SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Organizações da sociedade civil afirmam ter recebido um número menor de crachás para a COP30 em relação às conferências anteriores das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. Em alguns casos, o total de credenciais para a edição de Belém equivale à metade dos últimos anos, segundo membros das instituições.

O acesso ao espaço oficial de negociação entre os países na cúpula, conhecido como zona azul, exige credenciamento prévio. A UNFCCC, a convenção da ONU para o clima, é a única responsável por autorizar ou negar os pedidos.

A Campanha Global para Demandar Justiça Climática (DCJ, na sigla em inglês), rede composta por mais de 250 entidades, participa de todas as COPs desde 2013. Rachitaa Gupta, coordenadora do movimento, afirmou que houve uma redução significativa na quantidade de crachás neste ano.

“Algumas das nossas organizações receberam 8, 12 credenciais no passado, mas agora só conseguiram 3”, disse. A maioria dos membros é da Ásia, África e América Latina, segundo ela.

A ONG argentina Sustentabilidad Sin Fronteras recebeu apenas três crachás para a conferência em Belém, de acordo com Mariano Villares. Após uma reclamação à UNFCCC, conseguiram mais dois, totalizando cinco. O número representa uma redução de 50% em relação à COP29, em 2024, quando a entidade contou com dez credenciais.

A organização La Ruta del Clima, da Costa Rica, teve o mesmo corte. “Para esta COP nos deram cinco, e na COP29 nos deram dez”, afirmou Jennifer Rojas.

A CAN (Climate Action Network), uma das maiores redes mundiais de clima, disse ter recebido 50 credenciais para a edição deste ano. A organização contou com 80 crachás na conferência de 2024 e 77 na COP28, em 2023.

O Observatório do Clima conseguiu sete crachás para a COP29. Neste ano, a ONU concedeu apenas três, mas depois forneceu mais dois, graças a um recurso, segundo Marcio Astrini, secretário-executivo da organização

A UNFCCC afirmou que houve um aumento significativo no número de entidades credenciadas para as conferências, enquanto a capacidade dos eventos permanece estável. De acordo com a ONU, o crescimento da demanda naturalmente provoca uma redução no total de crachás concedidos a cada instituição.

“Não se trata de restringir a participação de qualquer grupo específico, mas sim de um reflexo do crescente interesse, que afeta a todos”, declarou um porta-voz da organização.

Ilona Szabó, presidente do Instituto Igarapé e colunista da Folha, afirmou que muitas pessoas não conseguiram credencial para a cúpula. “De um lado, eu sinto muita pena, porque essa poderia ser a maior COP da história. Todo mundo que acredita nessa agenda está com muita sede de engajamento”, avalia.

“Tenho escutado que o Brasil vai ter três COPs: uma no Rio de Janeiro, uma em São Paulo, e outra em Belém”, disse.

Segundo ela, alguns optaram por participar de eventos paralelos nas capitais paulista e fluminense porque não conseguiram a credencial para a zona azul. Também disse ter recebido comentários de pessoas que, após uma reflexão particular, perceberam que não teriam um papel central na cúpula e optaram por não pedir o crachá.

“O primeiro grupo que sente o impacto [da redução] do credenciamento é a sociedade civil”, disse Gupta. “Se o número de credenciais diminuir, especialmente para o Sul Global, significa que terão menos pessoas dentro das salas de negociação e dos processos da UNFCCC.”

A convenção da ONU para o clima afirmou que atua para garantir a representação equilibrada de organizações de países em desenvolvimento.

Para Gupta, as entidades sociais têm o papel de observar o andamento das discussões entre os países e estimular ações mais ambiciosas. Com a presença reduzida, essa atuação seria prejudicada, disse.

“As piores decisões das COPs aconteceram porque a sociedade civil não conseguiu se reunir para manifestar suas demandas”, afirmou, citando como exemplo o acordo para o fundo de perdas e danos climático na COP27, em 2022, cuja aprovação ela atribui, em parte, à pressão dessas organizações.

Cerca de 300 membros da DCJ estarão em Belém, de acordo com coordenadora do movimento. A expectativa, entretanto, era de mobilizar até 700 pessoas.

“Algumas das nossas organizações planejavam enviar 50 membros, agora vão enviar só 15 ou 20”, disse Gupta. Ela afirmou que 70% dos integrantes da delegação irão embora após a primeira semana da conferência, devido aos custos de hospedagem.

Para Villares, da ONG Sustentabilidad Sin Fronteras, “a demora em confirmar a quantidade de credenciais, somada ao alto custo de acomodação, impediu a participação de muitos dos nossos membros”.

O governo federal afirmou que tomou medidas para tornar a participação mais acessível, incluindo opções de alojamento de baixo custo, como dormitórios universitários, escolas e instalações de habitação temporária.