RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, afirmou nesta quarta-feira (29) que, na ausência de perícia, as autoridades utilizam “todo o contexto” para afirmar que os 115 civis mortos eram envolvidos com o tráfico de drogas nos complexos do Alemão e da Penha na operação de terça-feira (28).

Segundo Santos, o governo se baseia em informações como o horário em que ocorreram as mortes, os locais onde as pessoas estavam e as roupas que elas usavam para chegar a essa conclusão. No total, foram 119 mortos, sendo quatro policiais.

“Há base para dizer que os 115 mortos são criminosos. Claro que a gente vai fazer a pesquisa, mas não é um fato se, eventualmente, algum deles não tiver antecedentes criminais, se tornar vítima ou inocente. A história do Rio de Janeiro já mostrou que criminosos, apesar de vasta vida criminosa, não tem antecedentes”, disse Santos.

“A gente não consegue imaginar um inocente utilizando um colete balístico, mesmo se não tiver com arma naquele momento. A gente não consegue imaginar um inocente usando um uniforme camuflado”, completou ele.

O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirma que o total é divulgado conforme os corpos chegam ao Instituto Médico-Legal.

Ainda com a contagem em curso, e longe de identificar quem são todos os mortos, Santos e Curi reforçaram mais de uma vez que se tratava de “narcoterroristas”, “criminosos” e “marginais” e atribuíram a classificação a diferentes elementos.

Todas as ações se concentraram na Serra da Misericórdia, devido a uma estratégia chamada de “muro do Bope”: um cordão de policiais se posicionou entre uma área de mata e uma em que há casas e outras habitações, enquanto outro entrou na floresta. Com isso, segundo essa versão da polícia, as pessoas que trocavam tiros com os agentes ficaram encurraladas, sem conseguirem sair do local delimitado.

“A gente diminui a chance de ter algum inocente ou trabalhador na área de mata, até por conta do horário [5h30, 6h]. Dificilmente quem trabalha vai estar numa floresta, numa mata fechada, a não ser para prestar serviço à organização criminosa que domina aquele território”, disse Santos.

Durante a madrugada e ao longo da manhã desta quarta, moradores ainda retiravam corpos da mata.

O secretário disse que esse trabalho de retirada não foi feito pelos policiais porque eles não sabiam que ainda havia corpos em área de mata e para não colocar os peritos em risco.

O secretário de Polícia Civil, criticou a retirada dos corpos do local, as condições em que foram feitas e como foram dispostos.

“Eles estavam paramentados com roupas camufladas, com colete balístico. Depois apareceram [na praça] vários deles de short, cueca, descalço”, disse. Curi afirmou que aqueles que tiraram os corpos da mata poderão ser alvos de inquérito policial por fraude processual.

A Folha de S.Paulo acompanhou a remoção dos corpos da mata desde às 6h da manhã desta quarta. Moradores retiraram as roupas de alguns cadáveres para que a identificação fosse possível por intermédio de tatuagens e cicatrizes. Os que já haviam sido reconhecidos por familiares não tiveram o fardamento retirado.

O ativista Raull Santiago, morador do Complexo do Alemão, explicou na manhã desta quarta que as famílias optaram por tirar todas as roupas dos corpos encontrados para ajudar na identificação das dezenas de corpos encontrados.