BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A taxa média de juros do consignado privado e as concessões de novos empréstimos na modalidade subiram em setembro na comparação com o mês anterior, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira (29).

Em setembro, foram emprestados aos trabalhadores com carteira assinada cerca de R$ 6,4 bilhões -alta de 5,5% em relação ao mês anterior, quando foram liberados R$ 6 bilhões.

No ano, o salto é de 134,4%. O crescimento ganhou tração nos últimos três meses, puxado pelos ajustes na nova linha do consignado para trabalhadores CLT lançada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no fim de março.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a implementação do novo consignado privado tem enfrentado obstáculos operacionais, críticas às taxas de juros praticadas e resistência de bancos que tentam protelar a migração dos contratos antigos diante do risco de perda de clientes.

No mês passado, a taxa média de juros cobrada no consignado privado atingiu 58,4%, elevação de 2,1 pontos percentuais com relação a agosto (56,3%). O patamar de setembro só é menor do que o pico registrado em abril, no primeiro mês completo de operação da nova linha, quando foi atingido o maior nível da série histórica do BC, iniciada em 2011.

Atualmente, os juros do novo consignado são maiores do que os praticados no modelo antigo de convênio, que ficava ao redor de 40%.

O resultado pode ser, em parte, explicado pelo perfil do tomador de crédito e da empresa onde ele trabalha. Segundo um estudo do próprio BC, o cliente médio do novo consignado é um trabalhador com menor instrução e renda, com menos tempo de vínculo com a empresa e que atua em companhias de menor porte.

Após uma primeira fase conturbada de implementação, o ritmo de empréstimos ganhou força e vem se consolidando. O estoque do consignado para trabalhadores do setor privado (antigos e novos contratos) chegou a aproximadamente R$ 59,5 bilhões em setembro. Até fevereiro, último mês antes da criação do novo modelo, o saldo era da ordem de R$ 41 bilhões.

Segundo cálculos da equipe econômica, se mantiver o mesmo ritmo de concessão nos próximos meses, a modalidade pode injetar mais R$ 20 bilhões na economia até o fim deste ano.

No governo Lula, a avaliação é que o programa tem trazido uma mudança estrutural ao mercado, oferecendo crédito mais seguro e barato aos trabalhadores.

O chefe-adjunto do departamento de Estatísticas do BC, Renato Baldini, ressaltou que a linha voltada ao trabalhador CLT “continua sendo a com maior dinamismo entre as classificações do crédito consignado.”

Com relação aos juros praticados na modalidade, o técnico do BC avalia que as instituições financeiras “estão em processo de se situar em relação a esse mercado, às condições institucionais dessas operações e ao perfil de risco dos tomadores de crédito.”

Ele também disse esperar queda nos juros quando o uso da garantia do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) estiver plenamente operacional. As regras da linha de crédito preveem o uso de até 10% do saldo no FGTS do trabalhador como garantia de pagamento, além de 100% da multa rescisória em caso de demissão sem justa causa (equivalente a 40% do valor do saldo).

A inadimplência do consignado privado vem caindo desde que a nova linha ao trabalhador foi lançada. Em setembro, ficou em 5% -recuo de 0,2 ponto percentual em relação ao mês anterior. Os dados do BC mostram também que, no ano, a redução foi de 2,2 pontos percentuais.

NOVA ESTATÍSTICA

O Banco Central lançou nesta quarta um novo conjunto de estatísticas por atividade econômica, englobando 22 setores e transações entre pessoas físicas. Neste primeiro momento, os dados consideram apenas os fluxos de pagamento efetuados com Pix.

Em setembro, o volume financeiro foi de R$ 1,7 trilhão -o maior valor da série iniciada em novembro de 2020. Em termos de quantidade, o máximo foi registrado em agosto, com 5,5 bilhões de transações.

No mês passado, em relação ao mesmo período do ano anterior, os pagamentos para atividades de “comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas”, efetuados por pessoas físicas, cresceram 26,5% em valores e subiram 38,2% no número de transações.

De acordo com Baldini, a autoridade monetária pretende ampliar essa estatística ao longo do próximo ano, incluindo fluxos de outros meios de pagamento, como cartões de débito e crédito, boleto bancário, cheque, TED (Transferência Eletrônica Disponível) e transferências interbancárias. “O objetivo é cobrir a totalidade dos instrumentos disponíveis para pagamentos”, afirmou.