SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Hospital Moinhos de Vento, em parceria com a Mayo Clinic (Estados Unidos), realizou uma revisão sistemática de ensaios clínicos focados em novas terapias para a leucemia linfocítica crônica, que afeta as células linfoides em adultos. O objetivo é reunir em uma única publicação as novas terapias para a doença, facilitando estudos posteriores.

A doença acomete principalmente pessoas acima de 55 anos e tem desenvolvimento lento, mas também pode afetar adultos jovens, para os quais o desafio terapêutico é maior devido à necessidade de controle da doença por décadas.

Mesmo ganhando uma sobrevida de 20 anos com os tratamentos tradicionais, as pessoas mais jovens precisariam de métodos mais eficazes que prolongassem ainda mais essa sobrevida, explica Ricardo Menezes, hematologista do Hospital Moinhos de Vento e fellow da Mayo Clinic.

Além dos jovens, as novas terapias são destinadas principalmente para pacientes duplamente refratários, que são entre 10 e 15%. Esses pacientes são os resistentes às duas principais terapias do mercado: inibidores de BTK (tirosina quinase de Bruton) e inibidores de BCL-2 (proteína associada à sobrevivência das células do câncer).

“Muita gente pensa que a doença está resolvida [com os tratamentos atuais]. Só que muitas vezes as pessoas acabam esquecendo que tem pessoas de 35 anos, 40 anos que têm a doença”, diz Menezes.

A revisão, publicada na revista Cancers, da editora MDPI, buscou ensaios realizados entre 2020 e 2025 e analisou 110 terapias promissoras para a leucemia linfocítica crônica. As terapias foram agrupadas em cinco principais grupos que poderiam fazer diferença para os pacientes refratários:

Pirtobrutinibe, também chamado de “BTK inteligente”, um inibidor de nova geração capaz de superar as resistências que limitavam os tratamentos anteriores;

Degradadores de BTK, que além de bloquear as proteínas problemáticas, as destroem, reduzindo o risco do câncer voltar;

Moléculas multialvo, que são substâncias que têm potencial para tratar tipos diferentes de câncer ao mesmo tempo;

Terapias celulares como a CAR-T Cell, que transforma linfócitos T em atacantes das células cancerígenas;

Anticorpos designer, biespecíficos e triespecíficos, funcionando como pontes que conectam células do sistema imunológico diretamente às células cancerosas.

O melhor tratamento pode variar de paciente para paciente. A idade, saúde do sistema imunológico, presença ou não de mutações são questões que interferem na escolha da terapia.

Em relação aos efeitos colaterais, os médicos dizem que não há tantas diferenças. Cada terapia tem um efeito adverso diferente, mas eles se mantêm. “Todas as medicações têm efeitos colaterais”, afirma Menezes. “As medicações orais tendem a ter um pouco menos.”

A hematologista Erica Ottoni, também do Hospital Moinhos de Vento, explica que todo paciente com leucemia linfocítica crônica é imunossuprimido e corre um risco maior de ter infecções, que é agravado tanto pela doença quanto pelos tratamentos. “Por isso, os pacientes com a doença deveriam se manter vacinados, independentemente de se eles estão ou não em tratamento”, afirma.

Ottoni diz que o mais acessível das novas terapias no Brasil é o pirtobrutinibe, que está aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e é o mais utilizado em pacientes refratários.

Algumas terapias celulares também estão aprovadas no Brasil, mas Ottoni diz que o custo elevado do tratamento é uma barreira, dessa e de outras das terapias promissoras.

“Hoje, a maioria dos pacientes que fazem terapia celular enfrentam processos judiciais contra as operadoras de saúde, o que é uma coisa muito pouco saudável para o sistema de saúde suplementar e para o sistema de saúde do Brasil todo”, afirma a médica.

No SUS (Sistema Único de Saúde), o tratamento padrão ainda é a quimioterapia e o medicamento rituximabe, um anticorpo utilizado também em outras doenças autoimunes. As terapias avançadas, mesmo os inibidores da BTK e de BCL-2, não estão disponíveis para os pacientes da rede pública.