritos geopolíticos outros, decorrentes da medida.

A estatal lituana de ferrovias anunciou que irá proibir o trânsito de petróleo e derivados das duas empresas, a Lukoil e a Rosneft, por seu território rumo ao exclave russo de Kaliningrado, que fica espremido entre o país báltico e a Polônia.

Das estimadas 370 mil toneladas de combustível que a Rússia envia por vias férreas para o local todo ano, 345 mil toneladas são da empresa privada Lukoil. Se for mesmo implementado, o embargo obrigará os russos a abastecer a região pelo mar Báltico, operação mais cara e de logística complexa.

Kaliningrado é a ponta de lança russa em qualquer cenário de conflito com a Otan, a aliança militar ocidental. É sede da Frota do Báltico e, segundo analistas, está equipada com mísseis táticos com ogivas nucleares.

A Lituânia chegou a promover um embargo total à região em junho de 2022, mas a escalada de tensão e ameaças de Moscou fizeram o país, membro da Otan, voltar atrás.