SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Explico o que saiu da reunião de Xi e Trump, o plano de IPO da OpenAI e outros destaques do mercado nesta sexta-feira (31).
**PORTA-RETRATO RENOVADO**
Até esta quinta-feira (30), o último encontro entre Donald Trump e Xi Jinping era o de 2019, durante o primeiro mandato do americano. Seis anos depois, os líderes dos EUA e da China podem trocar a foto conjunta nos porta-retratos.
Os chefes de Estado se reuniram a portas fechadas na Base Aérea de Gimhae, em Busan, na Coreia do Sul, e decidiram sobre assuntos que ocuparam essa newsletter nos últimos meses, como tarifas, embargos sobre terras raras, comércio de soja e repressão ao tráfico de fentanil.
A reunião foi incrível, disse Trump. Xi, por sua vez, afirmou que a relação entre os países mantém a estabilidade geral e que ambos não devem cair em um ciclo vicioso de retaliação.
OS ACORDOS
Vamos separar os tratados em categorias.
[1] Tarifas
As exportações de produtos chineses para os EUA serão taxadas em 47%, uma diminuição de cerca de 10 pontos percentuais.
As taxas que Trump impôs como retaliação ao tráfico de fentanil para os EUA diminuíram de 20% a 10%. A medida tinha sido uma das primeiras impostas pelo republicano no segundo mandato.
[2] Terras raras
Pequim prometeu trégua na exigência de licença para exportar produtos com esses materiais, essenciais para a produção de chips, ímãs para veículos elétricos e maquinário para a geração de energia sustentável.
A China detém a hegemonia da exploração e do refino das terras raras, além de fabricar 90% dos ímãs feitos com elas. No início do mês, o país colocou um torniquete na exportação desses bens, o que aumentou a temperatura do conflito com os americanos hoje, apaziguado.
[3] Compra de soja
O governo chinês topou retomar as importações dos agricultores dos EUA. O país comprará enormes quantidades do grão, segundo Trump, que não detalhou quantas toneladas isso significa.
A decisão afeta o agronegócio brasileiro. A China é o maior importador de soja do mundo, e o Brasil, o maior exportador isto é, os chineses compram volumes altos da commodity produzida aqui e a notícia de que a concorrência pelo cliente aumentou não agrada o campo.
Antes mesmo da reunião, os chineses já haviam adquirido cerca de 180 mil carregamentos de soja americana para embarque em dezembro e janeiro.
Para o alívio do Centro-Oeste brasileiro, os especialistas não acreditam que a China voltará a comprar o grão dos EUA no mesmo ritmo que no passado.
[4] Tecnologia
Trump suspendeu por um ano a regra que aumentaria o número de empresas chinesas na chamada “lista de entidades” do governo americano. As companhias listadas têm acesso dificultado a tecnologias desenvolvidas nos EUA.
MEXEU
No Brasil, o Ibovespa bateu recorde de desempenho pelo quarto dia seguido. Terminou a quinta-feira em alta de 0,09%, a 148.780 pontos. O dólar subiu 0,39%, cotado a R$ 5,379.
**ORGANIZAÇÃO COM FINS LUCRATIVOS**
A OpenAI, operadora do ChatGPT, foi fundada em 2015 como uma instituição sem fins lucrativos para pesquisar o desenvolvimento da inteligência artificial. Segundo a própria, a missão da organização é garantir que a IA geral beneficie toda a humanidade.
Em dez anos, o mercado mudou e as empresas querem gastar com IA para estar na vanguarda da tecnologia. A missão da OpenAI acompanha o momento: ela quer lucrar e muito.
O PRÓXIMO PASSO
A empresa, comandada por Sam Altman, planeja um IPO (oferta pública inicial) que pode avaliá-la em até US$ 1 trilhão (R$ 5,38 trilhões), segundo a Reuters.
IPO (se diz ai-pi-ô) é a sigla em inglês que designa a primeira oferta que uma empresa faz de suas ações em uma bolsa de valores.
