BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – A Cidade das Juventudes, espaço idealizado pela campeã climática da juventude da COP30, Marcele Oliveira, para a conferência da ONU, começa a virar realidade em Belém. Os locais onde funcionarão o projeto já estão sendo preparados.
O Núcleo Curro Velho, um centro cultural na comunidade Vila da Barca, servirá como hospedagem gratuita para 200 jovens de todo o mundo e para a realização de diversas atividades socioambientais e culturais.
Já a Escola Estadual Albanízia de Oliveira Lima, no bairro do Souza, será apenas alojamento, para 318 pessoas, a um valor entre US$ 37 e US$ 45 a diária (entre R$ 198 e R$ 241). “Estamos montando uma estrutura de beliches em ambos os espaços, que são refrigerados”, diz Marcele, em entrevista à Folha.
Além da hospedagem, haverá uma série de atividades no Curro Velho. “Será tudo dentro do contexto de COP30, como um espaço de bioeconomia, oficinas de pintura e ações de educação ambiental e de plantio, além de palestras, debates e atividades culturais, como shows, performances e apresentações diversas. Serão voltadas para a juventude e feitas também por pessoas jovens. E, quem sabe, teremos algumas participações especiais?”, adianta.
Para a campeã climática, a cultura tem um papel fundamental na conscientização sobre as questões ambientais. “Eu vi no meu território [bairro do Realengo, no Rio] como festivais de música e saraus de poesia garantiram um coro maior para uma luta que era antiga, pelo parque de Realengo, que foi implementado também pela força da mobilização popular.”
Ela destaca o poder transformador da arte. “Por meio dela, a gente consegue compartilhar experiências, ter espaços de troca mais sensíveis e denunciar de forma adequada o racismo ambiental e outras violências contra os territórios periféricos.”
Na programação, haverá um debate com o grupo Flotilla4Change, que partiu em veleiros de diversos portos da Europa rumo à COP30.
“Eles abordarão o tema do transporte oceânico sustentável, no dia 13 de novembro”, diz Marcele. Outras atividades incluem uma plenária do Ministério das Mulheres, com a possível presença da ministra Márcia Lopes, e apresentações do grupo de carimbó Daqui, de jovens da Vila da Barca, e da sambista paraense Ruth Costa.
A Cidade das Juventudes fornecerá ainda transporte gratuito em ônibus para o Parque da Cidade, local de realização da COP30, e alimentação a preço acessível.
Os participantes estão sendo selecionados a partir de inscrições que foram realizadas online.
“Nós divulgamos um formulário de interesse nas redes de juventudes e por meio da constituinte oficial de crianças e jovens da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Vamos fazer uma seleção para que haja juventudes internacionais e latinas, equilíbrio entre homens e mulheres e diversidade de gênero, raça e território”, explica Marcele.
A escolha da Vila da Barca é emblemática. A comunidade, cuja maior parte dos habitantes mora em precárias casas de madeira sobre palafitas, se tornou símbolo de resistência ao racismo ambiental em Belém, quando seus moradores protestaram contra o despejo de entulhos da obra do parque linear da avenida Visconde de Souza Franco, a Doca, em área nobre da capital paraense.
“Nós fizemos manifestações e fechamos as ruas de acesso à comunidade e conseguimos que deixassem de jogar os resíduos aqui. Foi uma vitória”, afirma a educadora e líder comunitária Suane Barreirinhas, responsável pela organização local da Cidade das Juventudes, ao lado das lideranças jovens indígenas Tel Filho Guajajara e Natalia Mapuá.
A construção de uma ETE (estação de tratamento de esgoto) na Vila da Barca para atender essa mesma zona nobre da cidade também provocou rechaço dos moradores, que não dispõem de saneamento básico. Segundo Suane, após protestos, a empresa Águas do Pará anunciou obras de ampliação do acesso a água tratada e de coleta e tratamento de esgoto na comunidade.
Para Marcele, “faz sentido e é importante a gente estar lá, em um lugar que grita essa luta, essa resiliência, essa diversidade da COP30”.
“O que mais me anima é que essa luta não é só da Vila da Barca. É de territórios periféricos do Brasil e do mundo, que brigam seja contra as autoridades governamentais seja contra a estrutura social, o capitalismo”, diz.
“Muitas pessoas vão se reconhecer na Vila da Barca, porque também lutam por dignidade, por reconhecimento de direitos.”
Suane acrescenta que, entre as atividades da Cidade das Juventudes, haverá um roteiro gastronômico, a partir de um guia que identificou quem fornece comida na Vila da Barca.
“Aliás, um grupo de mulheres da comunidade vai fazer o catering dos eventos da embaixada da Suíça durante a COP30 e também fechamos com a embaixada do Reino Unido”, afirma.
Segundo Marcele, esse será o primeiro alojamento gratuito para a juventude em uma COP.
“Acho que esse é o verdadeiro sentido de não deixar ninguém para trás. A gente sabe que a COP é um espaço restrito, mas a gente também sabe que vai ser um momento histórico, vai ser a maior mobilização por justiça climática do mundo.”
Para ela, esse movimento vai acontecer “do lado de fora da conferência, nas massas, nas atividades, na ocupação da cidade”.
“Quem é que não quer participar de um momento histórico? É a nossa ECO 92. É claro que todo mundo quer estar lá. E ter uma opção gratuita significa ter um local para acolher quem quiser viver essa experiência, participar dessa luta com a gente.”
A Cidade das Juventudes é uma realização da Presidency Youth Climate Champion, da Secretaria-Geral da Presidência da República, da Secretaria Nacional de Juventude e do Ministério das Mulheres.




