RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Ao decretar a prisão preventiva de suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas no complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, o juiz responsável pelo caso destacou que boa parte deles têm um “vasto histórico de infrações em sua vida pregressa”.

A decisão atendeu a pedido do Ministério Público estadual a partir de investigações policiais baseadas em interceptações telefônicas de membros do Comando Vermelho, que indicavam os papeis de cada um no grupo e até suas escalas de trabalho.

“É pueril imaginar que uma vida criminosa, como resta indiciado ser a dos acusados acima mencionados cessará como que por encanto. Não é isso que a realidade demonstra”, escreveu o juiz, após afirmar que parte dos acusados tem passagens na polícia por diversos crimes, incluindo condenações com trânsito em julgado.

A decisão determina a prisão preventiva de pessoas apontadas como membros de escalões mais altos na hierarquia da organização, incluindo Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso, e visto como principal liderança da facção naquela região.

Segundo interceptações telefônicas, é ele quem determina “sobre a dinâmica do tráfico de drogas no Complexo da Penha e comunidades adjacentes, inclusive sobre venda e guarda de drogas, armas de fogo de grosso calibre e contabilidade da facção criminosa”.

Ele teria três homens de confiança, segundo as investigações: Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, Carlos da Costa Neves, o Gardenal, e Washington Cesar Braga da Silva, também conhecido como Grandão ou Síndico.

Abaixo deles, um grupo de 15 homens são acusados de atuar como gerentes do tráfico, que comandariam as operações nas diferentes comunidades dominadas pelo grupo.

Um deles, Juan Breno Costa Ramos, o BMW, atuaria também como chefe de um grupo chamado “Grupo Sombra”, “integrado por matadores a serviço do Comando Vermelho, atuando na expansão territorial da facção criminosa pela região da grande Jacarepaguá”.

Ele é também acusado de tortura, junto com dois outros integrantes da quadrilha, Carlos da Costa Neves e Fagner Campos Marinho. Segundo o juiz, um vídeo recuperado com a quadrilha mostra um homem sendo arrastado por um carro e pedindo clemência a BMW.

O homem, diz a investigação, “cita o nome ‘BMW’ por diversas vezes, enquanto Juan Breno, vulgo ‘BMW’, faz piada do sofrimento alheio, debochando da vítima agonizante”.

Abaixo deles, 48 pessoas são citados como soldados do tráfico, que teriam a função de proteger as operações; e uma mulher é citada como “visão”, função de monitorar a área controlada pela organização.

“Com efeito, o risco de reiteração (no caso, mais precisamente, de persistência) delitiva é óbvio e inegável, e não fruto de mera especulação ou afirmações genéricas, máxime quando se observa que a conduta atribuída aos denunciados se protrai no tempo, encontrando-se a mesma em plena atividade”, diz o juiz.

Mesmo aqueles que não têm anotações prévias, completa, foram fotografados “em pontos de venda de drogas, portando armas de grosso calibre, rádio comunicador, dinheiro e material entorpecente, evidenciando que suas liberdades colocariam em risco à ordem pública”.

O juiz determina a prisão preventiva de 51 dos acusados. Para outros 17, determinou medidas cautelares diferentes da prisão.