Se a OpenAI concretizar esses planos, a abertura de capital tem potencial para estar entre as maiores da história. A companhia espera registrar o pedido para a operação no segundo semestre de 2026.
POR QUÊ?
Desenvolver tecnologia é caro. Sam Altman precisa de dinheiro e a abertura de capital é uma forma eficiente de consegui-lo. Ainda, um IPO bem-sucedido atrai atenção e financiamento do mercado para a empresa.
MINA DE OURO
A empresa anunciou uma reestruturação na última terça-feira (28) na qual a Microsoft, a maior acionista individual, ganhou uma participação de US$ 135 bilhões (R$ 726 bilhões).
O valor de mercado da companhia fundada por Bill Gates superou os US$ 4 trilhões (R$ 21 trilhões) depois do anúncio.
A OpenAI vira OpenAI Group, uma holding.
O braço sem fins lucrativos foi batizado de OpenAI Foundation e detém 26% da nova companhia.
A Microsoft detém 27% do negócio.
Funcionários e outros investidores têm os 47% restantes.
Enquanto isso a Meta perdeu R$ 1 trilhão em valor de mercado depois de divulgar resultados e planos que desagradaram os investidores.
Na quarta-feira (29), o CEO da dona do Instagram, do WhatsApp e do Facebook disse que a big tech vai acelerar os gastos com a construção de data centers e infraestrutura para IA movimento visto como arriscado e excessivo por analistas.
A companhia tenta levantar US$ 25 bilhões (R$ 134 bilhões) com a venda de títulos para cobrir os custos da investida. Para isso, contratou o Citigroup e o Morgan Stanley como coordenadores da emissão da dívida.
O preço das ações da Meta caiu 11,33% no pregão de ontem na Nasdaq, bolsa de tecnologia americana.
**PARA LER**
A máquina que pensa
Stephen Witt. Intrínseca. 272 páginas.
Esta é a história de como uma empresa de nicho que vendia hardware para games e se tornou a companhia mais valiosa do mundo.
É assim que começa o livro onde o jornalista Stephen Witt relata a trajetória de Jensen Huang, CEO da Nvidia. A companhia se tornou a primeira empresa a bater os US$ 5 trilhões em valor de mercado na quarta-feira.
Huang definiu o futuro da companhia ao apostar tudo na inteligência artificial, na opinião do autor. Ele o fez quando a tecnologia ainda não era o assunto do Vale do Silício, na década de 2010. Hoje, a empresa é referência em semicondutores para IA.
O biógrafo, Stephen Witt, toca em um ponto da história de Jensen Huang. Ele nasceu em Taiwan, imigrou para os Estados Unidos aos 10 anos e construiu sua fortuna no país ocidental.
O desejo do empresário de levar a empresa para o mercado chinês mexeu com as relações comerciais entre China e Estados Unidos. De um lado, os chineses gostariam de consumir os produtos da Nvidia, mas desenvolvem itens concorrentes. Do outro, os americanos não querem oferecer insumos que facilitem o caminho dos oponentes.
Na perspectiva de Witt, Huang é uma figura que espelha os conflitos de seu tempo: enquanto é usado símbolo do progresso dos EUA, não esconde a identificação com a cultura natal.
Nunca se deixa de ser imigrante. Sempre serei chinês, disse o CEO a seu biógrafo.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Xadrez da energia. O Congresso aprovou uma medida provisória que muda as regras do setor e contrata uma usina termelétrica da J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Ultrapassada onde? A Apple registrou um lucro anual recorde impulsionado pelas vendas dos novos modelos de iPhones.
No rastro. A Polícia Federal e o Ministério Público fizeram uma operação em conjunto contra o ataque hacker que desviou R$ 813 milhões do sistema Pìx.
CLT? Sai fora. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que seis em cada dez motoristas da Uber no Brasil não querem trabalhar com a carteira assinada.
Temporada de balanços. A Vale lucrou R$ 14,6 bilhões no terceiro trimestre, uma alta de 9% em relação ao ano passado.






