SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cerca de 75% dos casos de câncer de próstata no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. A maioria, porém, cresce de forma tão lenta que não dá sinais durante a vida nem ameaça a saúde do homem, segundo o Ministério da Saúde. Ainda assim, muitos que recebem o diagnóstico da doença se preocupam com as questões sexuais e reprodutivas.
O tumor em si não causa infertilidade, disfunção erétil ou perda de libido, mas tratamentos como cirurgia, radioterapia e hormonioterapia podem comprometer essas funções, segundo especialistas. Isso porque os nervos e as estruturas responsáveis pela ereção e ejaculação ficam muito próximos da próstata e sofrem algum tipo de lesão com os procedimentos.
“O câncer de próstata não é um fator absoluto para a infertilidade. O que realmente gera impacto são os tratamentos”, explica Tiago Kenji, oncologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo.
No caso da cirurgia de prostatectomia radical, tanto a próstata quanto a vesícula seminal são removidas obrigatoriamente. Essas duas estruturas juntas são responsáveis pela produção de cerca de 90% do líquido seminal, popularmente conhecido como esperma ou sêmen e que ajuda no transporte e nutrição dos espermatozoides os testículos são responsáveis pelos 10% restantes.
“O paciente que realiza a cirurgia não consegue mais ter uma ejaculação convencional. Ele vai ter um quadro chamado ejaculação retrógrada, em que o sêmen vai acabar caindo na bexiga em vez de sair pela uretra do pênis”, diz Kenji. “Não há prejuízo para a bexiga ou para a sensação de prazer e orgasmo, mas o sêmen não alcança o aparelho reprodutor da mulher.”
Na radioterapia, feixes de radiação ionizantes são direcionados para a próstata para destruir ou impedir o crescimento das células anormais do tumor. O processo acaba lesionando a próstata, o que afeta a produção de sêmen e prejudica a ejaculação.
“Também existe uma chance de o testículo parar de produzir espermatozoide porque a radiação afeta toda a região próxima”, afirma Irineu Neto, urologista especialista em reprodução humana.
Já na hormonioterapia, o paciente recebe medicamentos que baixam os hormônios masculinos, como a testosterona, que alimenta o crescimento das células cancerígenas.
Para homens que desejam ter filhos após o tratamento, a recomendação dos especialistas é congelar o sêmen antes de qualquer procedimento que envolva a próstata, seja cirurgia, radioterapia ou hormonioterapia.
O procedimento é rápido, simples, barato e eficaz, segundo Neto. “A coleta dos espermatozoides é por meio de masturbação. O paciente vai até uma clínica de reprodução e faz todo o processo lá.”
O material é armazenado em nitrogênio líquido e pode ficar ali por décadas, com custo médio entre R$ 600 e R$ 900 a cada seis meses. Planos de saúde geralmente não cobrem esses custos e o procedimento não é oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Pacientes que tiveram a próstata removida também podem continuar a ter filhos, mesmo sem ejacular. Isso porque a produção de espermatozoides ocorre normalmente nos testículos. Nesses casos, a recomendação é a fertilização in vitro, utilizando espermatozoides coletados diretamente dos testículos ou do epidídimo, que é o canal por onde eles passam.
Além da fertilidade, os nervos que controlam a ereção próximos à próstata podem ser afetados nos tratamentos cirúrgicos ou radioterápicos. A cirurgia robótica e a braquiterapia (radioterapia mais direcionada no local afetado), por exemplo, minimizam esse risco, mas ainda há chances de causarem disfunção erétil.
Nesses casos, há uma escada terapêutica que inclui medicamentos orais, como tadalafila, injeções intracavernosas e prótese peniana.
Já a prótese peniana é um dispositivo cirúrgico implantado no pênis para tratar a disfunção erétil definitiva. Existem dois tipos: a maleável, que mantém o pênis ereto o tempo todo, e a inflável, que pode ser ativada e desativada pelo paciente por meio de uma pequena bomba colocada na bolsa escrotal.
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O CÂNCER DE PRÓSTATA CAUSA INFERTILIDADE?
O câncer de próstata raramente causa infertilidade de forma direta. Tumores pequenos normalmente não interferem na capacidade reprodutiva. O principal impacto na fertilidade vem dos tratamentos realizados para combater a doença, como cirurgia, radioterapia e tratamento hormonal.
É POSSÍVEL TER FILHOS APÓS A REMOÇÃO DA PRÓSTATA?
Sim. Os espermatozoides são produzidos nos testículos. A próstata contribui apenas com parte do líquido seminal (esperma ou sêmen). Mesmo que a próstata seja retirada e a ejaculação convencional desapareça, a produção de espermatozoides nos testículos continua.
Como cirurgia, radioterapia e tratamentos hormonais podem afetar a fertilidade, recomenda-se que pacientes interessados em ter filhos façam o congelamento do sêmen antes do início do tratamento. O procedimento geralmente não é coberto pelos planos de saúde nem pelo SUS.
Para os que já removeram a próstata e não realizaram o congelamento, a fertilização in vitro é indicada, com coleta dos espermatozoides diretamente dos testículos ou do epidídimo.
COMO A RADIOTERAPIA AFETA A FERTILIDADE?
A radioterapia pode lesionar a próstata e prejudicar a produção do líquido seminal, reduzindo o volume ejaculado. Além disso, pode afetar os testículos e diminuir a produção de espermatozoides, comprometendo a fertilidade.
OS TRATAMENTOS AFETAM A LIBIDO E A POTÊNCIA SEXUAL?
Tratamentos hormonais para câncer de próstata reduzem os níveis de testosterona, hormônio essencial para a libido e para a capacidade de manter ereção, impactando negativamente a vida sexual do paciente.
QUAIS SÃO AS OPÇÕES PARA TRATAR A DISFUNÇÃO ERÉTIL PÓS-TRATAMENTO?
O tratamento inicia com medicamentos orais para estimular a ereção. Caso o paciente não responda, podem ser usadas injeções intracavernosas, aplicadas diretamente no pênis. Como última opção, é possível implantar uma prótese peniana, que pode ser maleável, o que mantém o pênis ereto permanentemente, mas com risco de priapismo, ou inflável, permitindo controle da ereção quando desejado.






