SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No Brasil, os casos e as mortes pelo VSR (vírus sincicial respiratório) principal causador da bronquiolite tiveram um aumento de 61,4% e 64,6%, respectivamente, de janeiro a 20 de outubro de 2025, se comparado ao mesmo período de 2024. Os dados são do Ministério da Saúde. Especialistas ouvidos pela reportagem atribuem a alta ao “inverno prolongado” deste ano.
Cabe ressaltar que o órgão não atualiza as notificações em atraso de 2024 desde o último mês de junho. Embora a notificação compulsória inicial tenha prazo definido para ser feita, o que depende do agravo, a fase de investigação epidemiológica pode ser demorada.
A bronquiolite é uma doença respiratória aguda que afeta principalmente crianças com menos de dois anos. É caracterizada pela inflamação dos bronquíolos, pequenas vias áreas dos pulmões.
“As mudanças climáticas afetam a presença dos vírus respiratórios. Tudo o que faz com que nós tenhamos mais aglomerados de pessoas, uma redução do movimento ciliar, que é uma defesa do pulmão a temperatura mais baixa faz isso, propicia uma disseminação maior dos vírus. É o caso das condições atuais. O ano passado foi mais quente”, explica Marcelo Otsuka, pediatra e infectologista das sociedades brasileiras de Pediatria e Infectologia.
“Esse vírus é de fácil transmissão e por isso tem muito marcada a característica da sazonalidade, ou seja, nos meses mais frios aumentam os casos. Como tivemos o inverno mais rigoroso e ainda estamos com temperaturas baixas, sem dúvida facilita. Outro aspecto é que estamos mais atentos ao vírus e fazendo mais diagnósticos. Acho que é a soma de duas coisas”, esclarece Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.
De acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde, São Paulo segue a tendência do país. Na comparação janeiro a 25 de outubro deste ano com o mesmo período de 2024, os casos de vírus sincicial sofreram acréscimo de 60,03%, e os óbitos, 59,2%.
As crianças pequenas são maioria nas infecções pelo VSR. Em 2024, dos 26.285 casos que ocorreram no Brasil até outubro, 22.282 foram em menores de dois anos e 2.035 nos de dois a quatro anos.
Em 2025, das 42.450 infecções, 34.988 foram registradas em menores de dois anos e 3.620 nos pequenos de dois a quatro anos.
A cada cinco crianças infectadas pelo VSR, uma necessita de atendimento ambulatorial e, em média, uma em cada 50 é hospitalizada no primeiro ano de vida. No Brasil, cerca de 20 mil bebês menores de um ano são internados anualmente. As informações são do Ministério da Saúde.
No SUS (Sistema Único de Saúde), ainda não há vacina contra o VSR para o público infantil. De acordo com o Ministério da Saúde, o imunizante será ofertado a partir da segunda quinzena de novembro. Deverão se vacinar gestantes a partir da 28ª semana. A vacina, aplicada em dose única, oferecerá proteção aos recém-nascidos nos primeiros meses de vida.
O anticorpo monoclonal nirsevimabe, indicado para proteger contra o VSR bebês prematuros menores que 37 semanas e crianças de até dois anos nascidas com comorbidades, também será incorporado ao SUS. A medicação, que impede a entrada do vírus nas células, reduzindo o risco de infecção grave, será dispensada nas maternidades. A previsão é fevereiro de 2026.
LEIA MAIS
A proteção contra a doença também consiste em evitar contato com outras pessoas na suspeita de um quadro infeccioso.
“Se eu tenho sintomas de gripe, não vou chegar perto de um idoso, de uma criança pequena, principalmente um recém-nascido, porque ele pode ter um quadro grave se pegar a minha infecção. Então, não chegar perto de pessoas que são suscetíveis a terem quadros graves. Da mesma forma, uma criança que está com quadro gripal, que pode ser uma bronquiolite, não deve ser levada para a creche. Proteger os demais, boa higiene, como lavar as mãos, usar máscara e não beijar as crianças se estiver gripado são outras medidas a serem adotadas”, diz Marcelo Otsuka.
O VSR também causa pneumonias e quadros graves em idosos. “Ele aumenta a possibilidade de descompensações de doenças preexistentes, como diabetes e hipertensão, e a chance de infarto e AVC, assim como o influenza e o coronavírus também podem causar”, afirma Otsuka.
INVERNO PROLONGADO E BAIXA COBERTURA VACINAL IMPACTAM OS NÚMEROS DA GRIPE
Em 2025, de janeiro a 18 de outubro, os casos de gripe causada pelo vírus influenza subiram 79,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Nas mortes, a alta foi de 99,1%.
O acréscimo é refletido no estado de São Paulo, que registrou aumento de 73,9% nos casos e 97,1% nas mortes, se comparados os períodos de janeiro até 25 de outubro de 2024 e 2025.
Assim como no VSR, a extensão dos dias frios potencializa os casos de gripe, mas não é o único motivo. A cobertura vacinal segue bem distante da meta, que é de 90%.
Nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e sudeste do Brasil, em 2025, a cobertura vacinal contra a gripe no público contemplado na estratégia de rotina pessoas com mais de 60 anos, crianças de seis meses a menores de seis anos e gestantes é de 50,51%, de acordo com o Ministério da Saúde. No Norte do país chegou a 58,13%.
No estado de São Paulo, a cobertura está em 51,68%, segundo o painel de influenza do órgão. A meta é alcançar 90%.
“Outro problema é que o Brasil é um país de dimensões continentais. A gente parte de uma premissa simplista de que o que acontece no Hemisfério Norte acontece no Brasil, então a vacina que foi boa no Hemisfério Norte vai ser boa para o Brasil, mas não necessariamente a gente pode ter ocorrência de cepas do vírus influenza diferentes concomitantes no Brasil em diferentes territórios. Então, o vírus da gripe no sul quase sempre vai ser diferente do vírus da gripe no norte. E aí você começa a ter uma vacina que não é tão efetiva quanto poderia ser. Precisamos de vacinas com mais precisão”, afirma Evaldo.
A gripe é uma doença respiratória infecciosa e transmissível. Os sintomas são coriza, febre, dor de cabeça e no corpo, tosse e mal-estar. A doença pode se apresentar de forma leve, que dura três a cinco dias, ou grave. Não é possível saber com antecedência como o paciente vai evoluir.
O médico também chama a atenção para a circulação de doenças bacterianas e a importância de se proteger contra a bactéria pneumococo, que pode causar pneumonias, meningite e bacteremia (infecção generalizada do sangue), e mais brandas, como a otite.
O SUS oferece as vacinas pneumocócicas conjugada 13-valente (VPC13) e pneumocócica polissacarídica 23-valente (VPP23) para a proteção de idosos e adultos com comorbidades, de acordo com critérios específicos. O esquema de vacinação depende da idade, do estado de saúde e do histórico de vacinação do paciente.
“Proteger das infecções respiratórias, do vírus sincicial respiratório, do influenza, do coronavírus, da pneumonia e da doença pneumocócica invasiva melhora os indicadores de doenças cardíacas”, diz o infectologista do HC.
O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.




