SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a primeira observação oficial feita em 1º de julho por um telescópio da Nasa, o 3I/Atlas vem chamando atenção de leigos e especialistas em astronomia. Não é para menos: esse é somente o terceiro objeto interestelar já registrado por humanos no Sistema Solar.
A novidade também gera dúvidas e receios. Será que o 3I/Atlas representa algum perigo para a Terra? Qual a origem do objeto? O que exatamente ele é?
Para responder a essas e a outras perguntas, a Folha de S.Paulo conversou com Jorge Carvano, astrônomo do Observatório Nacional.
O QUE É O OBJETO INTERESTELAR 3I/ATLAS?
O 3I/Atlas é um cometa e, como todo cometa, ele é formado pela mistura de diferentes elementos. Gelo e poeira são dois exemplos, mas a lista se estende a outros compostos.
A determinação de que ele é um cometa ocorreu por algumas características já observadas no objeto. Por exemplo, o 3I/Atlas está cercado de uma nuvem de poeira, algo comum em cometas, explica Carvano.
QUANDO E COMO FOI DESCOBERTO O 3I/ATLAS?
O cometa foi observado pela primeira vez em 1º de julho pelo Atlas (Sistema de Alerta Final de Impacto Terrestre de Asteroides), um telescópio da Nasa localizado no Chile.
Segundo a agência americana, antes da descoberta oficial, já havia registros do cometa feitos por outros telescópios. “Essas observações pré-descoberta remontam a 14 de junho de 2025”, informa a Nasa.
JÁ É POSSÍVEL DETERMINAR DE ONDE O 3I/ATLAS VEIO?
Existem hipóteses, mas é difícil estipular a origem exata do cometa.
Carvano explica que a formação do 3I/Atlas ocorreu a partir de uma estrela de outra galáxia. Após isso, a hipótese é que o cometa foi expulso durante a formação do sistema planetário da galáxia.
“Dizer exatamente sua origem é muito difícil, e o melhor que podemos esperar é tentar definir de que parte da galáxia ele veio. Não há no momento nenhum consenso sobre isso”, resume Carvano.
Embora a origem do cometa seja incerta, foi a análise de sua trajetória incomum que fez com que surgisse a suspeita de se tratar de um objeto interestelar. “Essa hipótese foi confirmada por observações de diferentes equipes ao redor do mundo”, continua Carvano.
Tal confirmação ocorreu por observações de que a órbita do cometa é hiperbólica. Em outras palavras, o 3I/Atlas não está preso gravitacionalmente ao Sol, indicando que o cometa tem origem fora do Sistema Solar.
E QUAL SERÁ A TRAJETÓRIA DO 3I/ATLAS DEPOIS DA PASSAGEM PELO SISTEMA SOLAR?
Essa é outra pergunta ainda em aberto, mas Carvano aponta que, após cruzar o Sistema Solar, o cometa deve continuar uma trajetória no espaço profundo sem possibilidades de retorno.
A Nasa estima que a passagem do 3I/Atlas terminará sua trajetória muito perto do Sol somente em dezembro, reaparecendo do outro lado da estrela após isso.
O 3I/ATLAS PODE ATINGIR A TERRA?
De fato, estimativas apontam que o cometa está se aproximando da Terra. Em julho, quando o objeto foi observado pela primeira vez, a distância dele para a Terra era de cerca de 670 milhões de quilômetros. Mas a Nasa estima que essa distância deve cair para até 270 milhões de quilômetros.
Mas não se preocupe: riscos de colisão são inexistentes. Mesmo com essa queda na distância entre o cometa e a Terra, o 3I/Atlas ainda está muito longe para representar qualquer tipo de ameaça ao nosso planeta.
É DIFÍCIL OBSERVAR OBJETOS INTERESTELARES?
Sim, objetos interestelares tendem a ser difíceis de serem observados, sendo o 3I/Atlas o terceiro desse tipo.
A primeira observação ocorreu em 2017 e aparentou ser um objeto rochoso avermelhado em forma de charuto. O nome dado a ele foi 1I/’Omuamua, e a observação foi inicialmente documentada por pesquisadores da Universidade do Havaí.
Já o segundo objeto interestelar foi descoberto na Crimeia pelo astrônomo amador Gennady Borisov em 2019 e foi nomeado 2I/Borisov como uma homenagem ao responsável pela observação. Esse foi o primeiro cometa interestelar registrado. Existem até suspeitas de que o 1I/’Omuamua possa ter sido um cometa também, mas não existem confirmações para tal hipótese.
A progressão desse tipo de registro tem relação principalmente com iniciativas voltadas à observação espacial, aponta Carvano. “A descoberta desta nova categoria de objeto é consequência do aumento no número de campanhas dedicadas ao mapeamento do céu e à melhoria das técnicas de análise de dados”, detalha o astrônomo.
O QUE SE PODE APRENDER A PARTIR DO ESTUDO DESSE COMETA?
Objetos interestelares têm origem em outros sistemas planetários e, por isso, eles tendem a ser formados a partir de materiais não usuais no Sistema Solar. Esse fato faz com que os objetos sejam úteis para entender sobre a formação de mundos distantes, afirma Carvano.
“Ainda são muito poucos objetos, mas cada um é único e, à medida que mais objetos são descobertos, eles podem permitir entender um pouco melhor o processo de formação de outros sistemas planetários”, completa o astrônomo.




