RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Uma parcela de 84,5% dos municípios gaúchos atingidos pelo desastre das chuvas de 2024 informou ter Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil, mas só 70,4% o executaram durante o evento climático de proporções históricas.
É o que aponta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a partir de uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira (31), a Munic (Pesquisa de Informações Básicas Municipais).
O levantamento considera questionários respondidos pelas próprias prefeituras sobre diferentes temas da administração.
Em 2024, o instituto incluiu um bloco específico sobre a tragédia do Rio Grande do Sul, que deixou pelo menos 184 mortos e 25 desaparecidos na virada de abril para maio, segundo a contagem do governo estadual.
Dos 497 municípios gaúchos, 459 (92,4%) informaram ter sido atingidos pelo evento climático, conforme o IBGE. Dessas 459 cidades, 388 (84,5%) declararam existir plano de contingência, mas somente 323 (70,4%) o executaram durante a crise, diz o instituto.
De acordo com a Munic, diferentes motivos impediram que o documento fosse colocado em prática.
Nos 65 locais com plano não executado, as razões apontadas foram as seguintes: dificuldades em recursos materiais, como equipamentos e viaturas (11), treinamento do setor responsável pela implementação (10), recursos humanos (9), recursos financeiros (8), sistema de alerta (7) e mapeamento de área de risco (6).
Outros motivos foram indicados por 51 desses municípios. Três não souberam informar.
A soma das respostas supera 65 porque o quesito permitia que mais de um item fosse assinalado. Ou seja, o plano pode não ter sido executado por mais de uma razão em cada local.
“O plano de contingência é um documento em que o município descreve o que deve ser feito numa situação de desastre e tenta planejar atividades, funções e meios para minimizar os efeitos desse evento”, afirmou Vânia Pacheco, pesquisadora do IBGE.
Na Munic, o instituto diz que ações do tipo são fundamentadas na análise de vulnerabilidades, no mapeamento de riscos e na identificação de recursos disponíveis para resposta e recuperação.
O levantamento lembra que o Rio Grande do Sul enfrenta desafios recorrentes como enchentes e secas.
A pesquisa de 2024 indica quais foram os eventos climáticos registrados nos municípios gaúchos. Enchentes e enxurradas atingiram 406 cidades, seguidas por alagamentos (336), inundações (316) e erosões (296). Outras ocorrências completam a lista.
De acordo com o IBGE, apenas 1 dos 497 municípios gaúchos não respondeu à pesquisa até a data de encerramento da coleta das informações. Trata-se de Bagé, que fica próxima ao Uruguai e a cerca de 380 km de Porto Alegre.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em abril de 2025, um ano após as enchentes, o governador Eduardo Leite (PSD) afirmou que o Rio Grande do Sul vinha implementando ações para mitigar os possíveis impactos de novas cheias, mas disse que a formação de sistemas de proteção “robustos” demandaria mais tempo.
Segundo ele, os gaúchos ainda levariam alguns anos para fortalecer a estrutura contra desastres, assim como em outros locais que viveram situações semelhantes.
“Não significa que nada se faça neste período. Pelo contrário, é a etapa de preparação para termos os projetos, os estudos ambientais e a execução de obras bilionárias”, afirmou Leite na ocasião.






