SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Indamedia, grupo de mídia da Hungria próximo ao governo de Viktor Orbán, adquiriu o Blikk, principal tabloide do país e um dos últimos veículos independentes da nação, seis meses antes das eleições gerais. O acordo, anunciado pelas duas empresas nesta sexta-feira (31), deve aumentar ainda mais o poder do premiê nacionalista acusado de minar a democracia húngara.
“Com a aquisição da Ringier Hungary, o grupo ganha uma empresa de mídia de alto desempenho, de porte semelhante ao da Indamedia, com forte presença no mercado e marcas de sucesso que desempenham um papel fundamental no cenário midiático húngaro”, afirmou Gabor Ziegler, que detém 50% da Indamedia, sobre a compra da empresa dona de diversos veículos, incluindo o Blikk.
A outra metade pertence a Miklos Vaszily, presidente do canal privado pró-governo TV2. Sua proximidade com Orbán já rendeu episódios polêmicos -em julho de 2020, apenas quatro meses após o empresário comprar 50% da empresa que controlava a publicidade do portal Index, o principal site de notícias da Hungria, o então editor-chefe do veículo, Szabolcs Dull, foi demitido e mais de 70 jornalistas deixaram a empresa em solidariedade ao profissional.
A demissão ocorreu após Dull criticar um novo projeto para o site. Segundo ele, o veículo estava “sob tamanha pressão externa que poderia significar o fim da equipe editorial”. A direção afirmou na ocasião que o jornalista teria sido demitido por divulgar à imprensa documentos internos.
Ainda não se sabe se o Blikk será palco de situações semelhantes sob a ingerência de Vaszily, mas a compra deve ameaçar ainda mais a diversidade de vozes na imprensa húngara, que se tornou cada vez mais pró-Orbán após o político voltar ao poder, em 2010 -naquele ano, o país ocupava a 23ª colocação na classificação mundial da liberdade de imprensa feita pela ONG Repórteres sem Fronteiras; atualmente a nação está em 68º lugar.
“Desde que chegou ao poder, em 2010, Orbán não para de minar o pluralismo e a independência da mídia”, segundo a organização. “Graças a manobras político-econômicas e à compra de veículos de comunicação por oligarcas aliados, o Fidesz, o partido no poder, agora controla 80% do cenário midiático húngaro.”
Foi esse rígido controle da mídia que ajudou Orbán a vencer as últimas eleições no país. Nos últimos 15 anos, a mídia estatal passou a ser controlada pelo governo, e muitos veículos privados foram fechados ou comprados por proprietários alinhados ao governo.
A mais recente movimentação no cenário midiático é providencial para Orbán: em abril, o premiê deve enfrentar o Tisza, um novo partido de oposição de centro-direita que atualmente lidera a disputa segundo a maioria das pesquisas.
O líder da sigla, Peter Magyar, criticou o acordo em um comunicado, afirmando que a ação representa uma tentativa de Orbán de consolidar seu controle sobre os meios de comunicação da Hungria.
“Orbán e seus comparsas estão tão apavorados com a derrota eleitoral que nem sequer fingem mais. Gastam centenas de bilhões de florins de dinheiro público em propaganda e no cerceamento da imprensa independente”, afirmou.
Um porta-voz do governo e a Indamedia não responderam às perguntas da agência de notícias Reuters.




