SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem vê os telejornais da Globo vai se deparar com rostos novos e outros nem tanto nos programas desta sexta-feira. Com a saída de William Bonner do Jornal Nacional, anunciada no mês passado, o canal dá início à dança das cadeiras entre os âncoras dos seus principais jornalísticos.
As mudanças começam no Hora 1, o primeiro jornal do dia, exibido bem cedo, às 4h. Apresentado por Roberto Kovalick há seis anos, o programa será entregue agora ao jornalista Tiago Scheuer, que passa a a comandar a atração na sexta.
Kovalick, por sua vez, vai começar a acordar mais tarde. Ele será o novo apresentador do Jornal Hoje, que passa na TV logo depois da hora do almoço, por volta de 13h25. Sai da bancada César Tralli, que, promovido, vai tomar o lugar de Bonner no Jornal Nacional. Essa última passagem de bastão, a mais simbólica das três, acontece na sexta, e Tralli assume o telejornal do horário nobre na próxima segunda.
O remelexo na programação da Globo, que por 29 anos manteve Bonner à frente do símbolo máximo de seu jornalismo, deve causar um misto de estranhamento e curiosidade nos telespectadores. Afinal, para além do “boa noite” que Bonner deixa de dar todos os dias, mudam também os “bons dias” e “boas tardes” de costume.
As alterações devem respingar no caráter de cada programa. Nas mãos de Tralli há quatro anos, o Jornal Hoje, por exemplo, ganhou uma abordagem mais opinativa em relação ao passado -o programa, nascido em 1971, já foi apresentado por Sandra Annenberg, Léo Batista e Pedro Bial.
Tralli ficou célebre pelos comentários críticos, cobrando atenção das autoridades –numa espécie de versão nacional do que já fazia no SPTV.
Kovalick diz que não vai emular o colega, mas que sabe da importância de se colar ao público. Boa parte da audiência do Jornal Hoje é formada por donas e donos de casa, geralmente pessoas mais velhas que não trabalham e têm tempo livre à tarde. “Na hora de apresentar, imagino que estou à mesa do almoço com aquelas pessoas para contar novidades”, diz Kovalick, que tem um perfil mais sóbrio e técnico do que Tralli.
“Carisma é uma coisa que a gente não controla, mas é preciso ser espontâneo. As pessoas têm que nos reconhecer como pessoas que sofrem e percebem a dor alheia.”
Aos 56 anos, Kovalick recebe agora seu maior cargo na Globo, mas, de certa forma, terá de volta um gostinho daquilo que fazia no começo da carreira. É que sem o peso de ter de comandar os bastidores do jornal -além de âncora, ele era editor-chefe do Hora 1–, Kovalick terá agora tempo para exercer as funções de um repórter.
Quando não estiver à frente das câmeras, então, o jornalista vai sacar o celular para fazer ligações aos contatos valiosos que ele acumulou ao longo dos mais de 30 anos na Globo -“pretendo trazer informações que eu sou capaz de apurar porque as pessoas gostam de falar com quem aparece na televisão”. No canal, Kovalick já foi correspondente em Tóquio, em Londres, e depois, no Brasil, virou repórter especial do Fantástico e do Jornal Nacional.
Tiago Scheuer, que assume o Hora 1, pegou dicas com Kovalick para se adaptar à rotina de dormir à tarde, embora ele próprio já tenha sido repórter da madrugada na Globo. O catarinense de 42 anos, que hoje trabalha no Bom Dia São Paulo, às 6h, vai agora entrar no ar duas horas mais cedo.
Scheuer chamou a atenção da alta cúpula da emissora por usar um tom leve e didático para apresentar a previsão do tempo no jornal local de Santa Catarina. Em 2011 foi levado à equipe paulistana da emissora, para fazer também a previsão do tempo, além de reportagens, no próprio Hora 1, criado em 2014.
Para além da TV, Scheuer usou as redes sociais para ampliar sua popularidade. Com quase 500 mil seguidores no Instagram, mais que o dobro de Kovalick, ele mostra bastidores dos jornais com vídeos engraçadinhos, ensina receitas de sobremesas e publica fotos das suas muitas viagens.
“As pessoas adoram descobrir como se faz o trabalho que veem pronto na TV. É importante se manter ‘cronicamente online'”, ele diz, citando um bordão criado na internet. “Assim você se conecta com o público também na tela que está nas mãos.”
A promoção de Scheuer, Kovalick e Tralli culminam neste que é um momento histórico para o jornalismo da Globo. Bonner não sai completamente de cena -ele vai apresentar o Globo Repórter com Sandra Annenberg às sextas-feiras.
É tempo de renovação, mas nem tanto, diz Kovalick. “Tenho 35 anos de jornalismo. Quando comecei, me diziam que estávamos vivendo um momento de transformação. Mas a gente ainda vive isso. O jornalismo profissional ainda é, e deve continuar sendo, um farol no meio da neblina.”




