BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A maconha skunk produzida na Colômbia é destinada quase integralmente ao mercado brasileiro, com foco em consumidores de maior poder aquisitivo, e registra crescimento especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
É o que aponta relatório da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sobre os negócios entre facções como CV (Comando Vermelho) e PCC (Primeiro Comando da Capital) e grupos colombianos na região chamada Amazônia Compartilhada, levantamento antecipado pela reportagem.
O Skunk colombiano também é negociado pelas facções brasileiras, como o Comando Vermelho, com os grupos armados da Colômbia, assim como o cloridrato de cocaína e pasta base.
O estudo foi realizado pela Abin em parceria com a DNI (Direção Nacional de Inteligência da Colômbia), uma iniciativa inédita entre agências de inteligência sulamericanas.
A produção desse tipo de maconha está concentrada no departamento colombiano de Cauca, sobretudo nos municípios de Miranda, Corinto, Caloto, Toribio e Jámbalo, onde se estima a existência de aproximadamente 13.561 produtores em 2024.
Essa droga se destaca pelo alto teor de tetrahidrocanabinol, que varia entre 15% e 25%, sendo considerada uma versão de maior qualidade e valor agregado em comparação à maconha produzida na fronteira entre Paraguai e Brasil.
A cadeia produtiva da maconha no Cauca envolve diversos atores. O quilo da droga custa, em média, US$ 16,53 (R$ 88,29 na cotação desta quarta, 29), dos quais cerca de 48% ficam com os cultivadores, 33% com os grupos armados e 19% com os coletores.
Há registros de que o Estado Maior Central, organização que fazem parte dos GAORs (Grupos Armados Organizados Residuais, com são classificadas as dissidências das FARCs), vem extorquindo compradores externos por meio da cobrança de taxas que variam entre US$ 2,62 e US$ 5,23 por quilo de skunk.
No norte do Cauca, estima-se a produção anual de aproximadamente 3,08 milhões de quilos de maconha, o que poderia gerar cerca de US$ 12 milhões para essa organização criminosa em 2024.
Brasileiros compram a maconha produzida em Cauca e a trazem para o país por um percurso terrestre e fluvial. A droga seria inicialmente prensada e transportada em caminhões por Popayán (Cauca), seguindo por estrada até Pitalito (Huila) e, depois, até Florencia (Caquetá).
De lá, seguiria para Puerto Arango, onde seria embarcada em lanchas pelo rio Orteguaza até Solano. Em seguida, a rota continuaria pelo rio Caquetá até La Tagua (Putumayo), de onde a carga seria transferida para Puerto Leguízamo e, então, embarcada no rio Putumayo até Tarapacá, na fronteira entre Colômbia e Brasil.
A partir desse ponto, a droga seguiria pelo rio Içá/Solimões em direção a diferentes destinos no território brasileiro.
Em 2024, um quilo de maconha do tipo skunk na fronteira com o Brasil custava cerca de US$ 150, aproximadamente nove vezes o seu valor nas áreas de produção. Em Manaus, esse valor chegava a cerca de US$ 1.400, e no litoral do Nordeste podia alcançar US$ 2.900 por quilo.
O consumo de skunk vem crescendo rapidamente na última década, especialmente nos estados do Sul e Sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo, onde em alguns casos já é vendido por valores equivalentes aos da cocaína.
Nesses lugares, a maconha de procedência colombiana é anunciada como um produto de qualidade superior que atende a usuários seletos, de maior poder aquisitivo. Somente no estado do Amazonas, em 2024, foram apreendidas 28,2 toneladas de maconha e, em 2023, 20,7 toneladas.
A intensificação do narcotráfico e o aumento do fluxo de ilícitos, incluindo o skunk, geram efeitos colaterais graves na Amazônia, resultando na violência territorial derivada de disputas pelo controle das áreas de interesse, e na degradação social, com maiores impactos entre os povos originários e ribeirinhos.
Principais grupos armados organizados da Colômbia que atuam na Amazônia: GAO e GAORs
GAORs (Grupos Armados Organizados Residual) – Compostos por remanescentes ou dissidentes de organizações guerrilheiras desmobilizadas, principalmente as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
– Estado Mayor Central: Liderado por Iván Mordisco, tem presença em mais de 100 municípios e atua na fronteira em Guaviare, Putumayo, Caquetá, Amazonas e Nariño. Disputa com a Coordinadora Nacional Ejército Bolivariano e o Estado Mayor de los Bloques y Frente o controle das rotas do narcotráfico nos rios Orteguaza e Caquetá, especialmente em Mecaya (Puerto Leguízamo).
