SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar ronda a estabilidade nesta sexta-feira (31), com dados de desemprego do Brasil em foco.
Em dia de agenda esvaziada no exterior, a formação da Ptax de fim de mês também norteia as negociações no mercado de câmbio.
Às 12h48, a moeda tinha variação positiva de 0,1%, cotada a R$ 5,385. Já a Bolsa avançava 0,27%, a 149.190 pontos, a caminho de renovar o recorde pelo quinto dia seguido.
Nesta manhã, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelaram que a taxa de desemprego do Brasil foi de 5,6% no trimestre até setembro, levemente abaixo do patamar de 5,8% registrado nos três meses encerrados em junho, que servem de base de comparação.
Com o resultado, o indicador voltou a marcar o menor nível da série histórica iniciada em 2012, de acordo com o instituto.
A mínima de 5,6% já havia sido verificada nos trimestres até julho e agosto de 2025. O IBGE, contudo, evita a comparação direta entre intervalos com meses repetidos, como é o caso dos finalizados em julho, agosto e setembro.
Ainda, na quinta, dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) fortalecem a percepção de que o mercado de trabalho segue aquecido. Foram abertas 213 mil vagas em setembro, ante projeção da Bloomberg de 170 mil novos postos.
Além do emprego em nível recorde, a renda também está no maior patamar da série histórica: o rendimento real cresceu 4% no ano, e a massa de rendimento real, 5,5%. “Dito isso, há indícios de que possamos estar próximos a um ponto de virada: a estabilidade pelo terceiro ês consecutivo na taxa de desocupação sugere pico no indicador, o que é evidenciado pelo comportamento da taxa com ajuste sazonal, que também mostra estabilidade nos últimos meses”, diz André Valério, economista sênior do Inter.
É provável que as próximas leituras mostrem o início de uma desaceleração no mercado de trabalho, afirma ele.
Os dados de emprego têm entrado no foco dos investidores nos últimos meses, atentos às implicações dos recordes de empregabilidade na política monetária do BC (Banco Central). A autoridade “tem reforçado a mensagem de que se sente confortável em manter a Selic em nível elevado por conta da robustez do mercado de trabalho”, afirma Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), a mensagem passada ao mercado era de que a Selic seria mantida em 15% ao ano por tempo “bastante prolongado”. A autoridade monetária espera uma gradual convergência dos índices de inflação, em especial o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), à meta de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.
Com o mercado de trabalho aquecido e a massa salarial em nível recorde, é esperado que a demanda dos consumidores não desacelere a inflação tão cedo. O mercado agora precifica o primeiro corte da Selic ocorrendo apenas no segundo trimestre de 2026.
“A perspectiva de que os juros brasileiros vão ficar mais elevados por mais tempo tende a favorecer o nosso diferencial de juros e favorecer a atração de investimentos estrangeiros”, diz Mattos. Por outro lado, desfavorece investimentos em renda variável, já que aportes na renda fixa costumam ser menos arriscados.
Além disso, o BC divulgou que o setor público consolidado registrou um déficit primário de R$ 17,452 bilhões em setembro, em linha com expectativa de economistas consultados em pesquisa da Reuters. Com o resultado, a dívida pública bruta do país como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) fechou setembro em 78,1%, contra 77,5% no mês anterior. Já a dívida líquida do setor público foi a 64,8%, de 64,2%.
Os dados sugerem expansão nos gastos públicos, o que tende a acelerar a inflação no médio prazo.
O mercado também disputa a formação da Ptax de fim de mês. Calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros.
No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa), o que tende a gerar mais volatilidade no mercado cambial.
Além disso, os eventos da semana seguem no radar. Na quinta, os Estados Unidos e a China anunciaram um acordo comercial, que, na prática, significa uma trégua no conflito entre as duas maiores potências econômicas do mundo.
O governo de Donald Trump se comprometeu em reduzir as tarifas sobre produtos chineses para, em média, 47%, uma diminuição de cerca de 10 pontos percentuais. O de Xi Jinping, em troca, prometeu pausar os controles de exportação sobre terras raras e trabalhar “duro” para interromper o fluxo de fentanil, um opioide sintético que é a principal causa de mortes por overdose nos EUA.
Apesar de o acordo indicar uma desescalada no conflito, o mercado reagiu com ceticismo, Mattos.
“A leitura é que essa trégua ainda é bastante frágil. Muitas das coisas que foram concordadas nesse acordo só mantêm o status-quo por mais um tempo. Observa-se um temor de que a paz pode ser facilmente rompida de novo.”
Na quarta, além disso, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) decidiu por cortar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, agora na banda de 3,75% e 4% ao ano. Mas o presidente da autarquia, Jerome Powell, apontou que as próximas decisões de juros serão pesadas caso a caso. “Uma nova redução na taxa básica de juros na reunião de dezembro não está dada, longe disso”, afirmou.
O comentário foi um banho de água fria para os investidores, que viam a continuidade dos cortes em dezembro como uma certeza. “Ainda acreditamos que um corte de 0,25 é o mais provável, mas temos que reconhecer que Powell fez tudo o que pode para dizer que nada está garantido”, diz Danilo Igliori economista-chefe da Nomad.






