BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – A Petrobras alterou a rota de voos que transportam as equipes responsáveis pelo suporte e trabalho de perfuração do primeiro poço na bacia Foz do Amazonas, na costa de Oiapoque (AP), de forma a evitar os deslocamentos a partir de Belém durante a realização da COP30, a conferência do clima da ONU.

No último dia 20, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) concedeu a licença para a estatal perfurar o chamado bloco 59, que fica a 160 km da costa amazônica do Amapá. A perfuração, voltada à prospecção sobre a existência e a extensão da presença de óleo, começou no mesmo dia, por meio da sonda NS-42.

A disposição da Petrobras e do presidente Lula (PT) de ampliar a exploração de combustíveis fósseis, e dessa vez na costa amazônica, vai na contramão do que ficou definido na própria COP. Na COP28, em Dubai, Emirados Árabes Unidos, ficou acertado que devem existir transição para o fim do uso de combustível fóssil, duplicação da eficiência energética e o triplo de energia renovável.

Funcionários que precisam se deslocar a Oiapoque, no extremo norte do país, foram avisados pela Petrobras que os voos contratados para esse transporte -operados pela companhia aérea Azul- deixariam de ser operados a partir de Belém, ou tendo Belém como ponto de chegada. Esse ponto passou a ser Macapá.

Na justificativa apresentada, a estatal argumentou que a mudança se deve à realização da COP30 durante novembro. Assim, Belém deixa de ser a base dos voos voltados às equipes de trabalho de 26 de outubro a 30 de novembro, conforme o comunicado.

A COP30 tem os primeiros eventos oficiais em Belém nos dias 6 e 7 de novembro, com a cúpula dos chefes de Estado e de governo. A conferência será realizada de 10 a 21 do mesmo mês.

A Folha questionou a Petrobras sobre a alteração promovida e se a mudança tem relação com a visibilidade, durante a COP30, da expansão de exploração de combustíveis fósseis pela estatal.

“A definição do modal e rota de transporte de equipes para as atividades de perfuração na costa do Amapá não tem relação com a realização da COP30, em Belém”, disse a Petrobras, em nota. A estatal afirmou que define a logística de apoio para operações com base em uma “série de fatores”.

“No caso de transporte de equipes, são avaliados o melhor modal (aéreo, terrestre, marítimo), otimização de malha e estratégias contratuais junto a empresas prestadoras de serviços”, disse a empresa. “Esses fatores são observados em todas as regiões que a companhia opera, inclusive nas atividades de perfuração do poço Morpho, no litoral do Amapá.”

A Azul afirmou, em nota, que os voos fazem parte de um serviço particular de fretamento, “com uso exclusivo de passageiros do contratante”. “Todas as mudanças são previamente acordadas com o cliente e estão previstas no contrato.”

Os paineis de voos dos aeroportos de Belém e Macapá mostram que houve a mudança nas rotas, com o percurso sendo feito, agora, a partir da capital do Amapá.

Os registros de voos programados junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) mostram que quatro voos -dois com destino a Oiapoque, dois saindo da cidade- começaram a ser operados em outubro, mês da concessão da licença. Esses registros também mostram uma mudança, com predominância dos voos tendo Macapá como base durante o mês de novembro, e não mais Belém.

A sonda que faz a perfuração no bloco 59 conta com a atuação de 180 profissionais embarcados na estrutura, segundo pessoas a par da operação da Petrobras. A grande maioria é vinculada a empresas terceirizadas, conforme esses profissionais.

A estatal não informa números ou composição de equipes em atuação em alto-mar. “A equipe que está atuando na sonda NS-42 é composta por empregados próprios e trabalhadores contratados. As informações sobre distribuição dessas equipes são internas”, disse a empresa.

A Petrobras também não informa com exatidão onde estão, em Belém, as bases de apoio à perfuração do poço no litoral de Oiapoque.

Os documentos mais recentes do licenciamento indicam que, para resposta a eventual acidente, embarcações ficariam em “áreas do fundeio do porto de Belém”. Técnicos do Ibama afirmaram, em um parecer, que essas áreas são muito amplas, e havia necessidade de uma indicação mais precisa da localização dessas embarcações.

Em Oiapoque, existe até agora uma pequena movimentação de funcionários da Petrobras, segundo gestores que acompanham o andamento da perfuração do poço em alto-mar.

O aeroporto da cidade virou uma base para escritórios da estatal e para a movimentação de helicópteros.

Reportagem publicada pela Folha em agosto de 2024 mostrou que, já naquele momento, a expectativa pela exploração de petróleo causava um inchaço de invasões de casas na beira da estrada que leva ao aeroporto de Oiapoque.

Ocupações cresceram de forma desordenada nas imediações do aeroporto. A ocupação Areia Branca está na estrada de terra que leva ao aeródromo, a poucos minutos da entrada principal. Expandiu como nunca em 2023 e em 2024, na esteira da expectativa sobre o petróleo.

Naquele momento, as principais ocupações eram a Areia Branca e a Nova Conquista. Em fevereiro de 2025, quando a Petrobras já fazia treinamentos em campo para resgate de animais em caso de derramamento de óleo, outras ocupações se expandiam, com avanço por áreas de floresta e conexão a bairros já existentes. São os casos de Belo Monte e Novo Canaã.