SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um jovem de 27 anos, morador em Diadema, Grande São Paulo, acusa policiais militares de ameaça e agressão durante abordagens.

Igor André de Andrade Silva, 27, diz que foi abordado enquanto abastecia o carro na madrugada de quinta-feira (23). Na ocasião ele estava em uma Land Rover.

“Eles me abordaram, fizeram um monte de perguntas. Eu disse que estava tudo certo com o carro, mas não quiseram ver documento nem nada. Disseram que não gostaram da forma que eu respondi”, contou.

“Eles me ameaçaram de morte, disseram que iam me esperar do lado de fora do posto e que iam me pegar. Eu parei na conveniência e fiquei lá”, disse.

Silva disse que trabalha como vendedor de carros e que tem uma loja de roupas. Ele afirmou que foi abordado novamente na madrugada de sábado (25) quando chegava em casa, na Passagem Companheiro da Paz, no bairro Piraporinha. Na ocasião, ele estava dirigindo um Audi A3 conversível, que diz ter comprado no dia anterior.

“Eu vi a viatura e pensei ‘tomara que não sejam os mesmos policiais’. Na hora, eu parei o carro na frente de casa. O policial olhou para mim e falou ‘você de novo, amigão? Falei que ia trombar [encontrar] você'”, disse.

Segundo Silva, o PM ligou para um colega para informar sobre a abordagem. “Ele disse ‘peguei o baiano aqui, o folgado'”, afirmou.

“Eu fiquei quietinho lá. Com a mão pra trás eu tava, com a mão pra trás eu fiquei. Chegou esse outro policial, já chegou me dando um chute na perna, mandando eu abrir as pernas”, disse.

Imagens gravadas por câmera de monitoramento e por amigos, mostram parte da abordagem a Silva, que está com as mãos para trás. Um dos policiais, além de chutar suas pernas, lhe dá um soco no rosto. Ele não revida.

Depois de alguns momentos, após ser empurrado algumas vezes e pressionado contra um veículo estacionado, ele tenta se levantar e empurra o agente. Outros PMs o cercam e o jogam no chão, mesmo sob protestos contra a agressão.

“Nessa hora ele me deu outros dois socos no rosto”, afirmou Silva.

No boletim de ocorrência, os PMs relataram que Silva foi perseguido após não respeitar ordem de parada e que fez conversão proibida, de forma brusca, e que só parou porque um veículo interrompia a passagem.

Os agentes disseram que o licenciamento do veículo estava atrasado desde 2022 e que seria guinchado até o pátio. Ainda segundo o registro policial, Silva estava exaltado e passou a instigar os moradores contra os policiais e xingá-los de covardes e folgados, e que precisou ser contido e algemado.

Ainda disseram que as placas do veículo estavam adulteradas, com emplacamento do Mercosul, quando deveria estar com placas cinzas.

Ele foi preso em flagrante por adulteração de sinal identificador de veículo automotor, desobediência e desacato, no 3° DP de Diadema, e foi solto em audiência de custódia.

“Eu expliquei para eles que tinha acabado de comprar o carro e que poderia pagar o licenciamento pelo aplicativo e já resolveria. As placas estavam corretas, tinha de estar com a do Mercosul. E mesmo se consultasse as antigas iam ver que qualquer uma delas se referia ao mesmo carro”, afirmou.

“Eu estava tranquilo. Não agredi, não reagi, não desacatei ninguém. Disseram que eu fugi, que deram ordem de parada. Eu que parei quando vi a viatura. Não xinguei ninguém, eles mentiram em tudo. As pessoas filmaram porque me conhecem desde criança, sempre morei ali”, afirmou Silva.

Ele disse que fez denúncia na Ouvidoria e que estava na Corregedoria da PM na noite desta terça-feira (28) para também formalizar denúncia contra os agentes.

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que ele foi abordado após realizar uma manobra irregular de trânsito.

“Durante a abordagem, o homem desobedeceu ordens, ofendeu os policiais e resistiu à prisão. Ele foi contido e levado à delegacia. O veículo utilizado por ele possuía placas adulteradas”, afirmou a pasta da segurança.

A Polícia Militar respondeu que ele foi abordado “após o condutor, em tese, realizar manobra irregular e tentar fugir da fiscalização.”

Durante a vistoria, segundo a corporação, os policiais identificaram indícios de adulteração nas placas do veículo, que o motorista foi conduzido ao 3° DP para esclarecimentos, e que as placas foram apreendidas e encaminhadas à perícia.

Segundo a PM, foi instaurado um IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar as circunstâncias da

ocorrência, e os policiais envolvidos foram afastados do serviço operacional após análise prévia

das imagens das câmeras corporais.

“A Polícia Militar não justifica nem apoia desvios de conduta, adotando procedimentos e instruções diárias para prevenir casos semelhantes, sempre pautada na preservação da vida, dignidade da pessoa humana e respeito aos direitos humanos, reafirmando seu papel como polícia cidadã”, afirmou a corporação, em nota.