RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Integrantes do Comando Vermelho ostentavam joias, armas e dinheiro nas redes sociais, segundo o relatório de investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que apontou os alvos da megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão na última terça-feira.

O QUE ACONTECEU

Na investigação, a polícia reuniu fotos, dados pessoais, trocas de mensagens e vídeos que comprovam a atuação de integrantes da facção criminosa. Entre eles está Eduardo Lisboa de Freitas, vulto “Du Mec”, apontado como gerente do tráfico de confiança das lideranças do Complexo da Penha.

“Du Mec” tem como função controlar o fluxo de dinheiro da organização, analisando o recebimento de drogas. No documento, ele é conhecido por exibir armamentos de uso restrito.

Outro alvo é Luiz Felipe Coelho, conhecido como Coruja, que deixava claro em suas redes sociais que fazia parte da chamada Tropa do Urso —comando de Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso. Coruja possui quatro anotações criminais, entre elas, latrocínio, porte ilegal de arma e corrupção de menores, além de um mandado de prisão em aberto. Ele gostava de exibir armas e cordões de ouro.

O relatório também cita Carlos da Costa Neves, o Gadernal, responsável pela organização do poder bélico da facção na Penha e em comunidades próximas. Segundo a investigação, Gadernal ostentava fuzis, carros de luxo e joias, e controlava parte do dinheiro vindo do tráfico e de outras atividades ilícitas.

Além das publicações em redes sociais, a polícia identificou grupos de WhatsApp usados pelos criminosos para monitorar a movimentação policial e coordenar ações em diferentes pontos da comunidade. Além da arrecadação com o tráfico, relatório do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio aponta Juan Breno Malta Ramos, conhecido como “BMW”, por fazer lavagem de dinheiro através de uma pizzaria na Gardênia Azul. Há indícios de que o negócio era usado para mascarar o lucro do tráfico.

Com a ascensão dentro da facção, ele passou a controlar câmeras de monitoramento instaladas no Complexo da Penha e na comunidade da Gardênia Azul, sendo algumas delas com sensores de movimento usadas para vigiar entradas e saídas das áreas dominadas. O relatório indica ainda que Juan Breno possui autonomia financeira e operacional, a ponto de autorizar pagamentos a grupos rivais para liberar comparsas presos.

CHEFE DO CV SEGUE FORAGIDO

O documento aponta quatro lideranças da facção. Entre eles está Doca, Pedro Bala, Gadernal e Grandão, além de 15 gerentes do tráfico e 28 soldados, segundo a polícia.

Doca é apontado como o chefe do tráfico de drogas do Complexo da Penha, na zona norte do Rio. O criminoso chegou a ser preso há 18 anos, mas conseguiu fugir em 2017. Ele tem condenações por tortura, homicídio e tráfico. Na hierarquia da facção, Doca só estaria abaixo de nomes históricos que estão presos, como Fernandinho Beira-Mar, preso há 24 anos, e Marcinho VP, preso há 31 anos.

Ele é investigado por mais de 100 homicídios e mais de 20 mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Um deles é o caso que envolveu os três meninos que desapareceram em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, em 2021. Segundo as investigações, o traficante mandou assassinar todos que mataram as crianças. Ele também é apontado pela polícia como responsável pela tentativa de sequestro do helicóptero do piloto Adonis Lopes.

MEGAOPERAÇÃO NO RIO

Megaoperação deixou 121 mortos, incluindo quatro policiais. Entre os 117 suspeitos assassinados, o IML Afrânio Peixoto já identificou 99 corpos e liberou 89 deles. Veja aqui os nomes dos mortos identificados.

Do total de suspeitos mortos, 42 estavam foragidos. Além disso, 78 alvos apresentavam relevante histórico criminal, informou o governo do Rio.

O número de mortos no RJ nesta semana ultrapassa o massacre do Carandiru, em São Paulo, em 1992, quando 111 detentos foram mortos. Outras nove pessoas ficaram feridas, entre elas três moradores e seis policiais — quatro civis e dois militares.

O IML Afrânio Peixoto foi fechado para receber exclusivamente os corpos da operação. A Defensoria Pública montou um posto de atendimento para auxiliar as famílias na identificação das vítimas.

A polícia diz que a operação foi planejada durante um ano e teve como alvo lideranças do CV. Segundo os investigadores, os chefes da facção controlavam o tráfico em diferentes regiões do estado. Foram apreendidas 118 armas, incluindo 91 fuzis. O material recolhido segue em análise pelos órgãos de segurança.