ORLANDO, EUA (FOLHAPRESS) – Dissociar Orlando de suas atrações mais populares os parques temáticos é uma missão quase impossível. De fato, a cidade americana se organizou em torno das grandes atrações da Disney e da Universal, cercadas por uma infraestrutura robusta de hotéis, restaurantes e lojas, e fatura alto com isso.
A sensação de que você está ouvindo português em todos os lugares não é por acaso. Segundo a Visit Orlando, o Brasil é o terceiro país que mais envia visitantes internacionais à cidade, atrás de Canadá e Reino Unido. Mas são os brasileiros que passam mais dias na cidade (10,6 noites, em média) e também os que mais gastam por viagem (US$ 1.523, algo em torno de R$ 8.160 no câmbio atual).
Os dados sobre o perfil dos visitantes também podem surpreender quem cristalizou na mente que se trata de um destino de viagem de 15 anos. A idade média dos brasileiros que vão a Orlando é de 42,3 anos, com 55% dos visitantes tendo entre 25 e 44 anos. Para 80% do total, essa não é a primeira visita aos Estados Unidos, e 47% viajam sem criança alguma no grupo.
Os parques seguem, sim, no centro do interesse dos viajantes (ao menos de 76% deles), assim como as comprinhas nos outlets com descontos agressivos durante todo o ano. Mas há também quem não queira necessariamente passar todos os dias da viagem nas filas de montanhas russas e simuladores ou cedendo aos impulsos do consumismo desenfreado.
Na verdade, planejando bem, não é preciso abrir mão de nada disso. Basta separar alguns dias para explorar outras regiões da cidade.
Comece pelo Loch Haven Park, que abriga em seus mais de 18 hectares uma impressionante quantidade de equipamentos culturais. O principal deles é o centenário Museu de Arte de Orlando (Oma, na sigla em inglês), que tem amplas e iluminadas galerias.
Ao entrar, o visitante é recepcionado por uma torre de vidro do artista americano Dale Chihuly que lembra um amontoado de serpentes nas cores azul cobalto e verde cítrico e fica ainda mais viva com a luz natural que entra pela claraboia do teto. Exposições temporárias dividem espaço com o acervo permanente, que inclui uma boa coleção de arte abstrata (com destaque para “Dovetail”, da brasileira Beatriz Milhazes).
A poucos passos dali, é possível conhecer também o Orlando Ballet, o Orlando Science Center, o Orlando Shakes e o Orlando Family Stage. Os dois últimos são teatros, ambos com programação para toda a família não deixe de checar o site para ver o que estará em cartaz.
Atravessando a Princeton Street, à distância de uma faixa de pedestres, está o Museu Mennello de Arte Americana. Pequeno e aconchegante (são apenas duas galerias), seu principal atrativo está do lado de fora: o jardim de esculturas às margens do lago Formosa.
Também difícil passar incólume à majestosa árvore que fica bem diante do museu, uma espécie nativa de carvalho que ganhou até apelido: The Mayor (ou “o prefeito”). A estimativa é de que ela tenha entre 300 e 400 anos, ou seja, já estava ali quando os primeiros colonizadores se instalaram por ali, em 1843, ainda com o nome de Jerningan.
De lá, para voltar ao centro, será preciso pegar a Mills Avenue. Mesmo que esteja de carro, não deixe de reparar nos coloridos murais em diversas fachadas da região, conhecida como Mills 50. Ali também estão concentrados a maioria dos restaurantes com selo Bib Gourmand (recomendados pelo custo/benefício) do Guia Michelin em Orlando. Muitos são asiáticos, como o japonês Tori Tori, o vietnamita Bánh Mì Boy, o coreano Shin Jung e o cantonês Kai Kai BBQ & Dumplings.
O final de tarde, quando o sol começa a dá uma tregua na região central da Flórida, é um bom momento para passear no parque que circunda o lago Eola. É onde os locais fazem caminhadas e piqueniques enquanto interagem com as cinco espécies de cisnes que vivem por ali, soltos. São mais de 50, segundo a prefeitura.
Também dá para fazer passeios de pedalinho (pagando US$ 15 por 30 minutos, de terça a domingo, das 10h às 19h) e, dependendo do dia, conferir algum concerto ou apresentação musical no anfiteatro com as cores do arco-íris, doado à cidade pela Disney.
