SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma intoxicação medicamentosa, quadro que levou o cantor Lô Borges à internação, pode acontecer por erro de prescrição médica, uso inadequado ou automedicação. Especialistas afirmam que o tratamento depende do remédio e da dose ingerida.
“A intoxicação medicamentosa não é rara e pode ocorrer por erro de prescrição, uso inadequado ou até mesmo com doses corretas em pacientes sensíveis”, diz o toxicologista Alvaro Pulchinelli, do Grupo Fleury.
Borges está internado na UTI de um hospital em Belo Horizonte há 11 dias em estado grave e sem previsão de alta. A assessoria de imprensa não divulgou a causa da intoxicação nem o nome do hospital. Fundador e principal representante do Clube da Esquina, o artista passou por uma traqueostomia no fim de semana e agora precisa de ventilação mecânica.
A traqueostomia cria um buraco na traqueia para que o ar entre diretamente nos pulmões, sem passar pelo nariz, boca e garganta. É um procedimento usado para ventilação mecânica ou quando há obstrução das vias respiratórias.
Pulchinelli explica que qualquer medicamento pode causar intoxicação. Apesar de alguns apresentarem maior chance de efeitos colaterais, o perigo está na forma como são utilizados.
“Isso não significa que não devemos tomar medicamentos, mas que precisamos usá-los com racionalidade, de forma ponderada e com prescrição. Mesmo os de venda livre devem ser usados com cuidado e bom senso”, diz.
Quadros inicialmente leves podem evoluir rapidamente, por isso uma avaliação médica é essencial. “Algumas intoxicações começam com sintomas leves e evoluem de maneira catastrófica. Pode haver risco de morte, especialmente se o tratamento for tardio”, alerta o especialista.
Alguns fatores aumentam o risco de intoxicação, como o uso de medicamentos guardados em casa sem prescrição, doenças psiquiátricas e idosos que utilizam múltiplos remédios, o que pode gerar interações tóxicas. Pacientes com doenças renais ou hepáticas que exigem doses ajustadas também estão mais vulneráveis.
Os efeitos da intoxicação variam conforme o medicamento e a dose ingerida. Remédios que atuam no sistema nervoso central, como benzodiazepínicos e antidepressivos, podem causar sonolência, confusão, depressão respiratória e outros riscos neurológicos, segundo Letícia Jacome, clínica médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Jacome cita também que analgésicos e anti-inflamatórios, como o paracetamol, podem afetar o fígado, com hepatite ou falência, enquanto o excesso de vitamina D pode levar à insuficiência renal. Opioides, como a morfina, apresentam risco de depressão respiratória.
O acompanhante tem papel fundamental nesses casos, pois ele deve informar quais medicamentos o paciente usava, se havia cartelas ou frascos vazios, se a pessoa tinha alguma doença mental ou se estava exposta a produtos químicos. Essas informações ajudam o médico a montar o quadro e identificar a substância envolvida.
Pulchinelli alerta que os pacientes não devem provocar vômito nem tentar tratamento caseiro. O tratamento precisa ser feito em ambiente hospitalar, com suporte clínico e equipe preparada. Nem todo medicamento tem antídoto, e o uso depende do tipo de substância e da gravidade do quadro.
O tratamento costuma envolver suporte clínico geral, voltado à manutenção das funções vitais, e o uso de antídotos específicos, quando disponíveis. Em casos de depressão respiratória, o paciente pode precisar de intubação ou traqueostomia para garantir a ventilação.
A maioria dos antídotos, como os usados para intoxicação por opioides e paracetamol, está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde), mas a escolha depende do medicamento, da dose e do estado clínico do paciente. As unidades de saúde também podem solicitar apoio dos Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica).
Jacome também lembra que embora possam ser confundidos, alergia e intoxicação medicamentosa são quadros distintos. Enquanto o primeiro é uma reação do sistema imunológico e pode causar choque anafilático, com fechamento da garganta, falta de ar e queda de pressão, o segundo é um efeito tóxico direto da substância no corpo.
“Ambos podem ser graves e sistêmicos, mas têm causas distintas”, acrescenta Pulchinelli.




