WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Solto da prisão após receber perdão do presidente Donald Trump, o ex-deputado George Santos diz que agora tenta se dedicar a reformas no sistema penitenciário.

Filho de imigrantes brasileiros, Santos foi condenado em abril deste ano a sete anos de prisão por fraude eletrônica e roubo de identidade. Em 2023, foi também o primeiro parlamentar expulso do Congresso dos Estados Unidos em mais de 20 anos devido às acusações.

Ele entregou-se às autoridades para cumprir a pena em 25 de julho de 2025 e ficou detido até 17 de outubro, quando Trump, sem aviso prévio, decidiu conceder perdão presidencial a ele e eliminar sua condenação.

Santos foi solto numa sexta-feira e relatou à Folha de S.Paulo que no dia seguinte teve uma conversa privada com o presidente, no qual expressou suas preocupações com as condições da prisão. “O que posso dizer é que acho que não estamos fazendo reabilitação dos presos. Disse a ele que eu queria me engajar em projetos de reforma do sistema prisional”, afirma.

Dos quase três meses que ficou preso, Santos relata ter ficado detido numa solitária por 41 dias. “Fui posto em isolamento, tratado como um animal, torturado. Eu tive uma comunicação de 15 minutos com a minha família, algemado nas mãos e nos pés, como se fosse um assassino”, afirma.

O advogado de Santos, Joe Murray, disse ao jornal The New York Times que seu cliente foi colocado em solitária devido a uma ameaça à sua vida, depois descartada pelo FBI. À publicação, o Escritório de Assuntos Públicos do Departamento de Prisões informou que não pôde responder a um pedido de comentário sobre suas práticas de custódia protetiva devido à paralisação do governo federal.

Para ele, o tratamento não contribui para a regeneração de detentos. Santos diz que, como parte desse projeto, esteve nesta sexta-feira (31) em Washington para reuniões com autoridades do sistema prisional do Departamento de Justiça. Afirma ainda que está trabalhando em um projeto de lei para evitar que a pasta seja aparelhada para uso político –o que ele acusa a gestão de Joe Biden, não a de Trump, de ter feito.

Nascido em Nova Jersey, Santos foi eleito deputado em 2022, mas em pouco tempo recebeu questionamentos sobre a arrecadação de fundos e a veracidade de partes da sua biografia. O Departamento de Justiça o investigou e acusou de 23 crimes, entre eles fraude e roubo de identidade.

Embora tenha se declarado culpado, agora Santos diz que nem todas as acusações são procedentes, sem detalhar à Folha quais seriam falsas, mas reforçando que nunca desviou dinheiro público.

“A gente se declara o que a gente tem que se declarar mediante a situação e circunstâncias na qual a gente está. Óbvio que eu não vou dizer que eu sou livre de culpa, mas eu também não sou culpado de tudo que foi jogado contra mim. Infelizmente, mediante as circunstâncias e a administração que a gente tinha no momento, você é forçado praticamente a aceitar o que eles estão ditando ou você sofrerá consequências maiores”, afirma.

Um relatório produzido pelo Comitê de Ética da Câmara encontrou evidências de que Santos desviou recursos de campanha para gastos pessoais, incluindo compras de itens de luxo, aplicação de botox e acesso ao site de conteúdo erótico OnlyFans.

“Como a gente diz no Brasil, eu tenho culpa no cartório, né? Mas, ao mesmo tempo, eu também não sou o monstro que as pessoas tentaram me pintar.”

A decisão de Trump de perdoar Santos gerou surpresa no meio político dos EUA. Antes de se entregar neste ano, ele pediu que o presidente lhe concedesse o indulto, mas não conseguiu. Depois, em 22 de setembro, a deputada republicana Marjorie Taylor Greene voltou a pedir que Trump perdoasse Santos, afirmando que ele estaria sendo torturado na cadeia.

Em outubro, Trump concordou, fazendo referência a um caso antigo de outro parlamentar acusado de falsear sua biografia, o senador democrata Richard Blumenthal, acusado de mentir sobre o próprio histórico militar na Guerra do Vietnã. “George Santos era um pouco rebelde, mas há muitos rebeldes no nosso país que não precisam cumprir sete anos de cadeia”, escreveu Trump em sua rede social.

“Pelo menos Santos teve coragem, convicção e inteligência de sempre votar em republicanos”, afirmou o presidente. “George está na solitária por longos períodos de tempo e, aparentemente, foi tratado terrivelmente. Por isso, acabo de assinar sua comutação, libertando George Santos da prisão imediatamente. Boa sorte, George, tenha uma ótima vida!”

Santos diz não saber exatamente quem atuou pelo seu perdão na Casa Branca, mas diz ter amigos no governo e afirma ser muito grato ao presidente americano. “Agora, quero me redimir.”