SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Antes da largada de seu novo mandato na presidência da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf tem dado sinais de que pretende se posicionar em temas fora das fronteiras da indústria e se manter próximo da política, apesar de negar novas intenções eleitorais.
A gestão começa em janeiro, mas Skaf já vem tomando iniciativas no debate da segurança pública.
Após a operação policial de terça-feira (28) que deixou mais de cem mortos no Rio de Janeiro, ele publicou uma mensagem em rede social dizendo que admira os policiais.
“O Brasil está em guerra. Em guerra contra o crime. E guerra não se ganha com palavras bonitas, mas com força e coragem. Não é com carinho que se enfrenta o terror”, escreveu. Skaf.
“Minha admiração e respeito aos policiais do Rio que enfrentaram ontem o crime organizado. Meus sentimentos aos heróis que tombaram em combate. Em momentos como esse é preciso deixar claro: estou do lado do Brasil e de quem o defende. Chega de proteger bandido”, afirmou em comentário na internet.
O tema já vinha se revelando na agenda de Skaf, que volta à Fiesp depois de um período de quatro anos em que a entidade foi presidida por Josué Gomes. Há poucos dias, ele convidou secretários de segurança de todos os estados para um jantar em São Paulo.
Em setembro, ele anunciou a criação de 16 conselhos superiores com nomes que participaram do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, como os ex-ministros Sergio Moro e Joaquim Pereira Leite, mas nega viés político. Moro vai presidir o conselho de segurança pública.
Em entrevista à reportagem, Skaf diz que a escolha dos nomes ligados ao governo Bolsonaro se deve à visão liberal da qual ele e a Fiesp compartilham.
“Naturalmente, quando eu escolho o [ex-presidente do Banco Central] Roberto Campos Neto é porque, na minha opinião, a visão dele de economia se assemelha a essa visão. São nomes respeitados. A preocupação não foi ligação com o governo A, B ou C”, afirma.
Skaf também afirma ter se reunido com congressistas para buscar apoio.
“Estive com os presidentes do Senado e da Câmara. Eles têm comissões temáticas, então, eu convidei, por exemplo, um senador da comissão de economia do Senado para participar do nosso conselho de economia. Quero fazer um trabalho com visão de país. Além da sociedade organizada, que somos nós, temos que ter ao nosso lado o Poder Legislativo, que são os representantes do povo e dos estados”, diz.
Entre os integrantes dos novos conselhos superiores da Fiesp também há nomes como a senadora Tereza Cristina (PP-MS) e o deputado federal Mendonça Filho (União-PE). Nesta semana, Skaf anuncia mais um conselho, voltado a inteligência artificial, com a presença do também ex-ministro, o senador Marcos Pontes (PL-SP).
Sobre eventuais intenções políticas futuras, Skaf nega. “Não tenho nem filiação partidária. Não passava pela minha cabeça voltar à Fiesp. Foram circunstâncias, um movimento que nasceu espontâneo dos setores produtivos. Acabei aceitando e estou abraçando a causa com dedicação total”, afirma.
“Questão política partidária, não. Por isso eu fico confortável em fazer tudo isso, porque não tem nada a ver com política. Quando alguém me falou que os nomes dos presidentes desses conselhos parecem de ministério, eu falei que é um ministério da sociedade. São nomes brilhantes, que vão estar acompanhados de parceiros brilhantes, porque os conselhos não são só a figura do presidente”, completa.
Durante os 17 anos em que presidiu a Fiesp, até 2021, ele se afastou duas vezes para ser candidato ao governo de São Paulo. Na última, em 2018, pelo MDB, ele anunciou apoio a Bolsonaro pouco antes do primeiro turno, mas o eleitorado antipetista escolheu João Doria, que terminou a disputa eleito.
Entre as medidas que Skaf já vem tomando antes de reassumir a Fiesp, em julho, ele ficou responsável pela convocação de empresários para uma reunião do governo Tarcísio de Freitas, em São Paulo, sobre o tarifaço de Trump. O encontro foi visto como concorrência à ação do governo Lula para lidar com o problema, porque ocorreu no mesmo dia em que o vice-presidente Geraldo Alckmin também se reuniu com o setor privado em Brasília. Skaf nega concorrência e diz que foi um esforço duplo para solucionar a crise.
Para além da emergência econômica gerada pelo tarifaço, naquele momento, criou-se uma acirrada corrida política sobre quem colheria os louros de ter resolvido o impasse.
Questionado sobre sua participação naquela disputa, Skaf afirma que a realização de duas reuniões foi uma questão de menor importância.
“Quando veio o problema, todo mundo correu atrás. É legítimo. Até fui eu quem convidei as empresas para participar da reunião que teve em São Paulo. Era uma iniciativa no sentido de ajudar a buscar solução. Inclusive, o encarregado de negócios, responsável pela embaixada americana em Brasília, estava presente nessa reunião no Palácio dos Bandeirantes. Paralelamente, o Alckmin fez uma reunião em Brasília, ótimo, um esforço duplo, todo mundo correndo atrás”, afirma.
Questionado sobre o que achou do resultado do encontro em Lula e Trump, ele capitulou.
“Tudo o que eu vi, pela imprensa, foi que a reunião teria sido positiva. Não cabe a nós brigar com o nosso principal parceiro. Os EUA são o principal parceiro e cliente de manufaturas no Brasil. Fiquei muito feliz que tenha reatado essa aproximação e espero que isso leve não só a tirar esses obstáculos, mas também que abra uma avenida de integração e novos negócios”, disse.
Eele promete adotar um tom duro contra os governos quando o assunto for aumento de impostos, repetindo o mote que exaltou com o pato amarelo gigante instalado na fachada da Fiesp há dez anos.
“Os governos precisam ter responsabilidade fiscal. A sociedade não quer mais pagar aumento de imposto, qualquer que seja. A partir do ano que vem, em qualquer aumento de imposto, a reação da Fiesp vai ser forte. Contra qualquer governo, estadual, federal, municipal, não importa. Espero que não precise de reação, que não haja aumento. Se houver, a gente analisa e toma as medidas. É importante termos o Congresso do nosso lado. Espero contar com o apoio do Congresso e o esforço da sociedade organizada e com todas essas boas cabeças que teremos na Fiesp para ajudar a mostrar caminhos”, disse.






