SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ordem do presidente Donald Trump para os Estados Unidos iniciarem imediatamente testes de armas nucleares gerou reações das também potências atômicas China e Rússia nesta quinta-feira (30). Enquanto Moscou ameaçou fazer testes próprios, Pequim pediu que Washington respeitasse a proibição internacional.
Trump fez o anúncio surpresa nesta quarta-feira (29), pela sua rede social, a Truth Social, antes de se encontrar com o líder chinês, Xi Jinping, em Busan, na Coreia do Sul. “Devido aos programas de testes de outros países, instruí o Departamento de Guerra a começar a testar nossas armas nucleares em igualdade de condições. Esse processo começará imediatamente”, afirmou o presidente.
O republicano disse ainda que os EUA “possuem mais armas nucleares do que qualquer outro país”, e isso teria sido alcançado com “uma completa modernização e renovação do arsenal existente” durante seu primeiro mandato. “Eu DETESTEI fazer isso, mas não tive escolha!”, escreveu.
A Rússia, no entanto, é dona do maior arsenal nuclear do mundo, com 5.580 ogivas nucleares, seguida dos EUA, que têm um estoque de 5.225 armamentos do tipo, de acordo com a Associação de Controle de Armas de Washington, um grupo apartidário que defende acordos de não proliferação nuclear. Xi, por sua vez, mais que dobrou o arsenal de ogivas nucleares da China nos últimos cinco anos Pequm tem hoje pelo menos 600.
A Rússia, que testou armas movidas a energia nuclear e fez exercícios de prontidão nuclear em outubro, disse esperar que Trump tivesse sido devidamente informado de que Moscou não havia testado uma arma nuclear real.
“O presidente Trump mencionou em sua declaração que outros países estão envolvidos em testes de armas nucleares. Até agora, não sabíamos que alguém estivesse realizando testes”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, acrescentando que “se alguém abandonar a moratória, a Rússia agirá de acordo”.
Mais cedo na quarta, o presidente Vladimir Putin havia afirmado que suas forças conduziram um teste bem-sucedido do Poseidon, conhecido como o “torpedo do Juízo Final” por suas características apocalípticas. Trump chamou o ensaio de “inapropriado” e disse que o presidente russo deveria acabar com o conflito na Ucrânia “em vez de testar mísseis”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, afirmou esperar que os EUA “adotem medidas concretas para preservar o sistema mundial de desarmamento e não proliferação nuclear” e mantenham “o equilíbrio e a estabilidade estratégica mundiais”. A China também pede que Washington “respeite seriamente o compromisso de proibir testes nucleares”.
A decisão de Trump também foi mal recebida por chefes de órgãos internacionais e pela oposição ao seu governo nos EUA.
“Qualquer teste explosivo de arma nuclear por qualquer estado seria prejudicial e desestabilizador para os esforços globais de não proliferação e para a paz e segurança internacionais”, disse Robert Floyd, chefe da Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, com sede em Viena.
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, instou os países a evitarem todas as ações que possam levar a erros de cálculo, segundo o porta-voz adjunto da organização, Farhan Haq. “Nunca devemos esquecer o legado desastroso de mais de 2.000 testes de armas nucleares realizados nos últimos 80 anos, e que testes nucleares nunca podem ser permitidos em quaisquer circunstâncias”, afirmou.
Daryl Kimball, diretor da Associação de Controle de Armas, disse que levaria pelo menos 36 meses para os EUA retomarem testes nucleares no antigo local de testes, em Nevada. “Trump está mal informado e desconectado. Os EUA não têm razão técnica, militar ou política para retomar testes nucleares explosivos pela primeira vez desde 1992”, disse ele no X.
A democrata Dina Titus, representante de Nevada no Congresso americano, também condenou a medida. “Apresentarei legislação para impedir isso”, afirmou no X.
Nesta quinta, já a caminho de Washington, Trump disse, a bordo do Air Force One, que os testes eram necessários para garantir que os EUA se mantivessem em dia com as potências nucleares rivais. “Com outros fazendo testes, acho apropriado que nós também façamos”, afirmou, acrescentando que os locais de testes nucleares seriam determinados posteriormente.
Além de fornecer dados técnicos, esses testes demonstram o poder dos EUA. Os americanos inauguraram a era nuclear em julho de 1945, com o teste de uma bomba atômica de 20 quilotons em Alamogordo, no Novo México. Depois, lançaram bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, matando cerca de 200 mil pessoas, sem contar as mortes posteriores em decorrência da radiação.
Os EUA realizaram seu último teste de arma nuclear em 1992. Além da Coreia do Norte, em 2017, nenhuma potência nuclear realizou testes em mais de 25 anos. A União Soviética testou pela última vez em 1990; os EUA, em 1992; e a China, em 1996.






