SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fixou nesta quinta-feira (30) em 7.500 o limite de admissões de refugiados para o ano fiscal de 2026, que começou neste mês. O número é o menor já registrado e está muito abaixo do teto de 125 mil estabelecido por seu antecessor, o democrata Joe Biden, no ano passado.

A medida, alinhada à mudança nas políticas migratórias prometida pelo republicano em sua campanha, prioriza os africâneres, como são chamados os descendentes dos colonos europeus, principalmente holandeses, que chegaram à África do Sul no século 17. O grupo já vinha sendo beneficiado pelo governo Trump, que contradiz especialistas e autoridades sul-africanas ao afirmar que há perseguição e “genocídio” contra a minoria no país majoritariamente negro.

No comunicado, publicado no Diário Oficial da União americano, o governo afirma que o limite de 7.500 refugiados se justifica por “preocupações humanitárias” e atende ao “interesse nacional”. “As vagas serão destinadas principalmente a africâneres da África do Sul”, diz o documento, “e a outras vítimas de discriminação ilegal ou injusta em seus respectivos países de origem”.

As novas diretrizes transformam o programa que fez dos EUA um destino chave para perseguidos políticos em todo o mundo em uma iniciativa que dá preferência a falantes de inglês e pessoas brancas.

Tais planos entraram em andamento assim que Trump voltou à Casa Branca. Em janeiro, quando tomou posse, o presidente suspendeu todas as admissões de refugiados nos EUA e, apenas semanas depois, criou uma exceção para os africâneres. A minoria de cerca de 7% da população tem rendimentos quase três vezes mais altos do que a maioria negra e é dona de dois terços das terras cultiváveis da África do Sul.

A medida provocou críticas dos defensores de refugiados, uma vez que, naquele momento, famílias que tentavam escapar da guerra no Sudão, minorias religiosas iranianas que já haviam sido autorizadas a viajar aos EUA e pessoas em campos de refugiados ao redor do mundo permaneciam na incerteza. Segundo a agência de notícias Reuters, apenas 138 sul-africanos entraram nos EUA até o início de setembro.

A imprensa americana já havia noticiado que a gestão Trump pretendia reduzir o teto a uma mínima histórica, mas, na ocasião, o governo disse que só tornaria a determinação oficial após consultar determinadas comissões do Congresso, como exige a lei –o que não ocorreu, segundo pessoas informadas sobre o assunto que falaram com o The New York Times.

Segundo o veículo, uma porta-voz da Casa Branca afirmou que a consulta ainda vai ocorrer, mas apenas após democratas e republicanos chegarem a um acordo sobre o orçamento e encerrarem o shutdown, ou apagão econômico, que paralisa diversas agências e serviços nos EUA desde o início de outubro. Nenhum refugiado será admitido até lá, segundo a porta-voz.

Em uma declaração divulgada nesta quinta, o senador Dick Durbin e outros legisladores democratas disseram que o limite de refugiados determinado por Trump é equivocado. “Esta bizarra determinação presidencial não é apenas moralmente indefensável, é ilegal e inválida”, disseram.

Um documento interno elaborado por funcionários do governo em abril sugeriu que a gestão também poderia priorizar a entrada de europeus se eles fossem alvos por expressar certas opiniões, como oposição à migração em massa ou apoio a partidos políticos populistas. No entanto, europeus e outros grupos não foram mencionados no plano público divulgado nesta quinta.

Durante a Assembleia-Geral das Nações Unidas, em setembro, funcionários de alto escalão de Trump pediram que outros países se juntassem a uma campanha global para reduzir as proteções de asilo, uma mudança que remodelaria o quadro de migração do pós-Segunda Guerra Mundial.

Gideon Maltz, presidente-executivo da ONG Tent Partnership for Refugees, disse em um comunicado que os refugiados ajudam a enfrentar a escassez de mão de obra e que o programa “tem sido extraordinariamente bom para [os EUA]”. “Desmantelá-lo hoje não é colocar a América em primeiro lugar”, afirmou em um comunicado.