SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um novo estudo publicado nesta quarta-feira (29) encontrou uma resposta das razões por que a vacina da gripe não desenvolve uma resposta imune tão boa em pessoas mais velhas como ocorre com jovens. Segundo os autores do artigo, isso ocorre por conta de mudanças naturais do organismo humano frente ao envelhecimento. Essas descobertas da pesquisa podem ser úteis para reverter tais alterações de forma a melhorar o efeito dos imunizantes.
A pesquisa, veiculada na revista Nature, incluiu inicialmente 300 participantes adultos, com idade entre 25 e 90 anos. Esses indivíduos passaram por sequenciamentos de RNA, técnica que permite examinar a expressão genética -nesse caso, com enfoque na atividade imunológica. Desse total, 96 foram acompanhados por dois anos, período em que foram vacinados contra a gripe.
Essa análise gerou um banco de dados com informações do sequenciamento de mais de 16 milhões de células. Esse material foi dividido em 71 subconjuntos, em que cada um se refere a um subtipo de célula do sistema imune.
Foi a partir desse montante de dados que os pesquisadores observaram por que o sistema imunológico perde sua capacidade com o envelhecimento, com enfoque no caso das vacinas. Cristina Bonorino, imunologista e professora titular da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), afirma que o tema já é antigo, com artigos sendo publicados sobre o assunto há cerca de 30 anos. A novidade do estudo recém-publicado foi utilizar técnicas modernas, continua a professora, que não participou da pesquisa.
Foi por meio dessas técnicas inovadoras que os autores do artigo observaram alterações que ocorrem nas células T com o avanço da idade. Essas células são importantes para o sistema imunológico por estruturar a resposta de outras células, como a do tipo B, frente a uma infecção. Mas os pesquisadores observaram que as células T apresentaram mudanças genéticas entre aqueles com cerca de 65 anos ou mais que prejudicam a capacidade de resposta destas células frente a patógenos. Isso, por consequência, também impacta a produção de anticorpos pelas células B. Os pesquisadores observaram que esse cenário também ocorre frente à vacinação.
Imunizantes contam com antígenos, substâncias que estimulam o sistema imune a produzir a resposta contra patógenos. É a partir desse reconhecimento dos antígenos que a imunidade é estabelecida. Mas a conclusão do estudo é que a mudança genética vista nas células T em pessoas mais velhas leva a uma deficiência no reconhecimento dos antígenos. Essa incapacidade representa um problema no fluxo de ações necessárias para gerar a resposta imune a partir de vacinas.
Os autores do estudo apontam que esse resultado mostra a importância de considerar a idade quando se pensa no desenvolvimento de vacinas. Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), defende uma posição parecida. Ele afirma que os efeitos do envelhecimento no sistema imunológico já são reconhecidos, colocando a população mais velha em uma posição de vulnerabilidade.
O mesmo vale para imunizantes. “As vacinas em geral têm performances reduzidas quando comparamos indivíduos jovens com idosos”, resume.
Kfouri aponta que esse cenário deveria impulsionar o desenvolvimento de vacinas com melhores desempenhos entre idosos. Algumas medidas até já existem. Os reforços com mais doses é um exemplo. Também existem vacinas com adjuvantes, substâncias que melhoram a resposta imune.
Outra possibilidade seria a reprogramação celular por tecnologias como Crispr, que permite fazer edições precisas no DNA. Em casos assim, seria possível alterar os mecanismos que levam ao pior desempenho do sistema imune em pessoas idosas. No entanto, o uso de tecnologias como essas ainda não são factíveis no momento atual -para o futuro, elas são promissoras.




