RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Ana Lucia Nunes, 48, conta ter passado terça (28) e quarta-feira sem ter ideia de que o filho Richard Souza dos Santos, 20, era um dos mortos na megaoperação nos complexos da Penha do Alemão.

Moradora de Piabetá, distrito de Magé, região metropolitana do Rio de Janeiro, Ana Lucia não sabia que o filho estava na capital. Soube quando recebeu uma fotografia do corpo, em mensagem enviada pela ex-companheira de Richard. Eram 10h de quinta, mais de 48 horas depois do início da operação que deixou 121 mortos, segundo contagem oficial.

Na foto, diz a mãe, o corpo estava junto ao pé de uma árvore na área de mata do complexo da Penha, onde aconteceu a maior parte do tiroteio entre traficantes e policiais.

Ana Lucia afirma ter acompanhado a operação assustada, mas sem indícios de que seu filho estava ali. Richard não costumava dar à mãe pistas de seu paradeiro. Fazia visitas rápidas e apressadas.

Ela fez um cadastro na quinta, quando chegou ao Detran do centro da cidade, onde as famílias de mortos são recebidas. Deu as características do filho e recebeu a informação de que o corpo havia sido reconhecido por meio das digitais, mas não viu o corpo pessoalmente.

“Se demorar mais, em que condições vou enterrar? Entrei na antessala do IML e ali já está fedendo”, afirma.

Ana Lucia conta ter feito acordo para que o enterro seja gratuito.

Ela aparenta desespero quando recebe a informação de que parte dos corpos está no chão do IML. Quem informa a ela é Ivone Viana Santos, 49, mãe de Wellington dos Santos de Jesus, 28, também morto.

Ana Lucia e Ivone se conheceram na porta do Detran. Em comum entre elas está o fato de terem pouco ou nenhum contato com moradores dos complexos.

Natural da Bahia e moradora de Vila Velha, no Espírito Santo, Ivone também soube por foto da morte do filho, na manhã de manhã. Embarcou no carro e dirigiu até o Rio para agilizar a liberação do corpo, mas ainda não conseguiu. De quinta para sexta dormiu em um abrigo público no centro. Nesta sexta não sabe onde vai dormir.

Espera receber até a noite a liberação do corpo para fazer o sepultamento em Eunápolis (BA), cidade natal da família.

Ivone diz saber que o filho mantinha envolvimento com o tráfico de drogas e que ele estava no complexo da Penha.

“Eu era a mais próxima [do Rio] por estar no Espírito Santo, meio do caminho entre Bahia e Rio. Deixei meu filho de 5 anos lá e estou aqui, no aguardo da ligação que não chega. Eu tinha uma visão do Rio de Janeiro que se destruiu. Estou completamente decepcionada com esse estado.”

A Polícia Civil afirmou que até a noite de quinta (30) cerca de cem corpos já haviam passado por necropsia e parte deles, ao menos 15, segundo a Folha de S.Paulo apurou, foi liberado. O Ministério da Justiça anunciou o envio de peritos para auxiliar na necropsia, exames de balística e identificação civil.