RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Com placas pedindo a saída do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, manifestantes se reuniram no Campo do Ordem para protestar após a morte de 121 pessoas durante megaoperação da polícia nesta semana.

O QUE ACONTECEU

Entre manifestantes estavam pessoas que relataram agressões. Mototaxistas e motoristas de vans que atendem a Penha também participaram do ato, assim como representantes de movimentos sociais.

“Me chamaram de vagabunda porque eu tenho o cabelo vermelho”, disse mulher de 57 anos. Uma das presentes no local, que se identificou somente como Elizabeth, narrou que levou chutes de policiais, que a chamaram de membro do Comando Vermelho porque ela ter o cabelo tingido.

Versão dada pela polícia, que afirmou que vai investigar por fraude processual quem tirou os corpos de área de mata, também foi questionada durante o ato. “Quem tava ali [buscando os corpos] era esposa, filhas e mães. Como uma mãe vai decapitar o corpo do filho, gente?”, questiona.

Moradora do Complexo, Ana* tem uma filha de 10 anos que viu corpos expostos após ação. A criança está abalada e vive com medo desde então, segundo a mulher.

Minha filha fecha o olho e ela vê corpo. Minha filha tá tomando remédio para dormir.Testemunha de operação na Penha, ao UOL

Para alguns dos moradores ouvidos, operação não acabou com crime e ajudou a fomentar má impressão que alguns moradores têm da polícia. “O que um filho de 14 anos vai virar quando ver o pai ali, torturado?”, diz Jéssica Mota, moradora da Penha.

Ponto de partida da manifestação fica a pouco mais de 200 metros de onde corpos recuperados na mata foram enfileirados na quarta-feira. Grupo se organizou no Campo do Ordem, na Vila Cruzeiro, a minutos da Praça São Lucas.

Manifestação deixou o campo do ordem pedindo o fim da Polícia Militar. A praça São Lucas, onde mais de 60 corpos foram enfileirados na terça-feira, foi um dos primeiros lugares onde o grupo passou.

Políticos do Rio de Janeiro acompanham a manifestação. Participam do movimento os deputados federais Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Tarcísio Motta(PSOL-RJ). A vereadora Mônica Benício (PSOL) também acompanha o ato.

QUASE 100 CORPOS IDENTIFICADOS

Ao todo, 99 corpos foram identificados por familiares até a manhã desta sexta-feira (31), informou a polícia. Outras 18 pessoas seguem sem identificação no Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto, no Centro do Rio.

Quase quarenta mortos são de outros estados e a maioria deles veio do Pará (18). Sete corpos são de pessoas do Amazonas, seis da Bahia, quatro do Ceará, quatro de Goiás, três do Espírito Santo, um da Paraíba e um de Mato Grosso, segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Chefes do tráfico de Manaus, Feira de Santana e do estado de Goiás foram mortos, segundo a PCERJ. O secretário de Polícia Civil do estado, Felipe Curi, afirmou que o Alemão e a Penha viraram “QG internacional” do Comando Vermelho no Rio.

IML do Rio foi fechado para receber somente os corpos das vítimas da operação. Todos os outros corpos que precisam passar por necropsia no Rio foram levados para o IML de Niterói.

A OPERAÇÃO

Operação Contenção tornou-se a mais letal do país, passando o massacre do Carandiru. Em 1992, o complexo penal em São Paulo foi palco da maior chacina ocorrida em uma prisão brasileira. O episódio durou 30 minutos e provocou a morte de 111 detentos.

Polícia do Rio prendeu 113 pessoas e apreendeu dez adolescentes. Entre os detidos, 33 são de outros estados. Segundo a Polícia Civil, foram apreendidas 118 armas, entre elas 91 fuzis. O número exato de drogas e munições apreendidos não foi informado pelos órgãos e ainda é contabilizado.