SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve alta nesta quinta-feira (30), horas após EUA e China anunciarem um acordo comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Os norte-americanos se comprometeram a reduzir as tarifas sobre produtos chineses para, em média, 47%, uma diminuição de cerca de 10 pontos percentuais.
Em troca, os chineses prometeram trégua na medida que exige licença para exportar produtos com terras raras chinesas, a retomada das compras de soja de agricultores americanos e tomar ações contra o comércio ilegal de fentanil.
Com o acordo, a moeda norte-americana começou o dia subindo 0,27%, cotada a R$ 5,3723, às 9h09. Na quarta-feira (29), o dólar fechou em variação negativa de 0,05%, a R$ 5,358, e a Bolsa avançou 0,81%, a 148.632 pontos, novo recorde histórico.
O dia foi pautado pela decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) e pelo subsequente discurso do presidente da autarquia, Jerome Powell.
A autoridade monetária decidiu por cortar os juros em 0,25 ponto percentual, levando a taxa à banda de 3,75% e 4%. A redução foi sob justificativa de que os riscos para o mercado de trabalho aumentaram nos últimos meses.
“A criação de empregos desacelerou este ano, e a taxa de desemprego subiu ligeiramente, mas permaneceu baixa até agosto; indicadores mais recentes são consistentes com esses desenvolvimentos”, afirmou o comitê, ponderando que a inflação subiu desde o início de 2025 e segue um pouco elevada.
“O Comitê busca atingir o pleno emprego e uma inflação de 2% no longo prazo. A incerteza sobre as perspectivas econômicas permanece elevada. O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e considera que os riscos de queda para o emprego aumentaram nos últimos meses.”
A autoridade trabalha com um mandato duplo, isto é, baliza as decisões de política monetária a partir dos dados de emprego e de inflação. O objetivo é manter o mercado de trabalho aquecido e levar a inflação à meta de 2% ao ano.
Desde o início do ano, porém, o banco central está em uma sinuca de bico. O aumento dos pedidos de auxílio-desemprego tem sugerido que o mercado de trabalho continua esfriando, mesmo com a paralisação do governo atrasando a publicação da maioria das estatísticas econômicas oficiais, incluindo a taxa de desemprego, estimada pela última vez em 4,3% em agosto.
Ao mesmo tempo, leituras de inflação mostram que os preços ao consumidor estão acelerando. Na semana passada, o índice oficial do país mostrou que a inflação subiu 3% nos 12 meses até setembro.
Powell sinalizou que o cenário exige cautela adicional dos dirigentes e que as próximas decisões serão pesadas caso a caso. “Uma nova redução na taxa básica de juros na reunião de dezembro não está dada, longe disso”, afirmou.
O comentário foi um banho de água fria para os investidores, que viam a continuidade dos cortes em dezembro como uma certeza. “O que você faz quando está dirigindo sob neblina? Você diminui a velocidade”, disse Powell em reforço ao tom de cautela, se referindo à falta de dados oficiais sobre o estado da economia.
“Os mercados tendem a reagir de forma exagerada às notícias do Federal Reserve no curto prazo. Neste caso, Powell indicou que outro corte na taxa de juros não é uma certeza”, disse Oliver Pursche, vice-presidente sênior e consultor da Wealthspire Advisors. “Mas nenhum corte na taxa de juros é uma certeza. Portanto, para mim, esse não é um comentário inadequado. O Fed depende de dados.”
Reduções nos juros dos Estados Unidos costumam ser uma boa notícia para os mercados globais. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco.
Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.
Em relação ao Brasil, há ainda mais um fator que favorece os ativos domésticos: o diferencial de juros. Quando a taxa nos Estados Unidos cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”. Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Outro destaque da reunião foi a divergência entre os dirigentes. Um deles, Stephen Meyer, o último indicado pelo presidente Donald Trump, defendeu um corte maior de 0,5 ponto. Outro membro, Jeffrey Schmid, votou pela manutenção da taxa.
“Isso mostra uma divisão interna sobre o ritmo ideal de flexibilização monetária”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Em resposta, os índices de Wall Street, antes em máximas recordes, também foram abalados. O índice S&P500 anulou os ganhos e fechou no zero-a-zero; o Dow Jones caiu 0,16%. Nasdaq Composite subiu 0,55%, sustentado pelo otimismo com a Nvidia, que se tornou a primeira companhia a marcar US$ 5 trilhões em valor de mercado.