– Estado Mayor de los Bloques y Frente (dissidência do EMC): Liderado por Calarcá, o grupo tem presença nos departamentos de Caquetá e Putumayo. Disputa o controle das rotas do narcotráfico com a Coordinadora Nacional Ejército Bolivariano, especialmente nos rios Orteguaza e Caquetá, com foco estratégico no povoado de Mecaya, em Puerto Leguízamo (Putumayo).
– Coordinadora Nacional Ejército Bolivariano: Grupo liderado por Allende e Andrés, com presença em Nariño, Putumayo e Caquetá. Disputa rotas do narcotráfico nos rios Orteguaza e Caquetá com o Estado Mayor Central e o controle social e das rendas criminais na fronteira com o grupo equatoriano Los Choneros. Mantém alianças com Los Lobos (mineração ilegal) e Tiguerones (envio de drogas a Esmeraldas).
– Segunda Marquetalia: Liderado por Iván Márquez. Presença nos Departamentos de Guainía e Vichada.
GAO (Grupos Armados Organizados)  é uma classificação utilizada pelo governo colombiano para organizações criminosas que atuam em seu território com uma cadeia de comando definida e que detêm controle sobre parte do território.
– Exército de Libertação Nacional Principal. Estima-se que 60% do efetivo da organização esteja localizado na fronteira, distribuído entre os departamentos colombianos e os estados venezuelanos.
Facções brasileiras atuantes na Amazônia
– Comando Vermelho do Amazonas Domina o varejo de drogas no Amazonas, Pará, Acre e Rondônia. Faz negócios com traficantes colombianos ao longo do Rio Solimões; busca acesso direto a fornecedores colombianos e peruanos.
– Primeiro Comando da Capital (PCC) Presença forte em Coari e bairros de Manaus. Desde 2020, concentra-se no tráfico internacional (especialmente para a Europa), reduzindo o varejo local. Desde 2021, disputa território na tríplice fronteira em rivalidade com o CV.
– Crias da Tríplice (extinta): Reunia membros brasileiros, colombianos e peruanos. Aliada formal do PCC e rival do CV do Amazonas; disputava tanto o varejo quanto fornecedores. Foi desarticulada após a morte de suas principais lideranças em 2024. Remanescentes migraram para o CV e PCC.
– Facção Revolucionários do Amazonas: dissidência do CV do Amazonas; praticamente extinta.
– Facção Cartel do Norte: dissidentes da extinta Família do Norte; praticamente extinta.
– Traficantes independentes: atuam de forma autônoma; formam consórcios para comprar cocaína de fornecedores peruanos e colombianos e vendem para múltiplos grupos, inclusive rivais, priorizando lucro sem envolvimento direto em disputas territoriais.
Rotas
– Rota do Solimões: Rotas do Peru e da Colômbia convergem para o Brasil principlamente pelos rios Içá, Javari e Japurá, desembocando no Rio Solimões e chegando a Manaus, principal centro logístico. De lá, seguem pelo Solimões e outros rios até o Pará, onde ocorre a distribuição nacional e a exportação, sobretudo via porto de Vila do Conde (Barcarena), acesso direto ao Atlântico.
– Rota do Rio Negro: Essa rota é usada pelos narcotraficantes quando há aumento da fiscalização na Rota do Solimões. Os transportadores deslocam carregamentos por afluentes menores, como os rios Cuniã, Urubaxi, Jurubaxi e Marié, até alcançar o Rio Negro, ao norte do Solimões, que desemboca em Manaus.
– Modal aéreo: É menos utilizado que o fluvial, mas aproveita a vasta área e baixa fiscalização. Traficantes usam aeroportos e pistas irregulares na região Norte para trazer drogas da Colômbia e do Peru ao Amazonas. A Venezuela, com muitas pistas clandestinas, funciona como ponto de passagem entre Colômbia e Brasil.
– Semissubmersíveis / narcossubmarinos: Estruturas construídas na costa do Pará e no Amapá por técnicos colombianos; podem ser rebocadas ou autopropulsadas e visam cruzar o Oceano Atlântico rumo à África ou à Europa.






