SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Durante a faculdade de artes cênicas, Rodrigo Salem notou uma tendência entre alguns colegas: se levar a sério demais. “Aquele artista pretensioso, que se acha uma consciência evoluída… Eu já estive nesse lugar, de uma romantização de si mesmo. É muito fácil o artista cair nesse delírio”, diz, em entrevista ao F5.

Como forma de autocrítica, mas também de satirizar parte do meio artístico, ele criou o personagem Sanchez, um cantor “disruptivo” de MPB que baseia sua obra em “brasilidades” e “corporeidades múltiplas”.

“Acho muito engraçado quem se refere a peça como espetáculo”, diz. Até que um dia, caçoando desses colegas, saiu um “ixxxpetáculo”, pronunciado no mais exagerado sotaque carioca. Nascia ali o Sanchez.

Ao lado do irmão, Leonardo, ele criou o duo Rodrigo Sanchez e Léo Cupuaçu, que estourou a bolha das redes sociais com a bossa-nova “Tucunaré Jacarandá”, uma salada de referências de brasilidades, som de cuíca e muita afetação intelectual.

BAD BOY DE MOEMA

Antes de viralizar com Sanchez, Rodrigo já fazia sucesso no TikTok com o personagem Rodrigão, o bad boy de Moema, inspirado principalmente nele mesmo. Nascido no bairro nobre da capital paulista, em uma família, segundo ele, privilegiada, ele não nega que tem grande parte da personalidade do garoto mimado, infantilizado e autoconfiante demais.

“O Rodrigão é uma radicalização do que eu sou. Ele se acha demais, mas ele vive meio fora da realidade, tem uma inocência. Ele quer ser mau, mas é bobinho, inofensivo. A graça é o quanto ele se leva a sério, o quanto ele é confiante”, comenta.

Vestido sempre de moletom com uma camiseta branca mal ajambrada por baixo, Rodrigão faz parkour na mureta do prédio, se revolta contra a “mamãe” tirana, chega nas “gatinhas” com tremenda audácia e não tem a menor noção do ridículo.

“Quis trazer essa autoconfiança masculina exagerada, os movimentos meio travados, meio de um boneco de marionete. Ele é uma figura arquetípica, todo mundo me fala que conhece um Rodrigão”, diz. O personagem tem um quê de Michael Scott, o icônico chefe sem noção do “The Office”, vivido por Steve Carrell.

O americano está entre as principais referências de Rodrigo no humor, ao lado de Paulo Gustavo, Tata Werneck, Jordan Peele, Fausto Carvalho, Rowan Atkinson e Charles Chaplin. “Gosto do humor leve, que não agrida ninguém. Não tem a menor graça deixar uma pessoa desconfortável. A ação da comédia tem que ser em direção a você, nunca em relação ao outro”, avalia.

DEMOCRACIA DA INTERNET

Com incentivo do irmão, o “Léo Cupuaçu”, e da mãe, Luciana Mota, que também aparece nos vídeos, Rodrigo passou a gravar com mais consistência. Hoje, já vive de publicidade na internet. Em uma delas, ele ganha um apartamento da “mamãe”, mas fica revoltado e foge de patinete.

Enquanto o bad boy de Moema se recusa a crescer, Rodrigo, 28, precisou virar adulto quando nasceu sua filha, Bibi, hoje com um ano de idade. “Sempre fui muito perdido, muito sonhador. Fui mimado pelos meus pais. Idealizava vários projetos, mas colocava mais energia na idealização do que em fazer. Se não fosse minha filha, eu ainda estaria completamente perdido. Ela me trouxe um eixo para eu me estabilizar como adulto”, conta.

Após anos levando negativas dos testes para publicidade e TV, Rodrigo rompeu com o preconceito que tinha contra a internet. “Tive momentos em que eu queria ir contra o digital, achava uma coisa rasa. Hoje, vejo de outra forma. A internet é a maior democracia artística da história”, defende.

“Nunca a arte foi tão democrática. Independente de onde a pessoa vier, da origem, não tem mais essa barreira das pessoas que mandam, das panelas. O mercado de ator é muito difiícil. A gente faz curso atrás de curso, faz teste pra caramba. Tenho que ser muito grato à internet”, afirma.