SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de Donald Trump vai reduzir a presença militar no Leste Europeu, mas seu Exército nega que isso seja uma redução no comprometimento com defesa da região, o flanco mais exposto da aliança militar Otan à tensão com a Rússia.
A revelação foi feita nesta quarta-feira (29) pelo Ministério da Defesa da Romênia. A pasta disse que a redução começará por soldados que estão na base aérea Mihail Kogalniceanu, que fica no país vizinho à Ucrânia invadida pelos russos em 2022.
“A decisão americana é de parar a rotação na Europa de uma brigada que tinha elementos em diversos países da Otan”, disse a pasta, acerca da aliança militar do Ocidente. O grupo dos EUA em questão estava presente na Romênia, Bulgária, Hungria e Eslováquia.
O Exército americano não comentou o escopo da redução, apenas dizendo que ela é natural e faz parte de ajustes de rotina na distribuição de suas forças.
A medida foi informada pelo governo Trump aos romenos nesta semana, e sugere uma mudança do padrão adotado pelo clube militar desde 2014, quando Vladimir Putin anexou a Crimeia e disparou alarmes por toda a Europa.
Trump já disse diversas vezes que pretendia deixar a defesa das fronteiras europeias com os europeus, que são 30 dos 32 membros da Otan, para focar em conter a China no Indo-Pacífico.
Mas até agora nada havia sido feito na prática, como em seu primeiro mandato, quando sugeriu retirar tropas da Alemanha, onde está o maior contingente americano no continente, 48 mil militares. Ao mesmo tempo, em setembro Trump havia dito que poderia aumentar suas forças na Polônia, que já é a segunda maior base europeia dos EUA, com 14 mil soldados.
Na Romênia, a presença flutua de 1.700 a 2.100 militares em três bases, a principal delas a unidade aérea, que está sendo reformada para tornar-se a maior da Otan -a meros 180 km da fronteira da Ucrânia. Ao menos metade do contingente deve sair, estima Bucareste.
No ano passado, o governo de Joe Biden desafiou Putin ao deslocar grandes bombardeiros B-52 para operar na base, dentro de um esquema de rotação na Europa. Em resposta, os russos atacaram posições ucranianas junto à fronteira, e os aviões acabaram indo embora antes do previsto.
Além dos países citados pela Romênia, a Otan tem brigadas multinacionais também na Eslováquia, Estônia, Letônia e Lituânia, esse último um país que recebeu a maior base alemã no exterior desde a Segunda Guerra Mundial.
As recentes incursões de drones russos na Polônia, avistamento de aviões-robôs suspeitos em diversos países e invasão de espaço aéreo na Estônia e Lituânia por caças de Moscou, elevaram a tensão na região e fizeram a Otan criar uma operação de reforço contra essa ameaça específica.
Caças e ativos como baterias antiáereas foram deslocados, mas a verdade é que a aliança não está pronta para lidar com a intrusão de enxames de drones, por exemplo, o que tem gerado bastante debate acerca de suas capacidades defensivas no ambiente moderno de guerra.
A Otan apenas disse que está “em contato próximo” com os americanos acerca da medida, que não é nem inédita nem inusual. O ministro da Defesa romeno, Ionut Mosteanu, disse em entrevista c oletiva acreditar que a redução será compensada pelo reforço no envio de outras forças ao país.
Na Romênia, há ainda 4.000 soldados franceses, o triplo do que havia em 2024, e centenas de outros de membros de Otan. Não se espera a saída total dos EUA do país, já que na base de Devesul cerca de 250 soldados ajudam romenos a operar o sistema antimíssil Aegis Ashore, que desde 2016 visa proteger a Europa de ataques, ao lado de uma unidade similar na Polônia aberta ano passado.




