PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, reconheceu que o problema do crime organizado é um grande desafio para o Brasil, e não é exclusivo do Rio de Janeiro, palco de uma operação policial que matou mais de 60 pessoas na terça-feira (28). O diplomata destacou que o crime também afeta a região amazônica, onde a cúpula será realizada daqui a duas semanas.

No Rio de Janeiro, também haverá eventos prévios à cúpula do clima da ONU a partir da próxima segunda (3), como o Fórum de Líderes Locais e a entrega do prêmio ambiental Earthshot, da fundação do príncipe William, do Reino Unido.

“A questão do crime organizado no Brasil se transformou num tema gravíssimo. O presidente Lula está muito consciente disso e eu acredito que o governo federal está muito empenhado em contribuir para combater. E a questão do crime organizado no Rio é uma coisa especial, lógico, mas existe também a questão do crime organizado na Amazônia, nós sabemos que é um desafio enorme”, afirmou nesta quarta (29) em Paris, onde cumpre agenda de eventos relacionados à preparação da COP.

Ele disse acreditar, porém, que os acontecimentos no Rio não prejudicarão a imagem do Brasil às vésperas da COP, porque, segundo ele, “uma das grandes forças do Brasil é sempre ser transparente” em relação à dimensão do problema do crime organizado.

Corrêa do Lago participou de um encontro do “círculo de ex-presidentes de COP” no Fórum de Paris pela Paz, evento anual que reúne governos e sociedade civil de centenas de países para discutir soluções para os conflitos mundiais.

Segundo ele, os ex-presidentes comentaram que nunca a COP foi realizada em uma conjuntura política internacional tão complicada.

“Todo presidente de COP acha que está enfrentando um contexto político mais difícil, mas todos reconhecem que, provavelmente, Belém vai ter o contexto internacional mais complexo de todos”, afirmou. “É um desafio adicional, mas também mostra o quanto é importante a gente lutar para que a COP de Belém tenha resultados significativos.”

O diplomata brasileiro ressalvou, porém, que “não podemos deixar esse espírito de desânimo, porque ele é irracional”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que o Brasil realize uma investigação imediata e a garanta que qualquer ação policial siga as normas e o direito internacional dos direitos humanos. A COP30 é a conferência da ONU para o clima e terá a presença de Guterres, no próximo mês.

“Posso afirmar que o secretário-geral está profundamente preocupado com o grande número de vítimas durante uma operação policial realizada ontem nas favelas do Rio de Janeiro”, disse o porta-voz Stephane Dujarric.

Em declarações à Reuters, João Paulo de Resende, subsecretário de Assuntos Econômicos e Fiscais do Ministério da Fazenda, afirmou que os eventos da COP30 seriam seguros para as dezenas de milhares de pessoas esperadas de todo o mundo.

“Eu diria que é algo muito localizado; não tem nada a ver com a agenda climática ou com a própria COP”, disse.

“O que aconteceu ontem é muito incomum, até mesmo para os padrões brasileiros. Não é algo que provavelmente veremos se repetir nas próximas semanas ou meses.”

Durante o fórum parisiense do qual participou Corrêa do Lago, foi anunciado que até o próximo dia 4, uma semana antes da COP, a Comissão Europeia deve aprovar suas NDCs (sigla em inglês para “contribuições determinadas nacionalmente”), as metas para redução das mudanças climáticas. Entre essas metas, estaria a redução em 90% das emissões de gases de efeito-estufa até 2040.

“Hoje a gente teve essa boa notícia”, disse Corrêa do Lago. “A Europa deve entregar, mas nós ainda temos vários países que têm emissões importantes e que são atores muito importantes na COP que também não entregaram”, admitiu o embaixador. O prazo inicial para a entrega das NDCs era fevereiro e posteriormente passou para setembro. Mesmo assim mais de cem países não o cumpriram.

“É um elemento complicador, não há a menor dúvida, sobretudo porque nós acabamos não tendo na COP os números que nós gostaríamos de ter para mostrar quais seriam os próximos passos”, acrescentou o presidente da COP.

Durante o fórum, o embaixador Celso Amorim, assessor especial da presidência da República, disse que “ainda temos que ouvir da Europa, até agora só temos suposições”.