BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, afirmou nesta quarta-feira (29) que as Forças Armadas americanas mataram quatro pessoas em mais um ataque a embarcação de supostos narcotraficantes no oceano Pacífico. O bombardeio teria ocorrido nesta quarta.

“Esta embarcação, como todas as outras, era conhecida por nossa inteligência por estar envolvida no contrabando ilícito de narcóticos, estava transitando por uma rota conhecida de narcotráfico e transportando drogas. Quatro narcoterroristas do sexo masculino estavam a bordo da embarcação -e foram mortos- durante o ataque, que foi conduzido em águas internacionais. Nenhuma força dos EUA foi ferida neste ataque”, publicou o secretário no X.

O bombardeio eleva a 15 o número de embarcações na região do oceano Pacífico e do Caribe atingidas pelas ações americanas desde o início de setembro. O número de mortos anunciado pelos EUA chega a 61.

Nos primeiros dias de setembro, o presidente americano, Donald Trump, anunciou um primeiro ataque do tipo. “Que isso sirva de aviso a qualquer um pensando em levar drogas aos EUA”, escreveu na ocasião, dizendo que o barco pertencia ao grupo criminoso venezuelano Tren de Arágua.

Além dos vídeos que acompanham os anúncios de novos ataques, todos com estrutura e estética semelhante, não há evidências apresentadas pelo governo Trump de que os barcos eram ligados a narcotraficantes ou tripulados por pessoas conectadas a facções.

A explicação para os bombardeios tampouco é clara, e não encontra base legal sólida no direito internacional. A Casa Branca, no entanto, classificou a maioria das grandes facções criminosas latino-americanas como terroristas, o que abre brechas para um tratamento diferenciado, sob o argumento de que os barcos representam ameaça direta aos EUA por levarem drogas para o território americano.

Governos da região não alinhados a Washington, especialistas internacionais e mesmo opositores nos EUA têm criticado os ataques, que começaram e são mais numerosos no Caribe, mas agora se expandem para o Pacífico. O último bombardeio anunciado havia ocorrido na terça-feira e teria matado 14 pessoas em 4 barcos.

As ações fazem parte de estratégia de pressão contra governos rivais na região, em particular a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela. O autocrata é acusado nos EUA de ter ligações com o narcotráfico, algo que ele nega, e a gestão Trump o considera chefe de um nebuloso cartel cuja existência é pouco respaldada por estudos sobre o tema.

O jogo de pressão não se resume aos ataques. Washington mobiliza há meses grande contingente militar, caças e navios de guerra no Caribe, poder de fogo muito maior do que o necessário para atacar as pequenas embarcações que tem sido alvo. Na semana que vem, o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, deve chegar à região.

Do lado de Caracas, Maduro alterna críticas de que Trump está “inventando uma guerra” a pedidos de “peace forever”, e anuncia supostas ações de desmantelamento de cartéis em seu território. Nesta quarta, o regime afirmou ter destruído acampamentos de grupos colombianos que atuam em território venezuelano. O anúncio usou inclusive o mesmo termo utilizado por Trump para se referir aos grupos atingidos, “narcoterroristas”.