O Eola faz limite com Downtown, então dá para caminhar de lá até os vários bares e restaurantes que estão brotando aos montes na região nos últimos cinco anos. São dois quarteirões, por exemplo, até chegar ao Stubborn Mule, especializado em drinques no estilo Moscow Mule e com pratos bem servidos, ou à Greenery Cremery, para provar sorvetes diferentões como o de baunilha azul ou o vegano de coco com cizas negras (o gosto é de coco mesmo!).
Se ainda não quiser voltar para o hotel, a dica é esticar na região boêmia de Thornton Park, logo ao lado, cheia de barzinhos animados e gay-friendly. O agito fica nas proximidades do cruzamento da Hyer Avenue com a Washington Street, mas toda a extensão dessa última tem boas opções para entrar e experimentar.
BEM COLADINHO
Se a ideia for sair da cidade mas não muito, considere ir até Winter Park. Trata-se de um distrito na região metropolitana de Orlando, colado à região norte da cidade. De Loch Haven Park, por exemplo, são menos de dez minutos de carro.
O ambiente, no entanto, é bem mais charmoso e sofisticado. Pense nas cidadezinhas ricas mostradas em séries americanas para fazer uma ideia. Os casarões enormes começaram a brotar por ali ainda na metade final do século 19.
Foi quando magnatas do norte do país descobriram a região de clima ameno e começaram a construir imóveis para fugir do inverno nos meses mais frios do ano. Entre a população local, reza a lenda que foi de olho nesse movimento que Walt Disney teria comprado os terrenos mais ao sul que depois viriam a abrigar seus parques em Orlando.
Verdade ou não, fato é que Winter Park foi uma das primeiras áreas da região a se desenvolver, contando até hoje com uma infraestrutura acima da média para um subúrbio desse porte. É lar, por exemplo, do Rollins College, a primeira faculdade da Florida e até hoje uma das que cobram a anuidade mais cara do país (US$ 63 mil, ou mais de R$ 337 mil no atual ano acadêmico).
A arquitetura neomediterrânea dos prédios do campus pode ser observada durante um passeio pelo lago Osceola, de onde sai desde 1938 o Winter Park Scenic Boat Tour (US$ 20 por adulto e US$ 10 por criança). Por meio de pequenos canais, a embarcação inclui na travessia também outros lagos, como o Maitland.
O maior atrativo, é preciso confessar, é poder bisbilhotar um pouco do estilo de vida dos endinheirados que têm casas e lanchas estacionadas por ali. Entre as mansões suntuosas às margens do lago, uma chama a atenção por exibir uma bandeira do Brasil na frente (infelizmente, o capitão que guiou o passeio não sabia informar o dono, mas disse que ela flamula ali há muitos anos).
De volta à terra firme, aproveite para passear pela elegante Park Avenue, cheia de cafés, restaurantes locais e butiques. É nela também que fica o aprazível Central Park, com uma fonte de água coroada por um pavão (a ave oficial da cidade), e a estação de trem, que apesar de parecer antiga foi reconstruída há cerca de uma década.
Aproveite a visita para conhecer o Museu Charles Hosmer de Arte Americana, que tem a maior coleção de obras do artista americano Louis Comfort Tiffany (1848-1933) filho do fundador da famosa joalheria. O luxo de vitrais, cerâmicas, pinturas e móveis não diminui o impacto de entrar na capela construída por ele para a Exposição Universal de 1893, em Chicago, e foi remontada ali após mais de 100 anos, com direito a uma enorme luminária de ferro e vidro verde em formato de cruz.
Se preferir uma energia um pouco mais relaxada, opte por Winter Garden, que apesar do nome similar fica em outra região da cidade (mais a oeste, próximo às margens do lago Apopka). Aos sábados, entre 8h e 13h, uma simpática feirinha de produtores e artesãos locais toma conta do centrinho, com venda de frutas e legumes frescos de encher os olhos.
Entre crianças brincando ao ar livre e jovens tomando sol deitados na grama artificial, as barraquinhas têm ótimas opções de sanduíches, limonadas, cookies, cafés e até paella madrilenha. Apesar de menos frequentada por brasileiros, é possível encontrar açaí, água de coco e até caldo de cana, feito na hora. Só faltou o pastel.
Se puder, estique o passeio até o mercadão da Plant Street. São cinco minutos de caminhada. Lá, dá pra escolher algo de comer de ostras a wraps vegetarianos e pedir um chope na Crooked Can Brewing Company. A disputa pelos mesões de madeira do lado de fora é acirrada, especialmente nos finais de semana, quando os moradores das redondezas enchem o espaço. Vá sem pressa, e misture-se com os locais.




