SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O rendimento médio das pessoas no setor público é cerca de 71,7% maior do que o dos trabalhadores do setor privado (tirando os domésticos), apontam dados do Censo 2022, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As médias de rendimento mensal eram de R$ 4.131 e R$ 2.406 (ou R$ 4.741 e R$ 2.761, em valores atuais corrigidos pela inflação) para profissionais dos setores público e privado, respectivamente.
Os dados relativos à remuneração no setor público abarcam todos os tipos de relação com a administração pública: funcionários estatutários e também não concursados (inclusive pessoas sem carteira de trabalho assinada) e de estatais. Não entram nessa conta os dados relativos a militares das Forças Armadas, da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros.
No Censo anterior, de 2010, as informações foram apresentadas de forma diferente, o que dificulta uma comparação com os números do período mais recente. Naquela ocasião, os dados sobre rendimentos médios de militares e de funcionários públicos foram apresentados em conjunto.
EXPANSÃO E RETRAÇÃO ECONÔMICA
A comparação é entre o conjunto de profissionais dos setores público e privado, e não entre pessoas com cargos semelhantes nas duas esferas.
“No nível federal, a dificuldade reside no fato de que muitos cargos do governo não possuem uma contrapartida no setor privado. Não há, por exemplo, a figura de um juiz ou de um ministro na iniciativa privada, o que impede uma comparabilidade salarial direta”, diz o economista Fernando Fabian de Freitas Martins.
Há estudos que dizem que, mesmo para funções semelhantes, os ganhos são maiores no setor público. “Em parte, os salários dos servidores são maiores por seus melhores atributos em termos de escolaridade e experiência. Contudo, até mesmo quando se controla por essas características observadas, os funcionários públicos contam com rendimentos superiores aos trabalhadores privados”, afirma-se no estudo “Diferencial Salarial Público-Privado Contribui para a Desigualdade de Renda?” publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) e de autoria de Joana Costa, Fernando Gaiger Silveira, Bruna de Souza Azevedo e Sandro Sacchet de Carvalho.
Fernando Martins, cuja tese de mestrado pela Universidade Federal de São Paulo é sobre os fatores que influenciam a diferença de rendimentos nos setores públicos e privado e seus efeitos sobre a atividade econômica, afirma que há muita heterogeneidade nos pagamentos no funcionalismo e que, geralmente, funcionários de prefeituras ganham até menos do que os empregados do setor privado, mas servidores das outras esferas da administração pública recebem mais.
“Em períodos de expansão da economia, esse diferencial diminui, pois o [pagamento aos profissionais] do setor privado cresce, e o do setor público é mais rígido em contratação, demissão e reajuste. Existe um movimento de sanfona, a depender da taxa de desemprego. Hoje, com a taxa em baixa, a expectativa é que o diferencial seja menor”, afirma Martins.
A taxa de desemprego do Brasil ficou em 5,6% no trimestre até agosto, a mínima da série histórica iniciada em 2012, segundo o IBGE.
O trabalho dele, no entanto, mostra que esse comportamento contracíclico da diferença salarial tem um limite. Quando as taxas de emprego são muito altas (aproximadamente 9,4%) há um ponto de inflexão.
“Quando passa dessa taxa [de desemprego], há mecanismos para diminuir a remuneração do funcionalismo público, pode ser corte de benefício ou fatiar um reajuste em vários períodos, por exemplo.”
Outro fator que influencia esse prêmio salarial é o ciclo eleitoral: em anos de votação para governador e presidente, como será 2026, a diferença aumenta.
No total, os empregados do setor público (sem levar em conta militares, policiais militares e bombeiros) representam 12,7% de todos os trabalhadores do Brasil.
MULHERES SÃO MAIORIA E GANHAM MENOS
O Censo 2022 também apresenta dados sobre o tamanho da força de trabalho em cada um dos setores e a divisão por gênero.
As mulheres são maioria (59,6%) dos profissionais do setor público.
Paula Frias, coordenadora de dados na República.org, afirma que essa predominância se deve, em parte, ao crescimento dos serviços universalizados após a Constituição de 1988, como saúde e educação, que demandaram uma expansão do corpo burocrático, especialmente nos níveis municipal e nas atividades-fim (no jargão de quem estuda esses temas, são os “burocratas de nível de rua”).
Juntas, a saúde e educação somam quase 50% de toda a força do serviço público, ela afirma, e são carreiras ocupadas predominantemente por mulheres.
As mulheres são mais representativas em carreiras que remuneram menos, segundo Paula. “Elas estão presentes nos cargos que têm menos acesso ao poder e à tomada de decisão. Na esfera federal, por exemplo, mulheres não são maioria.”
Os números do Censo vão na linha do que ela afirma: a remuneração média dos homens do serviço público é 29,6% maior que a das mulheres.




