RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O governo do Rio de Janeiro vai indenizar a família de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 23, morto durante uma incursão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) no morro Santo Amaro, na zona sul da cidade, em 7 de junho deste ano. O acordo, mediado pelo Ministério Público estadual, foi assinado nesta quinta-feira (30).
O estado se comprometeu a pagar indenizações por danos morais aos familiares e pensão mensal ao filho de Herus, de dois anos, até que ele complete 18 anos -ou 24, caso curse o ensino superior. Os valores deverão ser pagos no prazo de 60 dias aos pais, ao filho, à companheira, às avós e aos tios da vítima.
O jovem foi baleado na barriga enquanto participava de uma festa junina tradicional da comunidade, que reunia grupos de várias regiões do estado. Ele trabalhava como office boy em uma imobiliária e sonhava em ser designer gráfico. Segundo familiares, foi atingido quando saiu para comprar comida e refrigerante para a mãe. Outras cinco pessoas ficaram feridas.
Mesmo socorrido pelos pais, Herus não resistiu após ser levado a um hospital particular da região.
“É um conforto, principalmente pensando no Theo [filho de Herus], que era sustentado pelo Herus. Essa sempre foi nossa maior preocupação”, disse a mãe do jovem, Monica Guimarães. “Mesmo todos trabalhando, esse apoio é importante para garantir à família um pouco mais de estabilidade, inclusive emocional. A dor não passa, e sabemos que não vai passar, apenas vamos aprender a conviver com ela.”
O acordo foi firmado após uma série de sessões de mediação conduzidas pela Coordenadoria de Autocomposição do Ministério Público, em parceria com a Câmara Administrativa de Soluções de Conflitos da Procuradoria-Geral do Estado. Segundo o órgão, a medida busca assegurar uma reparação rápida à família e não interfere na investigação criminal em andamento sobre a morte de Herus.
Após o episódio, o governador Cláudio Castro (PL) exonerou os coronéis Aristheu de Góes Lopes, comandante do Bope, e André Luiz de Souza Batista, do COE (Comando de Operações Especiais). Doze dos 18 policiais que participaram da ação foram afastados, e suas armas apreendidas.
Na época, a Polícia Militar afirmou que o Bope realizava uma “ação emergencial” para verificar a presença de criminosos armados e que “não houve revide” por parte dos agentes.
A Delegacia de Homicídios concluiu que o policial militar responsável pelo disparo agiu em legítima defesa diante do cenário de tiros, correria e ataque de traficantes.
Em depoimento, o sargento Daniel Sousa da Silva, do Bope, disse que foi o único de sua equipe a realizar disparos na ação. Ele afirmou que os tiros foram uma resposta a disparos de traficantes. A declaração do agente contraria o primeiro posicionamento da PM, que afirmava que os policiais não dispararam naquela noite.
Para a mãe de Herus, a indenização não encerra a busca por justiça. “Nada vai trazer meu filho de volta, mas esperamos que o que aconteceu sirva para mudar a forma como as operações são feitas nas comunidades. Que outras mães não passem pelo que estamos vivendo.”




